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O Mundo Agora

Com viagem ao Oriente Médio, Trump foge de pressão nos EUA

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Quando a pressão aumenta dentro de casa, é melhor sair para dar uma voltinha. O périplo de Donald Trump na Arábia Saudita, Israel e Europa faz parte desta velha técnica. Os escândalos na Casa Branca são tantos que até tem gente graúda nos Estados Unidos já fala em impeachment. E até hoje Trump não conseguiu nem nomear um décimo dos altos funcionários absolutamente necessários para governar a maior potência do planeta.

O presidente americano Donald Trump pediu neste domingo (22) aos países muçulmanos que lutem com determinação contra o "extremismo islamita"
O presidente americano Donald Trump pediu neste domingo (22) aos países muçulmanos que lutem com determinação contra o "extremismo islamita" REUTERS/Jonathan Ernst
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A única coisa que vem segurando o país com alguma racionalidade são os generais nomeados para os serviços de inteligência e os cargos de segurança interna e externa. Pasmem! É a primeira vez que a comunidade internacional vê com alívio a mais sólida democracia do mundo nas mãos de militares.

O problema é que o peso dos generais só pode se expressar, de fato, na política externa. Na parte doméstica, quem manda é o Congresso, a Justiça, os governadores de Estados. Os contra-poderes institucionais já começam a duvidar das capacidades intelectuais e até mentais do novo presidente.

A viagem de Trump vai, sem dúvida, aliviar a cuca do magnata-presidente. Mas sobretudo, vai dar uma ideia das principais prioridades diplomáticas do poderoso establishment de defesa e segurança americano.

Já antes desse giro, o presidente foi obrigado a engolir algumas de suas asserções mais insólitas. O projeto de uma grande aliança com Vladimir Putin para lutar contra o terrorismo e de uma atitude camarada com relação às agressões russas na Ucrânia, se empantanou nos escândalos de conivências eleitorais com Moscou e as tentativas de abafar os inquéritos. E, claro, ninguém acredita que foram mãos inocentes que vazaram as informações reservadas sobre as investigações contra colaboradores do presidente.

Trump também teve que dar uma “reviravolta volver” com relação à Europa e a Aliança Atlântica. A OTAN passou de ser considerada “obsoleta” para voltar a ser o pilar básico da segurança internacional americana. E o lourão da Casa Branca, bem enquadrado pelo establishment militar, vai participar nas próximas cúpulas da aliança ocidental, do G7 e do G20 neste final de maio. Nada de namoricos com Putin. Para o Pentágono e os serviços de inteligência, a cooperação estreita com os aliados ocidentais continua sendo uma prioridade máxima.

Trump se mostra como o anti-Obama

A novidade agora é a nova visão americana do Oriente Médio. Os generais compartilham com o novo presidente as críticas ao que consideram como a “moleza” do ex-presidente Barack Obama. Em Riad, Trump apareceu como o anti-Obama. O antigo presidente apostava tudo no diálogo com Teerã e na extrema prudência, tanto na utilização da força quanto na gestão dos protagonistas locais (Turquia, Assad, Curdos, milícias xiitas, aliados árabes).

Donald Trump está virando o jogo, denunciando o Irã e voltando à velha aliança com a Arábia Saudita e as monarquias do Golfo, inimigos figadais de Teerã. E isso depois de mostrar que estava disposto a usar a força bruta, bombardeando uma base militar de Assad e uma coluna de tanques do governo sírio, lançando a bomba convencional mais potente do mundo contra os talibãs no Afeganistão, e armando as milícias curdas na Síria sem conversar com os turcos ou os russos.

O presidente americano até propôs uma “OTAN árabe” para enfrentar o vizinho iraniano e exigiu maior esforço do mundo islâmico para combater o terrorismo. Isso tudo vem mostrando que os Estados Unidos não estão mais a fim de deixar o futuro da região só nas mãos dos russos e dos protagonistas locais. Uma visão que também vale para Israel: apoio claro contra o Irã, mas exigência de que a política israelense também leve em conta os interesses americanos de encontrar uma saída para o conflito com os palestinos.

Nova visão? Sem dúvida. Mas também o velho perigo de afundar de novo no lodaçal geopolítico regional, sem nenhuma garantia de poder sair desse beco sem saída.

* O cientista político Alfredo Valladão publica sua crônica todas as segunda-feiras na RFI

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