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Winnie Mandela

Polêmica e carismática: morre na África do Sul Winnie Mandela, símbolo da luta contra apartheid

Winnie Mandela, ex-esposa do primeiro presidente sul-africano negro, Nelson Mandela, morreu nesta segunda-feira (2) aos 81 anos em decorrência "de uma longa doença". Apesar das controvérsias que marcaram os últimos anos de sua trajetória no país, sua morte suscitou homenagens à "mãe da nação".

Winnie Mandela em dezembro de 2017, durante a 54ª Conferência Nacional do ANC em Joanesburgo.
Winnie Mandela em dezembro de 2017, durante a 54ª Conferência Nacional do ANC em Joanesburgo. REUTERS/Siphiwe Sibeko
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"É com grande tristeza que informamos que Winnie Madikizela Mandela faleceu no hospital Milkpark de Joanesburgo na segunda-feira, cercada de sua família", declarou seu porta-voz, Victor Dlamini, em um comunicado. Ela "foi uma das mais importantes figuras da luta contra o apartheid, brigou valentemente conta o regime e sacrificou sua vida pela liberdade da África do Sul", ressaltou ainda o documento oficial.

O partido Congresso Nacional Africano (ANC, no poder), na linha de frente da luta contra o regime segregacionista, homenageou uma mulher que "simbolizava a força, a resistência e uma apaixonada eterna da liberdade". "Ela lutou sem descanso para que tivéssemos uma sociedade justa e igualitária. Dedicou sua vida ao povo africano", afirmou.

O ex-arcebispo anglicano e prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu destacou o papel de Winnie Mandela como “um grande símbolo da luta contra o regime racista do apartheid”. "Ela se negou a ceder ante a prisão do marido, a perseguição contínua a sua família por parte das forças de segurança, as prisões, as proibições", pontuou Tutu. "Sua atitude de desafio me inspirou profundamente, assim como gerações de lutadores", acrescentou o Prêmio Nobel da Paz em um comunicado.

Carismática e polêmica

O percurso de Nomzamo Winifred Madikizela Zanyiwe, conhecida como "Winnie", é indissociável do primeiro presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, com quem foi casada por 38 anos, incluindo os 27 que ele esteve na cadeia.

Nascida em 26 de setembro de 1936, na província de Cabo Oriental (sul), de onde Nelson Mandela também é natural, obteve diploma universitário em Serviço Social, uma exceção para uma mulher negra na época. Seu casamento em junho de 1958 com Mandela - ela com 21 anos e ele, divorciado e pai, com quase 40 - foi rapidamente perturbado pelo engajamento político de seu marido.

A jovem assistente social foi, então, alvo de intimidações e pressões. Viu-se presa, forçada a ficar em casa, banida em um vilarejo distante do mundo, onde sua casa foi alvo de dois ataques a bomba. Logo depois do casamento, Nelson Mandela passou à clandestinidade. Deixada sozinha com suas filhas após sua prisão em agosto de 1962, Winnie manteve viva a chama da luta contra o regime racista branco.

Quando Mandela deixou a prisão em 1990, a "mãe da nação" caminhou de mãos dadas com seu marido. O casal foi recebido por dezenas de milhares de partidários. Com a abolição das leis do apartheid e, em 1994, a eleição de Nelson Mandela, o primeiro pleito democrático no país, sua esposa entrou para o governo. Nomeada vice-ministra da Cultura, acabou demitida por insubordinação um ano depois.

Trajetória política controversa

Durante os anos de prisão de seu marido, Winnie se cercou de um grupo de jovens, formando sua própria guarda, o "Mandela United Football Club" (MUFC), com métodos particularmente brutais na luta contra o apartheid.

Em 1991, ela foi considerada culpada de cumplicidade no sequestro do jovem ativista Stompie Seipei. Winnie foi condenada a seis anos de prisão, uma sentença mais tarde comutada para uma multa simples. Seu discurso violento e as acusações de assassinato a afastaram do marido, e o casal se divorciou em 1996.

Em sua morte, em 2013, Nelson Mandela, que havia se casado com Graça Machel, não lhe deixou nada. Furiosa, Winnie iniciou uma batalha judicial para recuperar a casa da família em Qunu (sul do país). Recentemente, a Justiça rejeitou seus pedidos.

Uma de suas últimas aparições públicas foi na última conferência do ANC em dezembro em Joanesburgo, onde foi recebida com aplausos. Poucas semanas depois, foi hospitalizada com uma infecção renal e fadiga. Dez dias depois recebeu alta, antes de voltar a ser internada no último fim de semana.

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