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Protestos e prisões marcam dia da independência na Argélia

Apesar do calor intenso e de um grande aparato de segurança, uma multidão marcha pelas ruas da capital Argel, nesta sexta-feira (5), para protestar contra o poder na Argélia. O país enfrenta a 20ª semana seguida de manifestações, que se juntam às celebrações do 57º aniversário da guerra da independência.

Manifestantes saem às ruas de Alger, capital da Argélia, para pedir libertação de presos. Em 5 de julho de 2019.
Manifestantes saem às ruas de Alger, capital da Argélia, para pedir libertação de presos. Em 5 de julho de 2019. RYAD KRAMDI / AFP
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Ao som de hinos à glória de seus mártires, os argelinos responderam ao chamado para fazer desta data "a realização da libertação do homem”, depois da libertação da pátria do poder colonial francês.

Gritando "partam, liberem a Argélia", os manifestantes forçaram um cordão de policiais equipados com capacetes e escudos. Testemunhas relataram pelo menos uma dúzia de prisões.

Os protestos voltam a atacar o general Ahmed Gaïd Salah, chefe do Estado-Maior do Exército, que detém o poder desde a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika, em 2 de abril.

"Gaïd Salah saia", pedem os manifestantes. "O povo e o Exército são irmãos, mas Gaïd Salah está com os traidores", gritavam.  

O centro de Argel está repleto de pessoas desde o fim da oração muçulmana semanal. O encontro massivo havia sido convocado pelo advogado e defensor de direitos humanos, Mustapha Bouchachi, pelo diplomata e ex-ministro, Abdelaziz Rahabi, e outras personalidades.

Novas eleições

Desde a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika, que deixou o cargo sob pressão das ruas e do Exército, os manifestantes se recusam a aceitar que o gabinete colocado em seu lugar organize as eleições presidenciais e exigem a demissão de todos os antigos apoiadores do ex-presidente, que permaneceu quase 20 anos no poder.

Na quarta-feira (3), o presidente interino, Abdelkader Bensalah, propôs a criação de um fórum de diálogo para organizar o pleito presidencial e prometeu que o Estado e o Exército não se envolveriam.

Manutenção do sistema

Os argelinos que saíram às ruas denunciam que o grupo atualmente no poder deseja perpetuar sua influência. “Eles estão reformulando as mesmas propostas Seu único objetivo é manter o sistema como está, então não há diálogo nessas condições", disse Linda Hamrouche, de 28 anos, que protestava na capital.

A eleição presidencial inicialmente marcada para 4 de julho foi rejeitada pelos manifestantes e cancelada por falta de candidatos. O período de transição de 90 dias previsto constitucionalmente expira em 9 de julho. No entanto, Bensalah já disse que permanecerá no cargo até que um novo presidente seja eleito.

De acordo com o site independente Tout sur l'Algerie (Tudo sobre a Argélia), o novo apelo para a organização de eleições corre o risco de ser rejeitado "se as autoridades não se apressarem em anunciar medidas concretas de apaziguamento".

Partidos da oposição, sociedade civil e observadores internacionais aguardam para ver como esta proposta irá se materializar, pois nenhum nome foi apresentado para o diálogo.

Ali, de 47 anos, que também saiu às ruas nessa sexta-feira, pretende protestar "até a eleição de um presidente legítimo".

Fim de semana de debates

Um "Fórum Nacional para o Diálogo" está previsto para este sábado (6). Partidos políticos, representantes da sociedade civil e personalidades devem participar da reunião.

“Esta iniciativa visa colocar em prática mecanismos para sair da crise e planejar, dentro de um prazo razoável, a organização de eleições presidenciais”, disse o ex-ministro Rahabi.

Outra reivindicação dos manifestantes é o fim das prisões, denunciadas pela Anistia Internacional.

Dezenas de pessoas participaram da manifestação vestindo camisetas em que se lia "libertem Bouregaâ", em referência ao famoso veterano da Guerra Revolucionária e opositor, preso no último domingo (30). "Quando colocam um herói de guerra na prisão, alguns dias antes do aniversário da independência, quer dizer que não há mais nada a esperar deste poder", disse Lila Bouregaâ, sobrinha do veterano.

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