Acessar o conteúdo principal
eleições/nigéria

Recheada de fake news, eleição na Nigéria pode ser adiada no último minuto

Os nigerianos ficaram decepcionados após o adiamento das eleições presidenciais e legislativas no último sábado (16) pela Comissão Eleitoral. O órgão nigeriano se declarou preocupado com “problemas logísticos”. Desconfiados, os eleitores duvidam agora até o último minuto da realização do pleito deste sábado (23), com diversos candidatos convocando manifestações. Eleitores que, como em 2015, trazem consigo fortes expectativas para as urnas, especialmente aqueles que moram em áreas rurais.

O presidente em fim de mandato, Muhammadu Buhari, teve que desmentir pessoalmente a fake news que dizia que ele era um "clone".
O presidente em fim de mandato, Muhammadu Buhari, teve que desmentir pessoalmente a fake news que dizia que ele era um "clone". REUTERS/Luc Gnago
Publicidade

Por Bineta Diagne

A comunidade rural de Epe, a 65 quilômetros a leste de Lagos, é uma pequena aldeia movimentada, com suas casas inacabadas de tijolos conectadas a enormes caixas d’água de plástico preto, muitas vezes completamente secos. Nesta comunidade rural, poucas casas têm acesso à água limpa.

Favour, uma moradora do local, administra um restaurante à beira da estrada. O abastecimento de água é um desafio semanal: "Compro 1.000 litros de água por 1.000 nairas uma vez por semana. Mas isso não é suficiente. Muitas vezes, meu estoque acaba depois de alguns dias”, revela.

Completamente desanimada, esta mãe de família diz que não se esforçou para renovar o seu título de eleitor porque tem outras preocupações em mente. Ele precisa, todos os dias, alimentar seu gerador, já que a aldeia não tem acesso à eletricidade.

Cansaço

O mesmo cansaço é demonstrado por Patrick, um jovem de 26 anos de idade: "Tenho que pegar uma motocicleta para ir até a próxima aldeia tarde da noite. Depois, ter a sorte de encontrar combustível. É uma perda de tempo", diz.

Em tal contexto, os moradores se sentem tentados pelo dinheiro que alguns candidatos distribuem em troca de votos. Patrick não acredita mais nas promessas de políticos que nunca conseguiram suprir as necessidades básicas de sua aldeia.

"As pessoas roubam dinheiro dos projetos", diz ele. “Votamos e o país não avança. As estradas ainda são ruins. Sempre que os políticos vêm, eles prometem melhorar nossa vida diária. E assim que as eleições terminam, não vemos nenhuma mudança", afirma.

Os dois principais candidatos multiplicam ações para a mobilização desses eleitores, que demonstram total desinteresse no pleito.

A luta contra a corrupção foi um dos temas mais abordados pelos candidatos presidenciais no sábado (21). Longe das promessas de campanha, os cidadãos têm estado envolvidos na transparência de projetos em nível local para evitar que o dinheiro público, destinado a melhorar as vidas dos nigerianos, se evapore sem explicação.

Fake news

A campanha eleitoral na Nigéria, que terminou à meia-noite de 21 de fevereiro, foi recheada de fake news, cada uma mais elaborada que a outra. Desde o início da campanha, muitos políticos tiveram que desmentir informações falsas circulando nas redes sociais. Nesta quinta-feira (21), foi a vez do vice-presidente Yemi Osinbajo, alvo de um rumor de renúncia.

"Existe uma contrapropaganda deliberada. Há informação de que eu renunciei. E está em toda parte, sob o pretexto de que eu não estava presente na reunião sobre segurança. Eu estava no meu escritório!”, relata Osinbajo.

Trata-se do último episódio de uma campanha eleitoral marcada pelo fenômeno. Outra fake news surgida no período afirmava que o presidente em fim de mandato, Muhammadu Buhari, havia sido substituído por um clone. Ou ainda, o vídeo falso mostrando o adversário Abubakar trocando um aperto de mão com Donald Trump, antes mesmo que ele pusesse os pés nos Estados Unidos, em janeiro. Nos últimos dias, imagens de cédulas de votos de outras eleições foram apresentadas como atuais.

As fake news poderiam se tornar uma nova ferramenta de propaganda para a classe política na Nigéria? David Ajikobi, editor-chefe do escritório nigeriano da Africa Check, está convencido disso. "O que estamos vendo agora é sem precedentes. Notícias falsas são parte integrante das estratégias políticas e de propaganda. E não é como se houvesse um partido mais culpado do que outro, não, fake news existem em ambos os lados, em todo o espectro político", observa.

Twitter, Facebook e WhatsApp estão empenhados em reforçar os controles das mensagens postadas nas redes sociais nigerianas. No entanto, os observadores temem uma disseminação de resultados falsos após a eleição, o que poderia levar à violência.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.