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Cuba/ presidência

“Fim do reino Castro” é visto com esperança e desconfiança em Cuba

Chega ao fim da era Castro na liderança do país, depois de seis décadas. O número 2 do governo cubano, Miguel Diaz-Canel, foi eleito nesta quinta-feira (19) pela Assembleia Nacional como o novo presidente de Cuba. Ele era o único candidato à sucessão do presidente Raúl Castro, irmão de Fidel e que ficou 10 anos no poder. Diaz-Canel é um engenheiro eletrônico de 57 anos que não pertence à geração dos revolucionários cubanos.

Vice-presidente Miguel Diaz-Canel e sua esposa, Lis Cuesta, andam por Santa Clara no dia das eleições legislativas, ocorridas em 11 de março.
Vice-presidente Miguel Diaz-Canel e sua esposa, Lis Cuesta, andam por Santa Clara no dia das eleições legislativas, ocorridas em 11 de março. REUTERS/Alejandro Ernesto/Pool/File Photo
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Romain Lemaresquier, enviado especial da RFI a Havana

Para parte da população, o futuro presidente encarna a esperança da renovação da política e economia do país – iniciada, mas não consolidada, por Raúl. Porém o “fim do reino Castro”, como alguns têm se referido a essa página histórica de Havana, suscita desconfiança.

“Sabemos que Diaz-Canel não passa de um sucessor no governo, uma marionete", comenta o desempregado Pablo Morales Machado, nas ruas de Havana. Diaz-Canel é militante do Partido Comunista desde a juventude.

A nomeação de novo presidente coloca um fim ao castrismo na liderança do país, mas Raúl Castro permanecerá na presidência do Partido Comunista de Cuba, o único partido do país, até o próximo congresso do partido, em 2021. Ele também continuará no comando das Forças Armadas.

“Raúl representou a continuidade do legado deixado por Fidel e determinou as estratégias para o país nos próximos cinco ou 10 anos. Algumas reformas econômicas já estão planejadas para até 2030”, afirma a jornalista Nuria Barbosa Casa, do grupo Granma, considerado o veículo de imprensa do Partido Comunista. “Essa foi a maior herança da sua presidência”, indica.

Reformas inacabadas

As reformas de Raúl não foram suficientes”, critica o dissidente Manuel Cuesta Morua. “Foram reformas que afetaram a pequena burguesia, como os castristas gostam de falar, e não satisfazem a maioria da população. Eles não fizeram nada em favor dos microempreendedores, por exemplo, que foi um setor que eles mesmos criaram”, explicou.

O dissidente destaca o peso dos “impostos confiscatórios” exigidos pelo governo, que, segundo ele, “impedem os pequenos empresários de se desenvolver economicamente, por medo da criação de uma classe média ou baixa, em todo o país”. “Os castristas não permitiram que os cubanos que demonstraram uma boa capacidade de gestão das próprias economias privadas investissem em outros projetos, ou se desenvolvessem ainda mais nos próprios negócios. Essa foi uma parte enorme das reformas que ficou em suspenso e, assim, não se permitiu a estruturação da economia com um mercado interno”, acusa Morua, que avalia que os cubanos não terão a mesma complacência com Dias-Canel, por estarem “ávidos por mudanças”.

Prontos para mais mudanças

Apesar de ser próxima ao poder, Nuria Casa não deixa de concordar. “Há muitos anos, ouvimos que as mudanças vão acontecer, que a geração histórica da revolução não estará mais no comando para continuar o processo histórico que vive Cuba. Acho que nós, cubanos, estamos prontos”, comenta a jornalista. “A revolução somos todos nós e, enquanto processo histórico, essa revolução vai continuar.”

Para Machado, com as reformas inacabadas, Raúl deixa de herança “um país ainda pior”. “Ele se apresentou com um bom gestor, mas não é verdade. Devido ao medo, ao seu conservadorismo e por não ter capacidade, afinal estava diante de pessoas que resistiram a qualquer mudança, ele não fez tudo que deveria. E nós só descobrimos que seria assim com o tempo”, lamenta.

O desempregado avalia ainda que, no fundo, o irmão de Fidel quis apenas ganhar tempo para preparar a mudança de gerações no poder e, desta forma, “os Castro não serem responsabilizados por todos os crimes contra a Humanidade que eles cometeram”.

Além da troca de presidente, o cargo de presidente do Congresso foi atribuído a Esteban Lázaro Hernández, um afro-cubano, e uma mulher foi eleita vice-presidente do Parlamento: Ana Maria Machado. Ambos foram eleitos com 100% dos votos e significam escolhas inovadoras em Cuba.

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