Acessar o conteúdo principal
Bolívia/Evo Morales

Bolívia: Esquerda latino-americana denuncia "Golpe"; Direita vê fraude ou mantém silêncio

Líderes da esquerda latino-americana reunidos na Argentina, e em contacto com Evo Morales que renunciou da presidência nesse domingo (10), denunciam um golpe de Estado na Bolívia. Já os governos de direita preferem manter silêncio ou recorrer à tese da fraude eleitoral.

Antes de renunciar, o presidente da Bolívia, Evo Morales, havia convocado novas eleições no país neste domingo, 10 de novembro de 2019.
Antes de renunciar, o presidente da Bolívia, Evo Morales, havia convocado novas eleições no país neste domingo, 10 de novembro de 2019. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Publicidade

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

"A Constituição e o Estado de direito da Bolívia foram violados, interrompendo um mandato constitucional. Forças da oposição desencadearam atos de violência, de humilhação de autoridades, de invasão, saques e incêndios de casas, de sequestros e ameaças a parentes, para aplicar um golpe de Estado e para forçar a renúncia do presidente Evo Morales", afirmaram, numa declaração, os líderes da esquerda latino-americana. Eles estavam reunidos em Buenos Aires em torno do Grupo de Puebla, uma aliança progressista que reúne 32 políticos de 12 países da região.

Na reunião, que durou três dias, o Grupo de Puebla passou da celebração da liberdade do ex-presidente Lula, na sexta-feira (8), e da decisão de reformar a Constituição do presidente chileno, Sebastián Piñera, no sábado (9), à preocupação com à renúncia do presidente boliviano, Evo Morales, no domingo.

"As recomendações da Organização dos Estados Americanos (OEA) de novas eleições foram aceitas pelo presidente Morales, inclusive com a recomendação de uma renovação completa dos órgãos eleitorais e com a possibilidade de novas candidaturas", prossegue a declaração do Grupo de Puebla. "Porém, a oposição optou pela intransigência, pela radicalização e pela ruptura democrática, abrindo um grave antecedente de um novo golpe de Estado", acusam os líderes da esquerda regional. Eles criticam, especialmente, "os comportamentos ilegais e irresponsáveis das forças policiais e das próprias Forças Armadas que acompanharam o golpe".

“Caminho da democracia foi interrompido”

"O presidente Evo Morales sempre disse que aceitaria o resultado da auditoria da OEA com caráter vinculante. A OEA recomendou novas eleições. Esse era o caminho da democracia que foi interrompido", explicou à RFI o brasileiro Aloízio Mercadante, ex-ministro de Lula e de Dilma Roussef, fundador do Partido dos Trabalhadores e do Grupo de Puebla.

"Passamos o fim de semana em contato com o presidente Evo Morales, com o vice Álvaro García Linera e com a oposição para buscarmos uma saída democrática e constitucional para a Bolívia. Essa saída eram novas eleições. Evo anunciou isso, mas não aceitaram. Queriam o golpe", contou Mercadante. Para ele, Morales foi mais uma vítima de um procedimento já aplicado contra o ex-presidente paraguaio, Fernando Lugo, e contra a ex-presidente brasileira, Dilma Rousseff, todos membros do Grupo de Puebla e destituídos de seus cargos.

"Não é possível que um presidente constitucional que convoca eleições seja forçado a renunciar pelas Forças Armadas. Foi renúncia forçada. O nome disso é golpe", denuncia o chileno Marco Enríquez-Ominami, fundador e coordenador do Grupo de Puebla. Enríquez-Ominami conta que vários dirigentes políticos bolivianos estão refugiados em Embaixadas em La Paz para não serem linchados, um costume indígena aplicado a traidores e ladrões.

Alberto Fernández

Ainda na Argentina, o presidente eleito de centro-esquerda, Alberto Fernández, também denunciou um golpe de Estado na Bolívia. O presidente em exercício de centro-direita, Mauricio Macri, optou por uma nota na qual pede para "preservar a paz social e o diálogo para encaminhar o período de transição pelas vias institucionais estabelecidas pela Constituição".

O eleito Alberto Fernández já tinha reconhecido a quarta reeleição de Evo Morales no dia 20 de outubro, enquanto Mauricio Macri preferia esperar que o panorama na Bolívia ficasse claro.

O agora livre ex-presidente Lula, o venezuelano Nicolás Maduro, e o Governo de Cuba somaram-se à interpretação de "golpe de Estado". Já o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, relacionou a renúncia com "a fraude eleitoral".

No México, o presidente de esquerda Andrés Manuel López Obrador ofereceu asilo político a Evo Morales. O plano de voo desse exílio no México passaria primeiro pela Argentina.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.