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EUA

Autor de livro sobre caos na Casa Branca acredita que Trump vai renunciar

Nada de Kim Jong-Un ou Vlamidir Putin. O homem que tornou a vida do presidente Donald Trump um verdadeiro pesadelo, é ironicamente, um americano. Michael Wolff, autor da polêmica obra que incendiou os bastidores da Casa Branca nesta semana, acredita que as revelações que vieram à tona em seu livro vão obrigar o republicano a renunciar. 

Obra "Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump" (tradução livre), em livraria de Nova York.
Obra "Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump" (tradução livre), em livraria de Nova York. Reuters
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"Acho que um dos aspectos interessantes do livro é que ele tem claramente o efeito de mostrar 'o rei nu'", declarou o jornalista, em entrevista à BBC neste sábado (6). Para Wolff, os relatos de mais de 200 funcionários americanos que utilizou em "Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump" (tradução livre) provam que o presidente americano "não pode mais continuar trabalhando". 

"De repente, as pessoas começam a dizer em todo o lugar: 'oh, meu deus, é verdade, ele não está vestido!'". É esse é a origem da ideia sobre o fim dessa presidência", reiterou o jornalista.

Traição e antipatriotismo

O terremoto que sacode a vida de Trump teve início na quarta-feira (3), quando o jornal britânico The Guardian revelou trechos explosivos da obra que mostram o total desgoverno da administração do bilionário republicano. O diário reproduziu uma revelação que o ex-chefe de Estratégia da Casa Branca, Steve Bannon, fez à Wolff sobre uma reunião secreta do filho do presidente americano, Trump Jr., com uma advogada russa durante a campanha eleitoral americana de 2016. O objetivo seria realizar um complô contra a então candidata americana Hillary Clinton. 

"Três altos cargos da campanha pensaram que era uma boa ideia se reunir com um governo estrangeiro dentro da Trump Tower na sala de conferências do 25º andar. Sem advogados", declara Bannon no livro. Ele faz referência ao encontro de Trump Jr., do assessor e genro do presidente americano, Jared Kushner e de seu então chefe de campanha, Paul Manafort, com a advogada russa Natalia Veselnitskaya. Segundo Bannon, as negociações não progrediram porque ela estava apenas interessada em discutir uma lei sobre adoção de menores de idade russos nos Estados Unidos. 

Na obra, Bannon não poupa palavras para expressar sua opinião sobre o episódio: "ainda que alguém pensasse que isso não é traição, que tampouco é antipatriótico, ou que simplesmente é uma merda - e eu acho que foram as três coisas -, alguém deveria avisar o FBI imediatamente".

Poucas horas depois da publicação da notícia pelo The Guardian, Trump rompeu publicamente com seu o ex-chefe de Estratégia, a quem acusou de ter perdido a razão. O presidente americano chegou a emitir um comunicado, acusando Bannon de vazar informações falsas para aparentar ser mais importante do que realmente era. "Quando foi despedido (da Casa Branca), não só perdeu seu trabalho, mas também perdeu a razão", afirmou o presidente.

Advogados tentam impedir lançamento da obra

Na quinta-feira (4), os advogados de Trump anunciaram que trabalhavam para a suspensão do lançamento e distribuição do livro. Em uma carta de 11 páginas, os magistrados também exigiram que os responsáveis pela obra publicassem "uma retratação plena e completa, bem como um pedido de desculpas". 

A essa altura, a obra já circulava nas redações dos principais jornais americanos. Na mesma noite, a reserva do livro já estava esgotada no site da Amazon, que se tornou o item com maior volume de compra antecipada da história da gigante online de vendas. 

Previsto para chegar às livrarias na próxima terça-feira (9), os editores também resolveram antecipar o lançamento de "Fogo e Fúria" para a sexta-feira (5), com o objetivo de aproveitar o buzz em torno do livro. 

Trechos polêmicos

O jornalista americano Michael Wolff já está acostumado a polêmicas, mas sua mais recente obra superou todas as expectativas. Aos 64 anos, ele passou 18 meses estudando o entorno político de Donald Trump, da campanha eleitoral à chegada à Casa Branca, e ouviu mais de "200 pessoas", incluindo o próprio presidente e vários de seus assessores.

Wolff conseguiu entrevistar Trump em junho de 2016 e, após sua vitória, teve acesso à Casa Branca, onde se tornou "uma mosca na parede", como ele próprio definiu. O resultado foi um livro explosivo que mostra uma Casa Branca permanentemente submersa no mais completo caos.

Além da reunião relatada por Bannon, o livro revela vários outros episódios controversos do presidente americano, como o desespero do presidente ao descobrir que tinha sido eleito. "Quando o inesperado parecia se confirmar - que Trump poderia realmente vencer -, Don [Donald Trump] Jr disse a um amigo que seu pai, ou DJT, como ele o chamava, parecia ter visto um fantasma. Melania estava em prantos, e não era de alegria. E então, no espaço de pouco mais de uma hora, um Trump confuso deu lugar a um Trump incrédulo e, em seguida a um Trump aterrorizado. Mas ainda ocorreria a transformação final: de repente, Donald Trump se tornou um homem que acreditava que merecia ser, e estava totalmente capacitado para ser, o presidente dos Estados Unidos". 

A obra também fala da pretensão da filha de Trump, Ivanka, que, segundo Wolff, quer se tornar a primeira presidente mulher dos Estados Unidos. "Equilibrando riscos e resultados, tanto Jared quanto Ivanka decidiram aceitar cargos na Ala Oeste [parte administrativa da Casa Branca], contrariando os conselhos de quase todos que conheciam. Foi uma decisão conjunta do casal e, em algum sentido, um trabalho conjunto. Os dois fizeram um acordo entre si: se em algum momento no futuro surgir a oportunidade, ela vai se candidatar à Presidência. A primeira mulher presidente nos Estados Unidos, pensa Ivanka, não será Hillary Clinton, será Ivanka Trump."

Segredos de família

Além disso, revela detalhes que ridicularizam o presidente americano, como o fato do medo de ser envenenado e se alimentar basicamente no McDonald's, onde "a comida estava seguramente pré-preparada". Também fala da controversa vida de casal de Trump e sua esposa, Melania: os dois dormiriam, segundo Wolff, em quartos separados. 

A obra também revela problemas de relacionamento entre o presidente e a filha, Ivanka, que "trata seu pai com certo distanciamento, inclusive com ironia, a ponto de fazer brincadeiras com os outros sobre seu penteado".

No livro, Wolff escreve que Ivanka contou a amigos que Trump tem uma parte totalmente calva no topo da cabeça depois de ter feito uma cirurgia de redução da pele do crânio. A cor, segundo Ivanka, se deve a um produto chamado 'Just for Men' [apenas para homens, em português], que o presidente americano não tem paciência para deixar agir e que, por isso, ganha a estranha tonalidade loura-alaranjada como resultado. 

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