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Linha Direta

Cada vez mais acuado, Trump será investigado e impeachment não está descartado

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Investigação conduzida pelo conselheiro especial nomeado, Robert Mueller, vai confirmar se não houve coordenação entre a campanha do presidente americano e a Rússia durante a campanha.

Desde a semana passada, Washington é palco de uma extraordinária tempestade política, depois que o presidente Donald Trump foi acusado de obstrução à Justiça.
Desde a semana passada, Washington é palco de uma extraordinária tempestade política, depois que o presidente Donald Trump foi acusado de obstrução à Justiça. REUTERS/Jonathan Ernst
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

Qualquer esperança de que, gradualmente, a oposição nos Estados Unidos passe a aceitar Donald Trump como presidente deve ser deixada de lado, pelo menos por enquanto. Democratas, e alguns republicanos, assim como uma grande parte da população, insistem que Trump tem uma aliança com a Rússia que é prejudicial para os interesses dos Estados Unidos e exigem que isso seja investigado a fundo.

“Já vimos esse filme. Está atingindo tamanho e à escala do Watergate”, disse o senador republicano John McCain.Seria de esperar que o presidente americano estivesse ciente do risco que a presidência dele corre, no entanto, Trump continua a, de certa forma, ser seu maior inimigo ao frequentemente agir de modo narcisista e inconsequente.

A situação na Casa Branca está complicada. Por um lado, há os assessores da presidência que estão constantemente tentando conter os danos causados pela falta de controle de Trump, que se expõe de modo desnecessário no Twitter e frequentemente contradiz os membros da sua equipe quando fala com a imprensa. Por outro lado, a Casa Branca está sofrendo com vazamentos que, muito provavelmente, vêm de pessoas bem próximas ao presidente.

No caso da notícia de que Trump teria passado à Rússia informações altamente confidenciais - compartilhadas por Israel com os Estados Unidos – no encontro, na semana passada, com o ministro das relações exteriores Sergei Lavrov e o embaixador Sergey Kislyak, a informação deve ter sido vazada por um membro do exclusivo grupo que teve acesso à interação de Trump com as autoridades russas no Salão Oval.

Tudo isso combinado com a decisão de Trump de demitir James Comey, o que causou suspeitas de que o diretor do FBI estava sendo afastado para impedir que a investigação sobre a ligação do presidente americano com a Rússia prosseguisse - mesmo sendo que até pouco tempo atrás os democratas estavam pedindo a cabeça de Comey, pois o consideravam parcialmente responsável pela derrota de Hillary Clinton - está fortalecendo ainda mais a oposição e alimentando a imprensa americana que, de modo geral, tem antipatia por Trump.

Para adicionar ainda mais ruído ao ambiente político já tumultuado, a Fox News, um dos poucos veículos da imprensa americana tradicional que é pró-Trump, em uma tentativa de mudar o foco do noticiário, publicou esta semana uma especulação, que já há meses circula em sites obscuros de notícias, de que o estagiário do partido democrata, Seth Rich, que foi morto na capital americana, em julho passado, pouco antes da convenção nacional do partido para anunciar a candidatura de Hillary, teria sido assassinado porque era informante do WikiLeaks, o site que publicou e-mails expondo a candidata.

De acordo com uma pesquisa da Gallup, 40% dos americanos se dizem independentes. Essas pessoas sem vínculo ao Partido Republicanos nem ao Partido Democrata estão cansadas do constante bombardeio de acusações, principalmente porque desconfiam que não passam de brigas partidárias.

Os noticiários recheados de possíveis escândalos e o comportamento de Trump, que é, na melhor das hipóteses, pouco presidencial, atrapalha o funcionamento de Washington e, consequentemente, causa frustração aos americanos.

Comissão independente foi bem recebida

No entanto, em meio à disfunção, a decisão do Departamento de Justiça, nesta quarta-feira, de nomear um conselheiro especial independente para comandar a investigação sobre uma possível cooperação entre a Rússia e a campanha de Trump para influenciar a eleição presidencial do ano passado, certamente foi bem recebida.

O conselheiro especial nomeado, Robert Mueller, tem excelente reputação, tanto com democratas quanto com republicanos. Além disso, ele serviu como diretor do FBI durante os governos de George W. Bush e Barack Obama e é bastante respeitado pelos agentes do FBI.

Trump disse, nessa quarta, que a investigação vai confirmar que não houve coordenação entre a campanha dele e a Rússia e espera que a investigação seja concluída rapidamente. Mas a verdade é que esse tipo de investigação, além de acalmar a oposição, compra tempo para Trump, pois é feita de maneira diligente e pode demorar até alguns anos para ser concluída.

Mueller não terá obrigação de manter a Casa Branca nem o Departamento de Justiça informados. No entanto, o presidente tem autoridade para afastar o conselheiro especial à sua discrição, apesar de isso ser improvável de acontecer, pois resultaria em um escândalo com graves repercussões.

A decisão de colocar um conselheiro especial para comandar a investigação federal praticamente se tornou uma necessidade, especialmente depois de ter sido noticiado que há um memorando preparado por Comey relatando que o Trump teria pedido que o diretor do FBI não prosseguisse com a investigação de Michael Flynn. O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca foi afastado depois que foi revelado que ele havia recebido pagamentos por serviços prestados ao governo russo. Se for confirmado que Trump fez esse pedido a Comey, isso constituiria em tentativa de obstrução de justiça.

Outra maneira de as coisas se estabilizarem seria se Trump entendesse que ele não é mais um CEO que comanda os negócios como quer e demite quem quiser, mas sim um servidor público que pode ser demitido, se quebrar a lei ou comprometer os interesses do país. Além disso, independentemente do seu mérito ou da sua falta de mérito, Trump precisa fazer uma faxina pesada na Casa Branca ou vai continuar sendo exposto a vazamentos, o que, por fim, pode tornar sua presidência inviável.

Impeachment pode acontecer, mas é pouco provável

A palavra impeachment está cada vez mais presente nos noticiários e nas redes sociais, mas é preciso discernir o que é desejo - justificado ou não - da oposição e o que é a realidade.A realidade é que os republicanos dominam o Congresso. É muito difícil que o Congresso republicano, pelo menos no momento, determine o impeachment de Trump, pois o presidente ainda conta com o suporte de cerca de 80% dos eleitores republicanos. Mas tudo pode mudar num piscar de olhos, pois Washington é uma caixinha de surpresas, ou de sustos, conforme a perspectiva.
 

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