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Médicos protestam na Venezuela após 52 dias de manifestações

Nem a oposição nem o governo de Nicolás Maduro se rendem e ambos os lados voltam a medir suas forças esta semana nas ruas da Venezuela, após 52 dias de violentos protestos que já deixaram 49 mortos e quase mil feridos.

Forças policiais venezuelanas entram em confronto com manifestantes em Caracas nesta segunda-feira, 22 de maio de 2017.
Forças policiais venezuelanas entram em confronto com manifestantes em Caracas nesta segunda-feira, 22 de maio de 2017. REUTERS/Marco Bello
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Mais de mil opositores se juntaram à Federação Médica Venezuelana (FMV) e se dirigiram nesta segunda-feira (22) em direção ao Ministério da Saúde na capital, Caracas, para protestar contra a "catastrófica" situação dos hospitais, onde faltam equipamentos e remédios.

"Esta é a única opção que temos [continuar nas ruas]. Se eu tenho medo? Dá mais medo continuar vivendo. Você tem ido a algum supermercado? Não tem leite, não tem nada. Isso é vergonhoso", queixou-se o clínico geral Raúl, de 64 anos, à agência AFP. "A saúde é um desastre. Estamos no pior estado dos últimos 30 anos. Sempre dá medo vir, mas continuaremos fazendo isso até que tenha uma mudança", disse Fernando Gudayol, um cirurgião de 50 anos.

"Vamos ver quem se cansa primeiro"

"Todos nós perdemos alguém por falta de medicamentos", lamentou Verónica Martínez, entrevistada durante a marcha. "Hoje uma simples infecção pode se tornar algo grave pela falta de antibióticos, por falta de manutenção dos equipamentos", queixou-se o médico urologista Eliécer Melear, de 41 anos.

O centro financeiro de Caracas foi inundado com cartazes com a palavra "Resistir" sob as três cores da bandeira venezuelana, cartazes denunciando "chega de fome, chega de insegurança, chega de repressão", e outros que refletem a queda de braço como governo: "Vamos ver quem se cansa primeiro".

Enquanto isso, partidários do chavismo se concentravam no palácio presidencial de Miraflores, onde eram recebidos por Maduro. O presidente convocou uma passeata "pela paz" para esta terça-feira (23). "Qual é a falta de medicamentos? Nós estamos nas ruas, nos módulos (de saúde), dando resposta ao que as comunidades precisam", defendeu-se Rangel Vegas, estudante de Medicina de 31 anos.

Nos arredores de Caracas já existem confrontos entre opositores e policiais e militares. Várias ruas da capital amanheceram bloqueadas por barricadas. A oposição tem o desafio de atrair os manifestantes apesar da violência, e uma vez que os venezuelanos têm enfrentado enormes filas para conseguir alimentos, com um trânsito paralisado pelos protestos.

"É difícil manter a onda de protestos. As pessoas precisam trabalhar, estudar, comer e viver suas vidas. É preciso de uma estratégia para capitalizar esse movimento", afirmou David Smilde, assessor principal do Washington Office on Latin America (Wola). "O fato de a oposição continuar com a mobilização nas ruas, e a comunidade internacional manter sua pressão sobre a Venezuela, poderia gerar divisões no governo, ou dentro das Forças Armadas", assinalou.

Bombas de gás lacrimogêneo e coquetéis molotov

No sábado (20), mais de 160 mil pessoas - segundo os organizadores - se reuniram na principal estrada de Caracas e tentaram caminhar em direção ao Ministério do Interior. Eles foram dispersados com bombas de gás lacrimogêneo e responderam com pedras e coquetéis molotov.

Além disso, mais de 40 mil pessoas (de acordo com estimativas da agência AFP) protestaram na cidade de San Cristobal, estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia, para onde Maduro ordenou o envio de 2,6 mil militares após tumultos e saques. No domingo (21), Maduro denunciou que manifestantes espancaram, esfaquearam e abriram fogo contra um jovem durante uma manifestação em Caracas por acreditarem "ser chavista".

"Nunca havíamos visto aqui uma pessoa ser incendiada como fazem os terroristas do Estado Islâmico", denunciou o presidente venezuelano em seu programa semanal. A Procuradoria afirmou que já iniciou uma investigação sobre o ocorrido.

De acordo com Maduro, dentro da oposição está sendo gestada uma "corrente nazifascista" de perseguição a pessoas por seus ideais políticos, especialmente os chavistas. Atrás dela, estaria o presidente americano, Donald Trump. "Donald Trump tem as mãos infectadas e metidas a fundo nesta conspiração", finalizou.

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