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Ciência e Tecnologia

Pesquisadores encontram agrotóxico cancerígeno em absorventes

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Na Argentina, um grupo de químicos da Universidade de La Plata (UNLP), especializados em estudar os efeitos do agrotóxico glifosato no meio ambiente descobriu a presença da substância no algodão e, consequentemente, em cotonetes, gazes esterilizadas e até em absorventes íntimos. A polêmica substância, carro-chefe da multinacional Monsanto, foi classificada como “potencialmente cancerígena" pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no começo de 2015.

Reprodução/Facebook
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A descoberta foi acidental. De acordo com o professor da UNLP e diretor do estudo Damian Marino, uma pesquisa levou à outra: “Nosso laboratório estuda a presença do glifosato no meio ambiente há mais de 15 anos”, conta. “Estavamos medindo sua presença no ar e utilizávamos a gaze de algodão como mostruário. Quando fomos preparar o material, descobrimos que a gaze que estávamos usando tinha glifosato”.

A pesquisa, que foi apresentada neste mês no Terceiro Congresso Nacional de Médicos de Povoados Fumigados, na Universidade de Buenos Aires, encontrou o produto da Monsanto em 100% do algodão e da gaze esterilizada vendidos na Argentina. O pesticida também foi encontrado em 85% dos absorventes femininos.

A culpa é dos transgênicos

Para Marino, o problema não está só na Argentina: “a hipótese mais sólida que temos é de que esse fenômeno se deve, na verdade, ao tipo de algodão: a Argentina e, acredito que boa parte da América Latina, está focada no cultivo do algodão transgênico, resistente ao glifosato, que é parte do coquetel químico que hoje sustenta a produção”.

A ideia dos pesquisadores argentinos é ampliar o estudo ao lado de profissionais da saúde, agrônomos e representantes do Estado. “Quanto aos pesticidas, tudo que for feito será pouco”, alerta. “Há muitos compostos que estão chegando no mercado e ainda nem estão regulados. (...) A tecnologia vai muito mais rápido que a capacidade do governo.”

Assim sendo, é preciso vontade política para combater o avanço e a agressividade do mercado de agrotóxicos. Para Marino, essa não será prioridade nem do candidato socialista Daniel Scioli nem do conservador Mauricio Macri, que disputam a presidência da Argentina: “Os dois candidatos falam de aumentar a produção e de favorecer ‘novas tecnologias produtivas’. Ninguém tem feito uma crítica sobre as conseqüências à saúde ou ao meio ambiente que esse modelo produtivo pode trazer”.

A grama do vizinho

Se a grama do vizinho Brasil é mais verde também é por conta dos agrotóxicos, e de muitos agrotóxicos. De acordo com a professora Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, o glifosato é o agrotóxico mais aplicado no Brasil. “Ele é utilizado em jardins públicos em muitas cidades brasileiras para conter o mato”, conta.

Para a professora, o estudo argentino não surpreende quem está por dentro do assunto, mas chama atenção para o perigo que representam os pesticidas. Afinal, eles podem estar mais presentes no nosso dia-a-dia do que se pode imaginar. O algodão, por exemplo, é o quarto cultivo que mais consome agrotóxicos no país. “Quando você fala em algodão, isso não parece estar tão próximo do cotidiano, mas está”, aponta Bombardi.

A lei brasileira de agrotóxicos, de 1989, afirma que se a comunidade científica tem informações de que o ingrediente ativo causa danos à saúde, ele deve ser reavaliado. Apesar da massa de informação fornecida pelos pesquisadores e pelos organismos internacionais, avaliações desse tipo são, ainda hoje, muito lentas. Para Larissa Bombardi, no caso brasileiro, em grande parte, pelo “peso que o agronegócio tem na economia brasileira”.

 

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