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Colômbia / Eleições / FARC / Política

Eleições na Colômbia podem colocar em xeque acordos de paz com as FARC

As eleições presidenciais, que esse domingo (27) levarão os colombianos às urnas, são as mais importante das últimas décadas. Não só porque o destino dos acordos de paz assinados com as FARC depende de quem seja eleito, mas também porque nunca antes um candidato da esquerda esteve tão perto de chegar ao cargo mais importante do país.

Funcionário prepara faixas das eleições presidenciais da Colômbia, Bogotá (26 de maio de 2018)
Funcionário prepara faixas das eleições presidenciais da Colômbia, Bogotá (26 de maio de 2018) REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
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Andrea Domínguez, correspondente da RFI em Bogotá

O mais provável é que haja um segundo turno em junho e de acordo com as últimas pesquisas Gallup, os favoritos são Iván Duque, do partido de direita, apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, com 41% das intenções de voto, e o ex-guerrilheiro do extinto movimento M19, Gustavo Petro, com 31%.

Porém, uma surpresa de último minuto não está descartada. O professor universitário e ex-prefeito de Medellín, Sérgio Fajardo, ficou conhecido após liderar a transformação social e de segurança na segunda maior cidade do país. Ele é o terceiro nas pesquisas, com 12% da intenções de voto, e vem conquistando uma curva ascendente nas últimas semanas.

A proposta de Fajardo é centrista e recebeu o apoio de intelectuais e políticos pouco tradicionais, como o ex-prefeito de Bogotá e senador eleito, Antanas Mockus. Já as duas propostas que lideram as pesquisas estão em extremos opostos do espectro político: enquanto Duque adverte que fará reformas importantes aos acordos de paz com as FARC e defende uma visão liberal na economia do país, Petro garantiu que respeitará o pacto com a ex-guerrilha e defende uma série de reformas para o Estado.

Os outros dois candidatos, com menos de 10% das intenções de voto, são German Vargas, ex-vice-presidente do atual mandatário Juan Manuel Santos, e Humberto De La Calle, principal negociador dos acordos de paz com as FARC.

Clima de tensão

Com pelo menos trinta debates presidenciais, essa tem sido uma das campanhas mais polarizadas da história recente, acirrada pelo fogo da beligerância nas medias sociais. Frases como “Duque é um títere de Uribe” contra o candidato direitista, ou “Petro é o Maduro da Colômbia”, contra o candidato da esquerda, converteram o debate em um cenário de amor e ódio entre os eleitores. Algumas pessoas prognosticam que a paz com as FARC vai desabar se Duque for eleito, enquanto os outros receiam que se Petro ganhar, a Colômbia irá virar uma segunda Venezuela.

Na semana passada, uma denúncia de Gustavo Petro deixou o ambiente ainda mais tenso. O candidato alertou para a possibilidade de uma fraude massiva e afirmou que o software usado pelo Tribunal Eleitoral colombiano na contagem dos votos não é seguro.

Para responder a essa acusação, a autoridade eleitoral agilizou o trâmite para facilitar o credenciamento de representantes de cada partido nas mesas de votação. O próprio presidente Santos respondeu que, pela primeira vez, haverá 32 tribunais de garantias em todas as províncias do país.

Essa é a primeira eleição em cinquenta anos sem a existência das FARC como guerrilha, o que, segundo analistas políticos, pode ser um dos motivos pelos quais a esquerda não armada encontrou um caminho expressivo no movimento Colômbia Humana, de Petro.

Entre dois extremos

Gustavo Petro é um economista nascido na costa caribenha do país e criado em Zipaquirá, uma pequena cidade perto de Bogotá. Como jovem vereador de Zipaquirá entrou em contato com as células urbanas do Movimento 19 de Abril, M19, ao qual se juntou pouco depois. Esteve preso pela sua participação na guerrilha e depois de uma anistia para o grupo, Petro foi eleito congressista em várias oportunidades e recentemente, foi prefeito de Bogotá.

Iván Duque é advogado e se for eleito seria o presidente mais novo da história, com 41 anos de idade. Duque é analista do Banco Interamericano de Desenvolvimento e foi senador da República. Seu padrinho político é o ex-presidente e senador eleito Álvaro Uribe, um fator positivo em sua campanha, mas também alvo de uma certa rejeição popular. 

Outra grande pergunta que será respondida neste domingo é se a intensa polarização e as fervorosas discussões despertadas na campanha política conseguirão vencer o problema da abstenção.

Desde os anos 90, a abstenção nas eleições tem superado a marca de 50%, com apenas uma exceção, quando chegou a 48%. Nas últimas eleições legislativas, chegou a 53%. No “Plebiscito pela Paz” em que se consultou o povo sobre o acordo de paz com as FARC, 6 de cada 10 cidadãos habilitados para votar não compareceram às urnas.

Em pleno século XXI, ainda há no país 360 municípios reconhecidos como de difícil acesso. Para milhares de colombianos, ainda é preciso viajar cinco ou seis horas por rios ou estradas para chegar em tempo para votar. E aos olhos de muitos, o esforço ainda não parece valer a pena.

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