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Entenda impasse político no Haiti, a 2 dias da eleição presidencial

O segundo turno da eleição presidencial no Haiti será realizado neste domingo (24). O presidente haitiano, Michel Martelly, e seu primeiro-ministro, Evans Paul, confirmaram a informação nesta sexta-feira (22) e excluíram um novo adiamento da votação, apesar da recusa da oposição de participar do processo, das ameaças de violência durante a eleição e das preocupações da comunidade internacional. Há meses o país está mergulhado em um grave impasse político.

Cartazes espalhados pela capital Porto Príncipe exibem o rosto do candidato apoiado pelo governo do Haiti, Jovenel Moise.
Cartazes espalhados pela capital Porto Príncipe exibem o rosto do candidato apoiado pelo governo do Haiti, Jovenel Moise. REUTERS/Andres Martinez Casares
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Em dois dias, os haitianos, ou uma parte deles, devem ir às urnas eleger seu novo representante. O candidato da oposição, Jude Célestin, classificou o segundo turno como "uma farsa" e garantiu que não participará do escrutínio.

A realização das eleições revolta boa parte da população. Na terça-feira (19), milhares de haitianos protestaram em Porto Príncipe, queimando pneus e levantando barricadas nas ruas do centro da capital. Eles denunciam um "golpe de Estado eleitoral" em favor do candidato apoiado pelo governo, Jovenel Moise.

O primeiro turno da eleição presidencial teve a participação de apenas 26% dos eleitores, um claro sinal do abismo entre a classe política e a população, mergulhada na extrema pobreza.

Denúncias de fraude no primeiro turno

No primeiro turno das eleições presidenciais, realizadas no dia 25 de outubro, Moise recebeu 32,76% dos votos, contra 25,29% de Jude Célestin. Após a divulgação dos resultados e diversas denúncias de fraude, Célestin se negou a fazer campanha e a participar do segundo turno.

"No dia 24 não, não participarei desta farsa, não será uma eleição (...), haverá apenas um candidato", declarou Celestin. A oposição também exige a anulação do processo eleitoral e a formação de um governo de transição.

De fato, o Conselho Eleitoral Provisório (CEP) admitiu que a maioria dos funcionários das mesas eleitorais não estava capacitada para a tarefa e garantiu um treinamento melhor para o segundo turno. Inicialmente previsto para 27 de dezembro, o segundo turno foi remarcado para 24 de janeiro, após uma avaliação de uma comissão independente que divulgou um relatório no qual afirma que as eleições foram "manchadas por irregularidades".

Martelly alfineta oposição em discurso

"Desde que assumi o cargo em 2011, sempre disse que sairia em 7 de fevereiro de 2016", garantiu Martelly em um discurso à nação na noite de quinta-feira (21). "Por isso queremos que o 24 de janeiro seja respeitado. As eleições devem acontecer e acontecerão com ordem e disciplina", completou o presidente que é impedido pela Constituição do país de disputar um segundo mandato consecutivo.

Martelly não deixou de alfinetar a oposição durante o pronunciamento. Para ele, a revolta dos rivais mostra como eles pretendem dirigir o país. "Eles decidiram semear o terror em Porto Príncipe, queimando pneus, quebrando janelas de carros. Eles assustam as pessoas", declarou, criticando as manifestações do início da semana.

Um pouco antes, em um programa de rádio, o presidente já havia atacado o candidato opositor. "Como não há ninguém na oposição que possa ganhar a eleição, eles conseguiram instaurar essa ideia de manipulação", disse.

Impasse político e caos devem continuar

Analistas políticos estão céticos quanto a uma saída à crise no Haiti. Para Marcel Dorigny, especialista em história colonial e membro do comitê de reflexão e propostas para relações franco-haitianas, as eleições devem ser realizadas dentro do caos no domingo.

"É arriscado de manter a realização do segundo turno, mas também é arriscado anulá-lo. Acredito que o Haiti está mergulhado em um verdadeiro impasse. O que vai acontecer? É muito provável que grande parte da população recuse o resultado. Uma eleição com um só candidato é algo inédito", avalia.

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