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Linha Direta

Trump aguarda legislativas para avaliar força de Macron

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Simples coincidência ou apurada visão política, Emmanuel Macron anunciou sua candidatura à presidência francesa uma semana depois do anúncio da vitória de Donald Trump na disputa pela Casa Branca. Agora, com os dois líderes eleitos, as relações entre Paris e Washington ainda vão depender muito do resultado das eleições legislativas de junho na França.

O novo presidente francês, Emmanuel Macron e o presidente americano, Donald Trump, terão um encontro em Bruxelas no próximo 25 de maio.
O novo presidente francês, Emmanuel Macron e o presidente americano, Donald Trump, terão um encontro em Bruxelas no próximo 25 de maio. REUTERS/Francois Lenoir/ Yuri Gripas
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Eduardo Graça, correspondente em Nova York

É impossível ignorar alguns paralelos entre dois personagens que não são políticos profissionais, exercem pela primeira vez um cargo eletivo já no posto máximo de suas respectivas democracias e não são próximos dos caciques dos partidos políticos tradicionais de seus países. Mas, desde o primeiro contato, Macron deixou claro que diverge do presidente americano em áreas importantes, notadamente em política ambiental e no combate ao aquecimento global.

Trump foi, como era de se esperar, um dos primeiros líderes a telefonar para o então recém-eleito presidente Macron e os dois se comprometeram a estabelecer uma parceria próxima. Os temas centrais da conversa foram o combate ao terrorismo, a importância da OTAN e da parceria econômica e militar entre os Estados Unidos e a Europa Ocidental, a visão econômica de Macron para a França e as mudanças climáticas. Foi Macron quem incluiu a defesa do Acordo de Paris contra o aquecimento global no bate-papo de pouco mais de dez minutos, deixando claro se tratar de uma questão “muito importante e delicada” para os franceses. De acordo com todos os relatos, e na diplomacia é importante ler nas entrelinhas, Macron enfatizou que políticas de preservação do meio ambiente são fundamentais para os cidadãos da França e não apenas para o novo governo.

Durante a campanha eleitoral, Trump defendeu que o aquecimento global é uma ficção fabricada pelos chineses, mas, ao mesmo tempo, afirmou, em uma extensa entrevista dada em novembro ao “New York Times” que não tinha uma posição definida em relação ao Acordo de Paris. No mês passado, ele iniciou discussões oficiais com seus conselheiros na área do meio ambiente para apresentar uma decisão, que poderia ser inclusive a de retirada do país do Acordo.

Havia uma expectativa de que o secretário de Estado, Rex Tillerson, ele próprio um ex-executivo de uma multinacional da área de petróleo, faria o anúncio na semana passada, em um encontro de países do Conselho Ártico, no Alasca. Não se avançou, no entanto, na discussão, e Macron pode ser um fator importante na decisão de Trump.

Potencial aliado no Oriente Médio

Mesmo para os republicanos mais à direita, o maior pesadelo de uma vitória de Le Pen era a balcanização da Europa, tornando mais complicada a cooperação entre as inteligências americana e europeia, especialmente no que diz respeito ao combate ao terrorismo e ao Estado Islâmico. Macron é visto pela Casa Branca como um aliado em potencial na pressão contra o governo Assad na Síria.

Trump gostou da aprovação do então candidato ao bombardeio americano à base síria, depois de Damasco ter atacado grupos da oposição com armas químicas. Também não é segredo que depois do Brexit, Paris detém na prática o único poder de veto europeu no Conselho de Segurança da ONU. Em uma visão otimista para a parceria franco-americana, pode ser uma vantagem que nem Trump nem Macron possuem um plano de intenções detalhado para o Oriente Médio.

Incertezas sobre as reformas

A grande imprensa americana respirou aliviada com a derrota de Marine Le Pen, especialmente por conta do discurso pró-União Europeia de Macron. Os europeus são, afinal, os maiores parceiros econômicos dos Estados Unidos. Mas, por outro lado, esta mesma mídia tem se mostrado cautelosa em relação ao discurso de reformas do novo presidente francês, especialmente na área trabalhista, e se ele irá abraçar o receituário de austeridade fiscal que domina a Europa.

A percepção é a de que somente depois das eleições parlamentares de junho se saberá de fato o real significado de uma administração Macron e os efeitos, seja no combate ao desemprego de 10% da população ativa, ou ao próprio reposicionamento do país no tabuleiro político mundial no momento em que o Brexit será posto em prática.

Um presidente forte, com maioria no Parlamento, poderia não só promover mudanças sensíveis na economia francesa, como também modificar a balança no comando da União Europeia e da parceria franco-germânica. Já no caso de um Parlamento mais pulverizado, especialmente se houver crescimento de grupos mais extremistas, à direita e à esquerda, e a escolha de um primeiro-ministro não tão afinado com Macron, acredita-se que o peso e a importância de Paris serão menores em eventuais quedas de braço com Washington.

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