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América Latina retira tropas do Haiti após fim de missão da ONU

Brasil, Chile e Uruguai, países latino-americanos que lideram os capacetes azuis da ONU no Haiti, preparam-se para a retirada de suas tropas do país, colocando fim a 13 anos de missão, desgastados pelas consequências dos desastres naturais, dos escândalos sexuais e das sequelas do cólera.  

Abalado por epidemias e catástrofes naturais, o Haiti é um dos países mais pobres da região. Porto Príncipe, em 20 de março de 2017.
Abalado por epidemias e catástrofes naturais, o Haiti é um dos países mais pobres da região. Porto Príncipe, em 20 de março de 2017. REUTERS/Andres Martinez Casares
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"Fora tropas do Haiti", lê-se em um muro em frente ao palácio legislativo do Uruguai, lembrando o debate acalorado em torno do tema pelos deputados uruguaios, que esperam tomar uma decisão em abril sobre a retirada de seus mais de 250 soldados enviados ao país caribenho.

No Brasil, o Ministério da Defesa afirmou à agência AFP que aguardará a determinação da ONU. "Essa foi uma missão muito importante para o Brasil porque coincide com o tempo em que o governo Lula buscava posicionar-se como líder no mundo e ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU”, lembrou María Cristina Rosas, acadêmica da Universidade Nacional Autônoma do México e autora de vários livros sobre missões de paz. "O governo brasileiro atualmente não passa por seu melhor momento, sua imagem internacional deteriorou-se e o país precisa continuar fortalecendo sua projeção", avaliou.

Já o Uruguai não parece tão resistente ao fim da missão no Haiti. "No dia 15 de abril estaremos em condições de voltar", anunciou Jorge Menéndez, ministro da Defesa uruguaio, em dezembro de 2016. Mas para Gonzalo Novales Mayol, presidente da comissão de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados uruguaia, o Haiti não está pronto para ficar sozinho. "Acho que isso poderia ser feito paulatinamente até que nosso país-irmão, o Haiti, consiga consolidar uma democracia", declarou Novales Mayor, do opositor Partido Nacional.

Jovenel Moïse assumiu a presidência do Haiti em fevereiro de 2017, após uma longa crise que começou com a anulação das eleições em 2015 e por conta dos danos provocados pelo furacão Matthew.

O Chile também anunciou a partida de seus quase 350 soldados do Haiti, o país mais pobre da região América Latina e Caribe. "É hora de concluir a participação dos efetivos militares que estão na Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti)", disse há cerca de um mês Marcos Robledo, ministro da Defesa chileno.

No entanto, a decisão de retirar os militares da primeira missão de paz na América Latina liderada por países da região terá que ser ratificada pelos congressos nacionais.

Histórico e tensão

A ONU chegou ao Haiti em 1990 com uma missão de observação durante as primeiras eleições do país, vencidas por Jean Bertrand Aristide, derrubado por um golpe militar no ano seguinte. As missões foram mudando suas características até chegar na Minustah, em 2004, uma missão de paz que, segundo especialistas, chegou a reunir até 20 mil militares no terreno.

Durante este tempo, o Haiti passou por uma série de catástrofes naturais. Um terremoto em 2010 resultou na morte de 220 mil pessoas, incluindo o chefe da missão dos capacetes azuis. Depois do terremoto veio a epidemia de cólera, que matou mais de 9 mil pessoas, e em outubro do ano passado o furacão Matthew, que deixou 550 vítimas fatais.

A imagem da missão da ONU foi abalada pelo contágio do cólera, introduzido por soldados do Nepal no país após o terremoto, e pelas denúncias de centenas de mulheres haitianas que, em 2015, admitiram ter mantido relações sexuais com capacetes azuis em troca de serviços e de bens materiais.

 

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