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Venezuela/ apagão

Venezuelanos relatam caos gerado por apagão histórico

Um apagão histórico que já supera 16 horas na Venezuela obrigou o governo a suspender o dia de trabalho e as aulas nas escolas nesta sexta-feira (8). Um dos mais longos cortes de energia elétrica dos últimos anos provocaram caos em serviços como hospitais, transportes e comunicações.

Venezuelanos fazem fila para recarregar o celular em um ponto de energia solar.
Venezuelanos fazem fila para recarregar o celular em um ponto de energia solar. REUTERS/Carlos Jasso
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“É horrível. O apagão afetou a prestação de serviços públicos generalizados”, afirmou Geraldo Torres, morador de Maracaibo, no noroeste do país, em entrevista à RFI. “Na minha rua, as pessoas subiram para os telhados das casas para poder dormir porque o calor era muito intenso durante a noite.”

A falta de luz se espalhou por todo o país. Na região central, Tibisay Romero, habitante de Valencia, conta que foi ficando cada vez mais apreensiva na medida em que o governo não fornecia nenhuma explicação sobre o que estava acontecendo. “As horas foram passando e não havia qualquer informação oficial sobre a razão do apagão”, relata, à RFI. “Fiquei com muita preocupação porque não tinha luz em lugar nenhum, nem nas ruas, nem nos semáforos. Vivo num bairro mais retirado e essa situação me deixou bastante tensa. Nem consegui dormir nesta noite.”

Desde o início do apagão, o governo do presidente Nicolás Maduro acusa os Estados Unidos de liderar uma "guerra elétrica" e fala de "sabotagem imperialista".

“Ninguém sabe quantas horas mais ficaremos sem luz”, comenta Tibisay.

O governo parece não saber informar quando a energia será restabelecida. O cancelamento do dia de trabalho e das aulas ocorreu "com o objetivo de facilitar os esforços para a recuperação do serviço de energia elétrica no país, vítima da guerra elétrica imperialista", tuitou a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez.

Caos em todo o país

Hospitais em colapso, voos cancelados no aeroporto internacional Simón Bolívar, as principais cidades sem energia elétrica desde 16h50 de quinta-feira (17h50 de Brasília). A Venezuela ficou isolada, com as fronteiras fechadas.

Shopping center de Caracas fica vazio em meio a apagão na Venezuela.
Shopping center de Caracas fica vazio em meio a apagão na Venezuela. REUTERS/Ivan Alvarado

De acordo com a imprensa, o apagão afeta praticamente todo o país, com cortes em 23 dos 24 estados e na capital. As linhas telefônicas e a internet funcionam de modo intermitente. A economia está completamente paralisada - ninguém consegue sacar dinheiro dos caixas eletrônicos, nem pagar com cartões de crédito.

Na quinta-feira, o serviço de telefonia e o metrô de Caracas interromperam os serviços, o que obrigou milhares de pessoas a caminhar por quilômetros até suas casas. "Até o telefone está desligado. O calor está insuportável e estamos sem água. O país está virando um desastre", disse à AFP Armando Cordero, de 57 anos.

Especialistas responsabilizam o governo socialista pela falta de investimentos na manutenção da infraestrutura em meio a uma grave crise econômica, mas autoridades denunciam atos de "sabotagem".

"Guerra elétrica"

Na quinta-feira à noite, o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, denunciou uma sabotagem "criminal, brutal", que pretende deixar a Venezuela sem energia elétrica durante "vários dias" e a acusou o senador americano Marco Rubio. Duro crítico do governo de Nicolás Maduro, Rubio fez piada ao retuitar um vídeo de Rodríguez: "Não, não é o Dr. Evil do filme Austin Powers. É 'Caracas Bob' (...) que revelou como eu sabotei pessoalmente uma central hidrelétrica e provoquei um apagão de amplitude nacional".

"A guerra elétrica anunciada e dirigida pelo imperialismo americano contra nosso povo será derrotada. Nada nem ninguém poderá vencer o povo de Bolívar e Chávez. Máxima união dos patriotas", escreveu Maduro no Twitter.

Oposição critica

O presidente socialista mantém um duro confronto com o governo de Donald Trump, que reconheceu o presidente do Parlamento, Juan Guaidó, como chefe de Estado interino da Venezuela, como outros 50 países.

Há um ano, Maduro ordenou às Forças Armadas ativar um plano especial para proteger as instalações do sistema elétrico diante da "guerra" para gerar o descontentamento popular, mas as falhas persistem. A empresa estatal Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec) denunciou, sem apresentar detalhes, um ato de sabotagem na central de Guri, localizada no estado de Bolívar.

"Sabotaram a geração em Guri... Isso faz parte da guerra elétrica contra o Estado. Não permitiremos. Estamos trabalhando para recuperar o serviço", publicou no Twitter a Corpoelec.

Guri é uma das maiores represas geradoras de energia da América Latina, atrás apenas da de Itaipu, entre Brasil e Paraguai. "Temos El Guri, Tocoma e Caruachi. Temos Planta Centro e Tacoa. Temos água, petróleo e gás. Mas, lamentavelmente, temos um usurpador em Miraflores", tuitou Guaidó.

Perdas econômicas

A economia do país sofre: o bolívar, a moeda local, registrou uma gigantesca desvalorização e a hiperinflação deve chegar 10.000.000% em 2019, de acordo com as projeções do FMI.

A situação provoca uma falta de cédulas, pois a nota de maior valor, 500 bolívares, equivale a apenas 15 centavos de dólar, o que é insuficiente para comprar uma bala. Desta maneira, as transações eletrônicas são indispensáveis, inclusive para operações pequenas como comprar pão.

Com informações da AFP

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