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Pinochet é revalorizado por líderes reacionários como Bolsonaro, diz biógrafo de ditador chileno

No aniversário de 46 anos do golpe de Estado no Chile (11/09/1973), o historiador e jornalista espanhol Mario Amorós publicou uma extensa e documentada biografia de Augusto Pinochet.

Capa da biografia de Augusto Pinochet.
Capa da biografia de Augusto Pinochet. © Ediciones B
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A obra é uma referência imprescindível num momento em que a figura do ditador e seus esquemas econômicos são reavaliados por diversas personalidades políticas, incluindo fora de seu país. Como, por exemplo, a apropriação de sua figura pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

O jornalista da RFI Orlando Torricelli conversou com Mario Amorós.

RFI: Por que escrever esta biografia de Augusto Pinochet?

Mario Amorós: Creio que havia um vazio historiográfico em torno da figura de Pinochet. Esta é a primeira biografia histórica publicada sobre o ditador chileno (1973-1990). Ela foi construída a partir da documentação encontrada em cerca de vinte arquivos de quatro países, uma bibliografia de 400 títulos, pesquisas em 140 meios de comunicação de 18 países... Sou o primeiro historiador que consultou sua ficha militar, que revela sua passagem pela maçonaria. Com documentos da chancelaria ilumino ainda mais as tentativas do governo chileno para libertar Pinochet quando ele foi preso em Londres, em 1998. Espero que nos próximos anos o livro se torne uma biografia de referência sobre o ditador chileno.

RFI: Entre os documentos inéditos a que você teve acesso, destacaria algum?

MA: Acho que sua ficha militar. Ele entra para o exército em 1933, é designado comandante em chefe pelo presidente Salvador Allende em agosto de 1973 e será comandante por mais 25 anos. Sua ficha mostra a trajetória paciente, mas tenaz, de um oficial medíocre intelectualmente, mas com avaliações positivas de seus superiores. Ele se encaixa perfeitamente no exército chileno da época, de formação prussiana, a partir da Segunda Guerra Mundial, subordinado ao exército norte-americano. Esse documento traz precisões sobre seu papel durante o governo de Allende e seu comportamento, que foi de traidor.

RFI: Você acaba de voltar do Chile, onde apresentou seu livro. A figura e o idealismo de Pinochet seguem vigentes na sociedade chilena?

MA: Há setores sociais que já não são tão importantes como há 20 anos, que apoiavam o ditador e a ditadura. Há um líder político, José Antonio Katz, abertamente pró-Pinochet, que na última eleição presidencial obteve 8% dos votos. Como parte da onda reacionária que varre o mundo, sua figura tem renascido, mas são setores minoritários. Pinochet perdeu o apoio da direita chilena quando se descobriu a origem irregular de sua fortuna. Também é verdade que houve uma revalorização de sua figura, não só dentro do Chile, mas como, por exemplo, pela boca do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

RFI: Isso significa que o legado da ditadura segue presente?

MA: O Chile ainda não se libertou do legado da ditadura. A Constituição foi reformada, boa parte dos chamados enclaves autoritários foram suprimidos. Mas é verdade que é a mesma Constituição que o regime impôs de maneira antidemocrática em 1980. Mas o ponto central do "pinochetismo" é o modelo econômico neoliberal quase perfeito; há poucos casos de um modelo tão amplo, que cubra todas as dimensões da sociedade e da economia: aposentadorias, educação, direitos trabalhistas, saúde. Essa é a sua essência e não foi possível removê-la, ainda mais com este governo de direita atual. Pinochet, com a repressão e o terror, impôs o modelo dos Chicago Boys, como se o Chile fosse um laboratório. Privatizar as aposentadorias ou a saúde é um negócio multimilionário. O caso do Chile é simbólico, pois foi aplicado de maneira violenta a partir de 1975 e até hoje faz parte da vida dos chilenos.

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