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Peru/ Ex-presidente

'Não houve nem haverá contas nem subornos', diz Alan García em carta de despedida

O ex-presidente peruano Alan García rejeitou as acusações de corrupção contra ele em uma carta escrita antes de se suicidar, na última quarta-feira (17), afirmando que "não houve nem haverá contas, nem subornos, nem riqueza".

Amigos e familiares carregam o caixão com os restos mortais do ex-presidente do Peru, Alan Garcia, que se matou esta semana, em Lima, Peru 19 de abril de 2019.
Amigos e familiares carregam o caixão com os restos mortais do ex-presidente do Peru, Alan Garcia, que se matou esta semana, em Lima, Peru 19 de abril de 2019. REUTERS/Janine Costa
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"Vi outros desfilarem algemados resguardando sua miserável existência, mas Alan García não tem por que sofrer essas injustiças e circos", escreveu o ex-presidente na mensagem dirigida a seus seis filhos, lida nesta sexta-feira (19), com emoção, por sua filha Luciana durante a cerimônia fúnebre.

"Não houve nem haverá contas, nem subornos, nem riquezas. A história tem mais valor que qualquer riqueza material", destacou o ex-presidente, que deu um tiro na própria cabeça na quarta-feira quando estava prestes a ser detido por suposta lavagem de dinheiro e conluio na investigação do caso da Odebrecht no Peru.

García, de 69 anos, que ficou obcecado durante sua prolífica e polêmica carreira política de quatro décadas pelo lugar que ocuparia na história, escreveu que não estava disposto a suportar humilhações. O social-democrata governou o Peru em duas ocasiões: 1985-1990 e 2006-2011.

Veja abaixo o texto completo da carta, lido diante do caixão do ex-presidente, na presença de centenas de seguidores no local. Esse foi o último ato das cerimônias fúnebres, antes de se dirigirem ao crematório.

Carta aos filhos

"Cumpri a missão de conduzir o aprismo (do seu partido Apri) ao poder em duas ocasiões, e impulsionamos outra vez sua força social. Acho que essa foi a missão da minha existência, tendo raízes no sangue desse movimento.

Por isso e pelos contratempos do poder, nossos adversários optaram pela estratégia de me criminalizar durante mais de 30 anos. Mas nunca encontraram nada, e derrotarei-os novamente, porque nunca encontrarão mais que suas especulações e frustrações.

Nesses tempos de rumores e ódios repetidos que as maiorias acreditam ser verdade, vi como se utilizam os procedimentos para humilhar, vexar, e não para encontrar verdades.

Por muitos anos, me situei acima dos insultos, me defendi e a homenagem de meus inimigos era argumentar que o Alan Garía era suficientemente inteligente, como se eles não pudesse provar suas calúnias.

Não houve nem haverá contas, nem subornos, nem riquezas. A história tem mais valor que qualquer riqueza material. Nunca poderá haver preço suficiente para quebrar meu orgulho de ser aprista e peruano. Por isso repeti: outros se vendem, eu não.

Com meu dever cumprido na minha política e nas obras feitas a favor do povo, alcançando as metas que outros países e governos não conseguiram, não tenho por que aceitar vexames. Eu vi outros desfilarem algemados, resguardando sua existência miserável, mas Alan García não tem porque sofrer essas injustiças e circos.

Por isso, deixo a meus filhos a dignidade de minhas decisões; a meus companheiros, um sinal de orgulho. E meu cadáver como uma mostra de seu desprezo pelos meus adversários, porque já cumpri a missão que me impus.

Que Deus, a quem vou com dignidade, proteja os de bom coração e os mais humildes".

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