Confrontos durante protestos na Nicarágua já causaram uma centena de mortes
Os confrontos durante as manifestações exigindo a partida do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, fizeram uma centena de mortos desde abril, de acordo com um balanço publicado na quinta-feira (31) pelo Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos (CENIDH). Os últimos conflitos deixaram pelo menos 11 mortos por tiros e 79 feridos nas cidades de Managua, Leo e Masaya. A polícia matou 15 pessoas e feriu outras 200.
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A Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN), que propôs estabelecer um diálogo entre o governo e a oposição, disse nesta sexta-feira (1°) que isso não seria possível enquanto a repressão violenta não cessar.
“Nós, os bispos da CEN, condenamos todos os atos de repressão por parte de grupos próximos ao governo e queremos afirmar claramente que o diálogo nacional não poderá continuar enquanto negarmos ao povo da Nicarágua o direito de se manifestar livremente”, afirmou a instituição. “Massacre! Atiram em manifestantes pacíficos!”, publicou nas redes sociais o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Baez.
Daniel Ortega, por sua vez, denunciou na quinta-feira uma “conspiração” da oposição que procura “aterrorizar” a população, fazendo referência às violências de quarta-feira (30). “Não há grupos de choque ou paramilitares próximos ao governo, portanto nós não podemos aceitar que nos acusem de fatos trágicos e dolorosos que não provocamos e que nunca provocaremos”, declarou o chefe de Estado.
Durante os incidentes, as sedes da rádio Ya, pró-governo, e da Dario, da oposição, foram destruídas. O canal de televisão 100% Notícias, censurado durante alguns dias em avril devido à sua cobertura das manifestações, também foi alvo de ataques.
Comunidade internacional condena violências, Mas Ortega diz que não vai ceder
Ortega é um antigo herói da revolução sandinista que lutou contra a ditadura em 1979 e que se vê, hoje, frente a uma forte contestação popular. As revoltas foram provocadas pelo abandono da reforma da Previdência e se tornaram rapidamente um movimento geral de rejeição do presidente, acusado de confiscar o poder.
Eleito em 2007, após uma primeira experiência de 1979 a 1990, o chefe de Estado perde cada dia mais seus apoios políticos – na quarta-feira, vários empresários, aliados tradicionais do presidente, afirmaram publicamente que se distanciariam de Ortega.
A comunidade internacional também já se pronunciou: ontem o Parlamento Europeu disse “condenar a repressão brutal e a intimidação dos manifestantes que se opõem de maneira pacífica à reforma da previdência social na Nicarágua”. Os deputados europeus criticam o “desaparecimento e a truculência arbitrária das autoridades, das forças armadas, da polícia e de grupos violentos que apoiam o governo”. A Anistia Internacional e a Corte Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) fizeram declarações similares.
A França também denunciou a situação, convocando “todas as partes a renunciar a violência e a trabalhar para a criação de um mecanismo de investigação internacional, antônomo e independente”.
Apesar de todas as críticas, Daniel Ortega afirma veementemente que não partirá, rejeitando as reivindicações da oposição de que sejam feitas eleições antecipadas. O presidente tem um mandato que vai até 2022.
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