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Apoiar oposição a Maduro é ingênuo e perigoso, diz especialista da Unicamp

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As manifestações de rua pró e contra o governo de Nicolás Maduro convocadas nesta quarta-feira (23) refletem o agravamento de uma situação já bastante polarizada na Venezuela. E a busca por soluções como as defendidas por líderes da região, como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, de troca de comando do poder em Caracas, podem gerar ainda mais instabilidade no país. A opinião é do pesquisador Flávio Mendes, do departamento de Sociologia da Unicamp.

O pesquisador do departamento de Sociologia da Unicamp, Flávio Mendes.
O pesquisador do departamento de Sociologia da Unicamp, Flávio Mendes. Foto: Arquivo Pessoal
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“As manifestações podem representar um risco se a violência levar a um endurecimento por parte do governo e desencadear um descontentamento por parte dos militares”, avalia.

As Forças Armadas serão mais uma vez o fiel da balança, como em outros momentos da história recente do país. “Maduro ainda conta com apoio dos militares e de boa parte das Forças Armadas. Mas a gente já percebe uma mudança”, consta.   

Para o especialista, iniciativas como a do autoproclamado presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, de oferecer anistia aos militares que abandonarem o governo representam um verdadeiro risco de uma “ruptura democrática”.

Mendes observa que existe uma tendência de olhar a Venezuela por um viés muito polarizado, como se a oposição e o chavismo fossem homogêneos. “É arriscado e simplista adotar a posição de um lado ou de outro. Não vejo solução para Venezuela passando pela queda do Maduro, com o Guaidó assumindo de fato a presidência”, estima Mendes, autor do livro “Hugo Chavez em seu labirinto”, publicado em 2012 pela editora Alameda.

Vizinhos com visão “simplista”   

A resposta dos países vizinhos da Venezuela tem sido “simplista” e baseada em um “revanchismo ideológico”, de acordo com o pesquisador.

“Não há uma força política que seja capaz de estabelecer uma hegemonia com um governo com uma duração razoável na Venezuela para resolver a crise. A postura que se tem hoje de apoiar a oposição, como se fosse a solução, é muito ingênua ou, eu diria, até muito perigosa”, afirma. 

Isso porque, segundo Mendes, a composição da oposição e as estratégias que tem adotado para derrubar Maduro apontam para uma solução que também seria autoritária. “As consequências, até sob o ponto de vista dos direitos humanos, seria um agravamento da crise atual e não uma solução de fato”, aposta.

“A solução está muito longe da postura que a oposição e o próprio Maduro tem adotado e que alguns países têm replicado de uma polarização muito simples. A situação da Venezuela é muito mais complexa que isso”, argumenta.

A sinalização do presidente Bolsonaro de querer uma mudança no comando político da Venezuela, como expressada novamente na segunda-feira (21) ao desembarcar em Davos, é equivocada e alvo de críticas, segundo ele.

“O Brasil deveria assumir mais uma postura de mediador do caso e não olhar para a situação da Venezuela com essa visão simplista, baseada nesta dicotomia de esquerda e direita, de um revanchismo ideológico que marca o governo”, avalia.

Flávio Mendes insiste que o governo brasileiro e outros, como da Argentina, por exemplo, têm apenas se somado à  polarização violenta que existe na Venezuela, colocando-se de um lado que também representa uma solução autoritária.

"Apesar do que houve nas últimas eleições,e isso é reconhecido internacionalmente, Maduro ainda tem uma base de apoio, apesar de ter perdido muitos eleitores. Uma solução que passe por uma ruptura, como reivindicam militares rebeldes que querem derrubar o governo, não é a melhor saída para superar a crise atual”, conclui.

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