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Linha Direta

Japão e EUA se reúnem para discutir tensão com Coreia do Norte

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A crise com a Coreia do Norte será o principal assunto da reunião que acontece nesta quinta-feira (17), em Washington, entre autoridades do Japão e dos Estados Unidos. Os ministros de Defesa e de Relações Exteriores dos dois países devem discutir como responder à ameaça norte-coreana de forma conjunta. Japão e EUA têm uma sólida parceria militar desde 1952.

Tropas japonesas e americanas fazem exercícios conjuntos em Eniwa, na ilha japonesa de Hokkaido, no último dia 15 de agosto.
Tropas japonesas e americanas fazem exercícios conjuntos em Eniwa, na ilha japonesa de Hokkaido, no último dia 15 de agosto. Reuters
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Lígia Hougland, correspondente da RFI em Washington

O foco do Comitê Consultivo é como os Estados Unidos e o Japão podem coordenar sua resposta ao cenário de segurança na Península da Coreia de modo que as duas nações fortaleçam sua segurança bilateral e cooperação em defesa. Também faz parte da pauta uma avaliação do realinhamento contínuo das forças armadas americanas presentes no Japão.

A reunião que acontece nesta quinta-feira (17), em Washington, entre autoridades dos governos do Japão e dos Estados Unidos, é extremamente importante, não apenas porque do lado americano estão o secretário de Estado, Rex Tillerson, e o secretário de Defesa, James Mattis, e do lado japonês estão o ministro das Relações Exteriores, Taro Kono, e o ministro de Defesa, Itsunori Onodera, mas também devido à enorme tensão com a ameaça de ataque de Pyongyang balançando sobre a cabeça das nações da Península da Coreia.

É uma reunião do tipo 2+2, pois envolve duas autoridades de cada país, em um Comitê Consultivo de Segurança.

Parceria histórica do pós-guerra

Estados Unidos e Japão têm uma parceria de defesa bastante sólida, desde que foi firmado o Tratado de Cooperação Mútua e Segurança entre as duas nações, em 1952. No máximo 1% do PIB do Japão é gasto com despesas militares.

Em troca da presença militar no país, os Estados Unidos devem defender o Japão contra possíveis adversários, como a Coreia do Norte. Milhares de japoneses trabalham em bases americanas, e a maioria da população aprova o tratado de segurança e a presença militar americana na ilha.

Exercícios militares

Mesmo em meio a esse período de grande tensão, o Japão continua conduzindo exercícios militares com os americanos, o que deixa Jong Un nervoso, pois esses treinamentos servem para mostrar a solidariedade entre os aliados para preservar a paz na região. Além de exercícios com caças japoneses nesta semana, a força militar americana também fez treinamento com aviões de bombardeio da Coreia do Sul.

A Coreia do Norte vê isso como uma ameaça de invasão e a China acha que esse tipo de exibição causa ainda mais tensão.

Novas sanções à Coreia do Norte

No entanto, os últimos desenvolvimentos indicam que situação deve voltar ao status quo, ou seja, uma animosidade constante relativamente confortável para todos.

A comunidade internacional deixou claro que prefere conter a ameaça norte-coreana por meio de ferramentas diplomáticas, como sanções ainda mais severas que as já impostas à ditadura comunista.

O secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, disse, nesta semana, que estava na hora de acalmar a retórica e aumentar a diplomacia, e que tinha dito à Rússia, Japão, Estados Unidos, China, Coreia do Sul e Coreia do Norte, que estava disponível para servir de intermediário para um diálogo entre as nações.

“A solução para essa crise precisa ser política, pois as consequências de uma ação militar seriam muito horríveis de sequer serem contempladas’, disse Guterres.

A China, que compra mais de 90% das importações da Coreia do Norte, provou estar do lado da ONU ao impor ainda mais sanções a Pyongyang.

Kim Jong Un e Donald Trump, dois líderes imprevisíveis

O que passa pela cabeça de Kim Jong Un é o maior mistério da política internacional. Muito se discute em Washington se ditador sofre de distúrbio psiquiátrico ou apenas se faz de mentalmente instável para manipular as outras nações.

Há seis décadas, o mundo tem praticamente ignorado a ameaça da Coreia do Norte. Isso faz a comunidade internacional, no mínimo, pagar um preço moral por permitir que 25 milhões de pessoas vivam em um regime de praticamente campo de concentração, ao não interceder com a ditadura comunista.

Além disso, as décadas foram passando e, agora, o mundo se encontra em uma situação de praticamente refém da Coreia do Norte, pois o regime teve tempo e oportunidade de desenvolver um dos maiores exércitos do planeta, ter mísseis de longo alcance e, possivelmente, armas nucleares.

Com Trump na Casa Branca, Jong Un finalmente se depara com um rival que também apresenta comportamento imprevisível. Há quem ache que a fala grossa de Trump pode ter o efeito de intimidar Jong Un.

Depois de ter ameaçado atacar Guam, que é território americano, esta semana Jong Un assumiu um tom mais moderado. A técnica de Trump, certamente, é muito arriscada, pois se Jong Un é mesmo mentalmente perturbado, a briga pode escalar até o ponto de uma catástrofe.

No entanto, alguns analistas acreditam que o interesse de todas as partes envolvidas, inclusive a Coreia do Norte, é manter o status quo. O aspecto desencorajador é que, se Jong Un tiver como exemplo Saddam Hussein, do Iraque, e Muammar Kadhafi, da Líbia, ele não vai abrir mão de um programa nuclear, pois os regimes - e a vida - dos dois ditadores chegaram ao fim depois que eles desistiram de seus programas nucleares.

Diplomacia japonesa

O Japão pode ter um papel fundamental em uma resolução diplomática com Coreia do Norte, e Pyongyang sabe disso. Esta semana foi divulgado que o ministro das Relações Exteriores norte-coreano, Ri Hong Ho, fez uma oferta de diálogo ao ministro das Relações Exteriores do Japão, durante as reuniões regionais em Manila, capital das Filipinas, no início de agosto.

A conversa entre Tóquio e Washington pode, portanto ser surpreendentemente produtiva, apesar de as duas nações dizerem que se recusam a ter um diálogo com a Coreia do Norte se essa não abandonar seus programas de armas nucleares e mísseis. Mas há quem diga, como a embaixadora para a ONU durante o governo de Barack Obama, Samantha Power, que talvez seja preciso simplesmente aceitar a Coreia do Norte como uma potência nuclear.

O dilema não vai ser resolvido facilmente. Mas, pela primeira vez, Jong Un deu um leve indício de bandeira branca. Quem sabe ele é fã de Donald Trump como é do também excêntrico Dennis Rodman, herói do basquete americano que já foi recebido diversas vezes em Pyongyang como grande amigo de Jong Un.

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