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Presidente do Peru reforma polícia para restabelecer confiança após repressão a manifestantes

Após a violenta repressão às manifestações das últimas semanas, condenada por várias organizações internacionais de direitos humanos, o novo presidente do Peru, Francisco Sagasti, anunciou mudanças na polícia nacional.

Policiais ao lado de coroas de flores no dia seguinte da morte de dois manifestantes em Lima, no dia 15 de novembro de 2020.
Policiais ao lado de coroas de flores no dia seguinte da morte de dois manifestantes em Lima, no dia 15 de novembro de 2020. REUTERS - SEBASTIAN CASTANEDA
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Com informações da correspondente da RFI em Lima, Wyloën Munhoz-Boillot

Em um discurso na televisão na segunda-feira (23), o presidente interino do Peru, Francisco Sagasti, nomeou um novo chefe para a polícia nacional. “Decidi nomear o general César Augusto Cervantes, o novo comandante da polícia nacional do Peru”, disse.

Além disso, 15 generais das forças de segurança foram aposentados, incluindo o general Jorge Lam, que liderou a repressão aos manifestantes durante a mobilização pacífica em meados de novembro. A violência policial aos protestos, com o uso excessivo de gás lacrimogêneo e balas de borracha, deixou dois mortos e cem feridos, dos quais 63 tiveram de ser hospitalizados.

Em seu discurso, Sagasti reiterou suas condolências aos familiares das vítimas e anunciou seu desejo de reformar a polícia em profundidade. “Decidi criar uma comissão para modernizar e fortalecer a polícia nacional, visando garantir a defesa dos direitos dos cidadãos, da ordem interna e da segurança pública”, prometeu. A comissão terá 60 dias para fazer suas recomendações.

Restabelecer a confiança

O presidente peruano busca restabelecer a confiança entre as forças de segurança e os cidadãos. “Essas decisões se inserem também no contexto das dificuldades enfrentadas pela polícia em 2020”, disse à RFI Carlos Basombrío, sociólogo e ex-ministro do Interior do governo de Pedro Pablo Kuzcynski.

“Vários policiais estão sendo investigados, alguns deles estão entre os que foram aposentados agora pelo presidente. Vários deles teriam desviado dinheiro de verbas destinadas à proteção pessoal durante a pandemia do coronavírus. Soma-se a isto o fato da polícia ter tido um número elevado de mortes pela Covid. Tudo isso culminou com a situação, na minha opinião bastante grave, que levou à morte de duas pessoas. Há ainda uma denúncia de sequestro e outros abusos. Os manifestantes são hoje muito hostis à polícia pela morte desses manifestantes. Todas essas circunstâncias geraram a necessidade de uma mudança no alto comando da polícia”, explicou Carlos Basombrío.

Investigação

O anúncio do presidente Sagasti acontece no mesmo momento em que o chefe da missão da Organização das Nações Unidas (ONU) enviado a Lima para avaliar a situação expressou sua preocupação com a recusa das forças de segurança peruanas em reconhecer as violações de direitos humanos durante os protestos.

Durante vários dias, as famílias dos dois jovens mortos durante a marcha nacional de 14 de novembro denunciaram intimidações por parte de policiais, enquanto uma investigação está em curso para apurar as responsabilidades no caso. O novo chefe de Estado peruano também se comprometeu a fortalecer a proteção dos familiares.

Na semana passada, devido à violenta repressão policial, a procuradora-geral da República, Zoraida Avalos, abriu uma investigação contra o ex-presidente Manuel Merino, o ex-primeiro-ministro Antero Flores-Aráoz e o ex-ministro do Interior, Gastón Rodríguez, por homicídio doloso e abuso de autoridade.

Os protestos no Peru começaram após a destituição pelo Parlamento do ex-presidente Martin Vizcarra por corrupção em 9 de novembro. Milhares de peruanos foram às ruas de várias cidades do país latino-americano contra o governo de Merino, que assumiu a presidência depois do impeachment. Com a crise, Merino acabou renunciando e foi substituído por Francisco Sagasti.

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