Entenda as primárias e as eleições presidenciais americanas
Primárias, cáucus, delegados, super Tuesday… Os Estados Unidos se preparam para eleger o próximo presidente do país. Uma série de expressões ligadas às eleições americanas inunda a imprensa, em uma corrida difícil de acompanhar para quem não conhece o funcionamento do pleito. Entenda melhor quais são as etapas da votação.
Publicado em: Modificado em:
O primeiro passo são as primárias dos dois principais partidos, o Republicano (conservador) e o Democrata (progressista), para escolher quem serão os candidatos que vão disputar as eleições presidenciais. Esse período começou no dia 1º de fevereiro e se encerra em 14 de junho, quando estarão definidos os nomes dos dois principais concorrentes à Casa Branca. Por enquanto, 12 candidatos concorrem nas prévias republicanas e três nas democratas.
Essa fase é indireta e acontece por etapas, em cada um dos 50 estados americanos. Primeiro, é preciso eleger os chamados delegados do partido, representantes de cada candidato e que votarão nas convenções nacionais dos republicanos e dos democratas, em julho, no final do processo. Em suma, as primárias definem quantos delegados serão favoráveis a cada pré-candidato, em cada estado. Nas convenções, o pré-candidato que conseguir mais delegados é o vencedor.
As complicações começam quando se entra nas particularidades dos Estados. Existem vários tipos de votação e cada estado tem o seu.
Diferença entre primária e cáucus
A escolha dos delegados pode ser aberta para os eleitores em geral ("open primary") ou ser restrita aos membros do partido ("closed primary"). A votação em si pode ocorrer na forma tradicional, em que os eleitores têm um dia inteiro para colocar o voto em uma urna, ou em cáucus, uma reunião organizada pelo partido e na qual todos votam no mesmo momento, por cédula ou em assembleia.
Nos cáucus, o esquema é mais complexo, por ser piramidal: os militantes elegem os representantes do condado, que elegem os do Estado, que por sua vez escolhem os delegados que irão à convenção nacional. Os democratas fazem 18 cáucus e os republicanos, 14.
O número de delegados por estado é pré-determinado, em função do tamanho e da população – por isso que a vitória em uns, como Nova York, é mais importante do que e outros, como Alaska. No total, serão designados 4.764 delegados democratas e 2.472 republicanos.
Outra particularidade é que, enquanto a maioria dos estados mantém a proporcionalidade da votação – se o resultado foi de 55% para o candidato X, 30% para o candidato Y e 15% para o candidato Z, todos participarão da convenção nacional em junho nesta mesma proporção -, em outros, vale a regra do "winner takes all" (o vencedor leva tudo). Neste caso, tomando-se o exemplo acima, o candidato X seria o vencedor e ganharia o apoio de 100% dos delegados daquele estado.
Delegados devem ser fiéis - ou não
Por fim, na convenção nacional, a maior parte dos estados impõe aos delegados que sejam fiéis aos pré-candidatos que escolheram nas primárias – mas outros, não, e dão a alternativa de o delegado mudar o voto. Além disso, existe ainda a figura do superdelegado do estado, um representante do partido dispensado das primárias que vai à diretamente convenção e pode votar em quem quiser. Esses dois detalhes fazem com que o suspense possa durar até o final da convenção partidária.
Uma vez que os candidatos vencedores são definidos, eles escolhem os seus vices, que são oficializados em uma nova convenção. Só a partir deste momento que é dada a largada para a campanha presidencial, todos os dias, até novembro. Três debates entre os democratas e os republicanos devem acontecer durante a campanha eleitoral, em setembro e outubro.
Vencedor não necessariamente é o que teve mais votos
As singularidades do sistema americano não terminam aqui. No dia da eleição, em novembro, o processo das primárias se repete. Os eleitores não votam diretamente no seu candidato preferido – e sim nos “superdelegados” de cada partido no seu estado, em um total de 538 em todo o país.
Na contagem dos votos, o partido que obtiver a maioria fica com a totalidade dos superdelegados do estado. Esse sistema anula os milhões de votos recebidos pelo segundo colocado e pode até fazer com que o candidato que ganhou a maioria absoluta dos votos dos eleitores não vença as eleições. Foi o caso em 2000, quando Al Gore perdeu para George W. Bush. O republicano conquistou menos votos, mas mais delegados. Os superdelegados voltam a realizar uma convenção nacional em 19 de dezembro, data em que, oficialmente, o novo presidente é eleito.
Por que a etapa de Iowa é importante?
Apenas por ser o primeiro estado a realizar a votação. Desde 1976, o cáucus de Iowa se pronuncia antes dos demais sobre os candidatos às eleições presidenciais, dando a largada para o tom da campanha. Mas, em si, esse estado rural tem pouco peso na eleição. Os pré-candidatos prestam ainda mais atenção nos resultados de Ohio, por exemplo. Historicamente, o estado do leste americano vota pelo candidato que acaba ganhando as eleições presidenciais. Desde 1896, as únicas exceções foram nos anos de 1944 e 1960.
Quando acabam as primárias e os candidatos definitivos estarão definidos?
As convenções dos partidos acontecem de 18 a 21 de julho para os republicanos, em Cleveland, e de 25 a 28 de julho para os democratas, na Filadélfia. Mas, em geral, o nome do vencedor já é conhecido antes disso, na medida em que os concorrentes vão abandonando a disputa, por não terem mais chance alguma de vencer.
Em 2012, por exemplo, Mitt Romney foi considerado o candidato vencedor dos Republicanos já em abril. Em 2008, a disputa entre os democratas Barack Obama e Hillary Clinton foi acirrada e só se definiu em junho.
Quando é a eleição presidencial americana?
A votação ocorre em 8 de novembro. Mas a partir de setembro, os eleitores que não poderão participar no dia da eleição podem votar por antecipação, pessoalmente ou pelo correio. Nas últimas eleições, 30% dos eleitores escolheram votar antes. A posse do 45º presidente dos Estados Unidos acontece em 20 de janeiro de 2017, para um mandato de quatro anos.
Quem são os candidatos favoritos?
Entre os democratas, a ex-secretária de Estado de Barack Obama, Hillary Clinton, desponta como favorita.
Mas as primárias de Iowa mostraram que a disputa com o principal adversário, o senador social-democrata Bernie Sanders, não está ganha. O terceiro e último concorrente é o governador de Maryland, Martin O’Malley, que aparece bem atrás de Clinton e Sanders nas pesquisas.
As dúvidas são bem maiores entre os republicanos. O bilionário ultraconservador Donald Trump desponta com 10% de vantagem nas pesquisas de intenções de votos, porém começou a corrida atrás do senador do Texas Ted Cruz, que encarna a ala ainda mais à direita dos republicanos.
Em terceiro lugar, aparece o senador da Flórida Marco Rubio, filho de imigrantes cubanos. Em seguida, estão o neurocirurgião Ben Carson e o ex-governador da Califórnia Jeb Bush, irmão do ex-presidente, além de outros sete candidatos com chances reduzidas de avançar na disputa.
As eleições ainda estão abertas para a entrada de novos nomes, inclusive sem partido. O ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, poderia lançar uma candidatura independente, financiada pela própria fortuna.
O que é a Super Tuesday?
É uma terça-feira em que 12 estados realizam as suas primárias e cáucus no mesmo tempo. Desta vez, a Super Tuesday acontece em 1º de março.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro