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Brasil-América Latina

Ex-pobres sul-americanos retornam à pobreza

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A América do Sul está diante do seu maior desafio: impedir que milhões de pessoas que saíram da pobreza nos últimos anos voltem a ser pobres. O Brasil, na maior recessão da sua história, é o maior vilão para o aumento da pobreza na região. Dos 3,5% de queda na economia brasileira em 2016, a Cepal calcula que 2,5% são provocados pela Operação Lava Jato.

Mais de 29% da população argentina vive abaixo da linha da pobreza.
Mais de 29% da população argentina vive abaixo da linha da pobreza. REUTERS/Marcos Brindicci
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Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

Nos primeiros três meses do ano, a Argentina passou a ter 1,4 milhão de novos pobres. Na Venezuela, a pobreza pulou de 23% aos atuais 73% em apenas três anos. No Brasil, em um ano, o desemprego aumentou três pontos percentuais, saltou para 10,9% e poderá afetar 13 milhões de pessoas até o final do ano.

Esses são apenas alguns números dos três países que sofrem hoje as maiores recessões econômicas da América Latina: Venezuela, Brasil e Argentina, respectivamente. Durante dez anos, entre 2003 e 2013, a região viveu uma bonança: nesse período, 140 milhões de pessoas saíram da pobreza em toda a América Latina. 120 milhões só na América do Sul. Uma conquista social considerada histórica.

Mas nos últimos três anos, a deterioração econômica tem feito estragos na América do Sul que convive agora com um aumento veloz da pobreza. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, CEPAL, em 2012, 164 milhões de pessoas eram pobres na América Latina. Esse número aumentou a 175 milhões no ano passado. São 11 milhões de pessoas de volta à pobreza.

A secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, indicou ao Expresso que evitar esse recuo social é hoje o principal desafio da região. "Como não sacrificar, retroceder ou perder o que foi avançado na região. A América Latina avançou muito, sobretudo a América do Sul, no tópico Pobreza e Desigualdade. Para nós, é fundamental que não haja retrocesso. A perda do tecido social custa muito para ser recuperado", enfatiza.

Situação deve piorar neste ano

O maior aumento da pobreza aconteceu no ano passado. Em 2015, a economia da América do Sul sofreu uma contração de 1,6% que levou 7 milhões de pessoas de volta à pobreza. Neste ano de 2016, o panorama é ainda pior. A projeção da Cepal prevê uma contração econômica de 1,9% na América do Sul. Com isso, mais de 10% dos 120 milhões de sul-americanos que saíram da pobreza, voltarão à condição de pobres.

A responsável pela Cepal, Alicia Bárcena, explica que a recuperação social sempre é mais lenta do que a recuperação econômica. A crise do petróleo dos anos 80 na região, por exemplo, provocou um recuo econômico que precisou de 14 anos para ser recuperado. No entanto, a recuperação social demorou 25 anos. "Portanto, o que pedimos hoje aos países é que cuidem dos programas sociais porque esse é um dos problemas mais difíceis de retomar", adverte.

Impacto brasileiro

O país que mais impacto provoca nos seus vizinhos é o Brasil. Pelo peso da sua economia e pela integração com o Mercosul, a recessão brasileira é a grande vilã regional. "A desaceleração da economia brasileira tem um grande impacto na região porque logicamente são economias bastante integradas. O que acontece no Brasil impacta definitivamente na Argentina, no Paraguai, no Uruguai nos sócios mais próximos", explica Bárcena. A Cepal calcula que da recessão brasileira prevista em 3,5% neste ano, 2,5% sejam provocados pela Operação Lava Jato.

A recessão vai contrair ainda a economia da Venezuela em 6,9%, a da Argentina em 0,8% e a do Equador em 0,1%. Todos os demais países crescem, mas bem menos. E quase todos ajustam a economia e reduzem o gasto público, afetando as redes de contenção social.

A América do Sul está diante do seu maior desafio: impedir que milhões de pessoas que saíram da pobreza nos últimos anos voltem a ser pobres. O Brasil, na maior recessão da sua história, é o maior vilão para o aumento da pobreza na região. Dos 3,5% de queda na economia brasileira em 2016, a Cepal calcula que 2,5% são provocados pela Operação Lava Jato.
 

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