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Linha Direta

As promessas não cumpridas nos 100 primeiros dias de administração Trump

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Neste sábado (29) o presidente Donald Trump completa cem dias à frente da Casa Branca, período que a mídia norte-americana considera como uma espécie de barômetro para avaliar novas administrações. Se não apresentou todos os resultados prometidos durante a campanha, afinal um de seus motes foi o de apresentar “um plano de ação de 100 dias para fazer a América grande novamente”, o republicano sem dúvida alguma fez muito barulho nestes primeiros meses de governo. Embora tenha galvanizado parte de sua base conservadora, Trump chega em maio, de acordo com as pesquisas, como o mais impopular dos presidentes nos primeiros 100 dias desde Dwight Eisenhower, nos anos 1950.

Trump: os 100 dias que abalaram o mundo.
Trump: os 100 dias que abalaram o mundo. REUTERS/Carlos Barria
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

Os cem primeiros dias foram intensos. O maior êxito de Trump foi, inegavelmente, a escolha e aprovação, embora sem um único voto da oposição, de um novo ministro da Suprema Corte. Trump escolheu um juiz jovem, Neil Gorsuch, que muito provavelmente garantirá a maioria conservadora na última instância da Justiça americana por décadas a fio.

Ele também conseguiu mudar radicalmente a política de governo americana, virando do avesso, como queriam seus aliados, as medidas implementadas no governo Obama em dois aspectos: mudanças climáticas e economia, com cortes severos nas agências reguladoras das respectivas áreas, além da abertura total da Casa Branca para os lobbies dos grandes negócios e do setor financeiro.

Os reveses dos 100 primeiros dias

Em contrapartida, o governo Trump falhou ao tentar cumprir uma de suas promessas de campanha que mais agradava os ultraconservadores de sua aliança política: decretar o fim da reforma do sistema público de Saúde implantado pelo governo Obama.

Por uma desunião de sua própria base de apoio, embora os republicanos sejam maioria nas duas câmaras do Capitólio, a Casa Branca não conseguiu sequer elaborar algo como uma Trumpcare para substituir o sistema implantado pelos democratas.

Pior: o esboço de projeto vindo do novo governo se revelou um arremedo de peça legislativa de Saúde que na verdade servia para dar um enorme desconto fiscal para as grandes corporações.

O texto não foi aprovado, a oposição ganhou força e mirou sua artilharia no que parece ser a maior ameaça ao governo Trump: as ligações perigosas de aliados próximos seus com a Rússia, acusada de interferir nas eleições americanas para favorecer o republicano e evitar a vitória da favorita Hillary Clinton.

Uma CPI foi iniciada no Congresso ao mesmo tempo em que o FBI oficializou sua própria investigação. Ontem, o Pentágono anunciou que também instalou uma devassa para entender como o general Mike Flynn, nomeado por Trump como seu principal conselheiro na área de Segurança Nacional, dispensado menos de um mês depois de assumir seu posto, teria falhado em revelar pagamentos do governo russo em 2015 e de lobistas ligados ao governo turco antes disso.

A incoerência na política internacional

Um dos grandes desafios para os analistas políticos é tentar entender se há algo como uma doutrina Trump para as relações exteriores. Muito provavelmente para rebater as acusações de proximidade com o regime de Vladmir Putin e se reforçar internamente, já que sua popularidade está em baixa, o presidente bateu duro em Moscou e avisou que “os russos estão andando com os amigos errados”, notadamente a Síria e o Irã.

No Oriente Médio, ele aproximou Washington ainda mais de Israel, e, de um modo um tanto quanto confuso, parece ter afastado os EUA do compromisso do estabelecimento dos dois estados independentes, um judeu e um árabe, naquele que é muito provavelmente o conflito mais complexo do planeta.

Na vizinhança, ele anunciou nesta quinta-feira (27) que os EUA iniciaram oficialmente uma discussão sobre o Nafta, o acordo de livre-comércio com Canadá e México, deixando estas duas economias de cabelo em pé.
Com a China as relações também oscilaram, com críticas à omissão de Pequim em relação ao cada vez maior poder bélico da Coreia do Norte, apresentando, ao mesmo tempo, uma postura menos radical do que se esperava em relação ao protecionismo chinês.

Trump também pegou bem mais leve com organismos internacionais que foram alvos de sua campanha eleitoral marcada pelas críticas à globalização, como a ONU e a OTAN.

Um possível impeachment de Trump?

No momento, impeachment é apenas sonho de filiado extremado do Partido Democrata. Mas o jogo de Trump é perigoso ao não ter sequer tentado estabelecer, nestes primeiros 100 dias, uma ponte com a oposição. Embora minoritária, ela faz barulho, e o que se vê hoje na base democrata é um embrião de algo como o avesso exato do Tea Party, os radicais anti-Estado, que pipocaram nos primeiros meses do governo Obama como reação às políticas progressistas do primeiro presidente negro dos EUA.

Pois o movimento de massas anti-Trump pretende bloquear outros projetos caros ao presidente, que estarão em pauta nos próximos 100 dias, como uma reforma conservadora da política de Imigração, penalizando as grandes cidades, todas de maioria democrata, que não concordarem em ajudar o governo no combate aos imigrantes ilegais. E também tentará investigar ainda mais a fundo, com a ajuda da grande imprensa, as relações da família Trump com interesses estrangeiros, notadamente russos, e como eles seriam, sim, razão de apontar comportamento antiético e não-republicano do novo presidente.

Animação, por aqui, não vai faltar. É aguardar para ver.
 

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