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Argentina/FMI

Momentos antes do G20, Christine Lagarde é recebida sob protestos em Buenos Aires

Se em março passado, durante a primeira reunião econômica do G20, a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, pôde andar a pé pelas ruas de Buenos Aires como uma ilustre desconhecida, desta vez, na terceira reunião, o cenário é diametralmente oposto.  

Manifestante com máscara do rosto de Christine Lagarde, a chefona do FMI, durante protesto em Buenos Aires, em 3 de julho de 2018.
Manifestante com máscara do rosto de Christine Lagarde, a chefona do FMI, durante protesto em Buenos Aires, em 3 de julho de 2018. REUTERS/Martin Acosta
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O governo argentino tem o apoio do FMI, mas enfrenta protestos nas ruas. A número 1 do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, inicia nesta sexta-feira (20) a sua agenda de reuniões durante a terceira reunião de ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais das vinte maiores economias do mundo, aglutinadas no 20. Entre a primeira reunião em março e o terceiro encontro de agora, a Argentina precisou recorrer ao FMI com um acordo financeiro de US$ 50 bilhões, fechado em junho.

Em cada ponto da sua agenda em Buenos Aires, Lagarde terá algum tipo protesto organizado por partidos de esquerda, movimentos sociais e sindicatos, todos opositores ao governo de Mauricio Macri. A série de manifestações é ainda contra a política econômica do presidente argentino. Em diversos pontos da cidade, concentrações e interrupções no trânsito anunciam o repúdio ao acordo com o FMI.

Desde cedo, líderes sindicais, políticos e sociais da oposição concentraram-se na 9 de Julho, avenida mais central de Buenos Aires, para marcharem ao Ministério do Desenvolvimento Social por um lado e ao Banco Central por outro. O lema é o mesmo: contra o ajuste que implica o acordo com o FMI.

Sem aval dos trabalhadores

"Se o FMI vem em busca de consenso social, não vai ter o aval dos trabalhadores. Uma situação assim vai abrir um conflito infinito", avisou Juan Carlos Schmid, um dos líderes da Confederação Geral do Trabalho, central ligada à oposição peronista. Outra central sindical, a dos Trabalhadores Argentinos (CTA) elaborou uma carta a Lagarde na qual classificam o acordo com o FMI como "odioso e repudiável" porque representa um "ajuste no gasto social".

Esses anúncios de "conflito infinito" poderão ser experimentados por Christine Lagarde quando se reunir com o presidente Mauricio Macri na residência presidencial de Olivos. A equipe de Lagarde terá esse encontro com os ministros argentinos da área econômica enquanto, do lado de fora da residência, e os manifestantes pretendem fazer com que o ruído de panelas em protesto chegue ao interior da reunião.

Na manhã de sábado (21), enquanto o ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, e a diretora do FMI, Christine Lagarde, tiverem o primeiro contato oficial com a imprensa no Centro de Convenções onde ocorre a reunião de ministros do G20, do lado de fora, partidos de esquerda vão iniciar a segunda jornada de protestos.

"A presidente do FMI vem aplicar um plano de miséria social e de entrega nacional pactuado com o governo Macri. Impulsionam demissões maciças, reduções salariais e aumentos tarifários" denuncia numa nota a coligação Frente de Esquerda, que reúne os manifestantes.

Guerra comercial

Christine Lagarde vem a Buenos Aires para reunião do G20 na qual se discute a economia global a partir da guerra comercial deflagrada por medidas de Donald Trump, mas também para acompanhar de perto a situação econômica da Argentina, o país emergente mais afetado pelas recentes mudanças no panorama mundial.

Desde o final de abril, o peso argentino acumula uma desvalorização em torno de 40% e a inflação acumulada no primeiro semestre chega a 16%, projetando-se acima de 30% no ano. Anualizada, a inflação acumulada de junho de 2017 a junho passado chega a 29,5%. Pelo acordo com o FMI, se a inflação anualizada superar os 29% ou a anual passar de 32%, o governo argentino terá de explicar ao Fundo sua visão sobre os motivos e acertar com o organismo uma política para corrigir o desvio.

O déficit fiscal de 2018 não poderá superar os 2,7% do PIB enquanto o de 2019 -ano eleitoral- não poderá passar de 1,3%. A drástica redução implicará um ajuste nas contas públicas que leva a oposição a repudiar o acordo, mas também a desgastar o governo Macri que, até abril antes da crise, tinha cacife político suficiente para ser reeleito no ano que vem.

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