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O Mundo Agora

Decisão de Trump sobre Irã cria perspectiva de nova crise nuclear

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Mais uma “trumpada” do presidente americano. O lourão da Casa Branca resolveu não mais “certificar” que o Irã vem cumprindo o acordo nuclear assinado pelo seu antecessor Barack Obama. Depois da Coreia do Norte, mais uma crise nuclear em perspectiva. O pacto com o Irã, também assinado pelos outros membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e pela Alemanha, não é perfeito. Mas já permitiu congelar o programa atômico militar da República Islâmica por um período de dez a quinze anos.

O presidente americano, Donald Trump, lançou nesta sexta-feira uma nova estratégia com o Irã ao prometer enfrentar o "fanático regime" e não certificar o acordo nuclear internacional alcançado em 2015, que ameaçou abandonar a qualquer momento.
O presidente americano, Donald Trump, lançou nesta sexta-feira uma nova estratégia com o Irã ao prometer enfrentar o "fanático regime" e não certificar o acordo nuclear internacional alcançado em 2015, que ameaçou abandonar a qualquer momento. REUTERS/Kevin Lamarque
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Para evitar uma corrida aos armamentos atômicos no Oriente Médio e a possibilidade de uma guerra aberta entre o Irã e Israel, as grandes potências empurraram com a barriga. Dez anos de calma, e depois os próximos presidentes que se virem. A aposta é que os iranianos, com o passar do tempo, vão acabar entendendo que é melhor abandonar o projeto de virar potência nuclear do que arriscar uma guerra generalizada.  

Donald Trump já havia declarado várias vezes que era “o pior acordo jamais assinado pelos Estados Unidos”. Só que, como sempre com Trump, tem mais vento do que substância. Não certificar não significa romper, mas simplesmente transferir a batata quente para o Congresso.

Quando Obama conseguiu tirar esse coelhão da cartola, o acordo era tão impopular no Senado, que não foi nem apresentado para uma aprovação oficial. Ficou só a obrigação da “certificação” presidencial cada 90 dias. Se o presidente não certifica, o Senado tem 60 dias para dar um jeito: ou não faz nada, ou restabelece as sanções econômicas contra o Irã – o que significa denunciar o acordo – ou então inventa uma “pizza” que seria pressionar Teerã para começar a negociar também o fim de seu programa de mísseis balísticos e a presença iraniana nos outros teatros estratégicos regionais. Por enquanto, ninguém sabe o que vai acontecer.

Trump mira Teerã de olho na política interna americana

No Congresso americano, o bloco hostil ao Irã é enorme. Mas é difícil simplesmente jogar fora o acordo quando os inspetores da Agência de energia atômica, os outros países signatários e os próprios militares e serviços de segurança americanos continuam afirmando que os iranianos respeitam tudo direitinho. E quando há perigo de tensões militares imediatas e graves.

Na verdade, essa nova cabeçada de Trump tem muito mais a ver com a política interna. Desde que foi eleito o magnata tenta desmantelar todo o legado de Obama. Mas até hoje, não conseguiu emplacar nenhuma iniciativa de peso.

Sobretudo porque uma parte significativa do establishment republicano no Congresso, além dos militares que cercam e tentam controlar o presidente, não estão a fim de encampar todas as loucuras da Casa Branca. Só que a base popular radical de Trump começa a cansar de esperar as promessas de campanha. O lourão acha que para frear a queda nas sondagens, tem que lançar carne crua para os seus seguidores. E o resto do mundo que se dane.

Política externa compromete credibilidade?

O problema é que o mundo vai perdendo confiança não só na capacidade americana de administrar as grandes crises de maneira racional, mas também na própria palavra dos Estados Unidos.

Trump já denunciou unilateralmente as negociações comerciais com a Ásia – o TPP – e não esconde a sua vontade de acabar com o acordo comercial da América do Norte (o NAFTA). Ao mesmo tempo ele vem bloqueando o tribunal da Organização Mundial do Comércio e a reforma do FMI e do Banco Mundial, e agora decidiu se retirar da UNESCO.

Frente ao desafio nuclear da Coreia do Norte, o que vai ser da presença americana na Ásia-Pacífico, e da paz na região, se tanto Pyongyang quanto Seul, Tóquio ou Pequim não podem mais confiar nos compromissos tomados pelos Estados Unidos? Uma política externa refém de jogadinhas perigosas para acalmar uma base radicalizada que não entende nada do mundo: não é a melhor maneira de pilotar a maior potência do planeta e seu colossal arsenal nuclear e convencional.

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