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Linha Direta

Maioria dos países sul-americanos mantém silêncio sobre impeachment

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Apesar de a crise brasileira ter forte impacto na América do Sul e de a votação na Câmara dos Deputados ter sido acompanhada de perto pela imprensa dos países vizinhos, a maioria dos governos da região manteve silêncio sobre o resultado da votação que abre um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

O presidente argentino Mauricio Macri não se manifestou sobre a votação na Câmara dos Deputados
O presidente argentino Mauricio Macri não se manifestou sobre a votação na Câmara dos Deputados JUAN MABROMATA / AFP
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Marcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A única organização à qual o Brasil está associado que se pronunciou foi a Unasul. A nota oficial da organização é a mais forte até agora e pede explícitamente ao Senado para "deter esse processo de destituição que pode afetar seriamente a democracia regional e a segurança jurídica hemisférica".

Para a entidade que reúne os 12 países da América do Sul, "uma eleição democrática de Dilma Rousseff não pode ser derrubada por uma maioria parlamentar, sem uma prova que vincule a presidente de maneira direta com a prática de delito comum". Por isso, a Unasul conclui que "o processo de destituição constitui um motivo de séria preocupação para a região".

Dois governos manifestaram solidariedade à presidente

Dois governos na região manifestaram a sua solidariedade à presidente: Venezuela e Bolívia. Da chamada esquerda bolivariana, apenas o Equador não se manifestou, muito mais preocupado com as graves consequências do pior terremoto em 40 anos, que deixou mais de 400 mortos e mais de 2 mil feridos.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou a "direita do continente de desconhecer a soberania popular". Através das redes sociais, o presidente boliviano, Evo Morales, disse sentir "indignação com o julgamento político" contra a presidente Dilma Rousseff.

Se falamos de América Latina, Cuba também se posicionou, classificando a decisão da Câmara de Deputados do Brasil como um "golpe de Estado parlamentar" porque "o processo está baseado em acusações sem provas nem fundamentos legais".

Os países do Mercosul, Argentina, Paraguai e Uruguai, mantiveram-se em silêncio.

No mês passado, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, havia pedido que os governos do Mercosul não se manifestassem porque o Brasil entendia que era um problema a ser resolvido internamente.

Imprensa regional e analistas políticos

Ao contrário das investigações e das prisões lideradas pelo juiz Sergio Moro, muitas vezes colocadas como exemplos a ser seguidos pelos países da região, desta vez praticamente não houve elogios para o resultado na Câmara de Deputados. Houve, sim, muita crítica.

De um modo geral, prevaleceu a leitura de que os deputados acusadores tinham acusações mais graves do que a presidente acusada e que, ao justificarem os seus votos, usaram argumentos que não estavam diretamente relacionados com as chamadas pedaladas fiscais, razão formal para o processo.

O jornal argentino Clarín disse que o comportamento da Câmara de Deputados foi uma demonstração da irresponsabilidade de parlamentares que não parecem ter noção da importância estratégica e geopolítica do Brasil e que o processo de destituição pode ser um grave precedente para a região.

A publicação conclui que só eleições antecipadas podem remendar, mas não resolver, o pântano político brasileiro.

Cenário de mudanças políticas

Para muitos, o processo de destituição no Brasil é a peça brasileira na desmontagem do mapa político da esquerda regional. O cenário sul-americano tem convivido com mudança políticas: governos de esquerda, progressistas para uns, populistas para outros, têm sofrido duras derrotas.

Em novembro, a Argentina elegeu uma mudança de rumo com Mauricio Macri. Em dezembro, a oposição venceu as eleições parlamentares na Venezuela. Em fevereiro, os bolivianos votaram contra um quarto mandato consecutivo para o presidente Evo Morales.

O Peru está perto de também mudar de rumo em junho. O equatoriano Rafael Correa percebeu o avanço da oposição e já anunciou que não vai concorrer a um novo mandato.

O Brasil parece ser o próximo a experimentar uma mudança, mas com uma diferença em relação a todos esses processos vividos pela vizinhança: a decisão brasileira não passa pelas urnas.

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