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Linha Direta

EUA: convenção republicana começa sob explosão de violência étnica

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No mesmo domingo em que centenas de políticos, simpatizantes, manifestantes e jornalistas chegaram a Cleveland para a Convenção Nacional do Partido Republicano, um novo ataque contra policiais, em Baton Rouge deixou os Estados Unidos em choque. O evento vai confirmar a candidatura de Donald Trump à sucessão de Barack Obama

Protesto em frente da Convenção Nacional Republicana em Cleveland, Ohio, EUA, 17 de julho de 2016.
Protesto em frente da Convenção Nacional Republicana em Cleveland, Ohio, EUA, 17 de julho de 2016. REUTERS/Adrees Latif
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

O fim da Era Obama, o primeiro presidente negro do país, está sendo marcado por uma explosão de violência étnica de proporções assustadoras que, no domingo (17) causou a morte de três policiais e um ex-fuzileiro naval negro. O agressor, antes de ser morto pela polícia, feriu gravemente outros três oficiais em um ataque realizado no mesmo local onde milhares de militantes protestam desde o início do mês contra a violência excessiva da polícia local a minorias étnicas, no Estado da Luisiana, especialmente afro-americanos.

Os ânimos exaltados, inevitavelmente, já marcam a convenção republicana em Cleveland, no Estado de Ohio. Espera-se que a festa da oposição, que começa nesta segunda-feira (18) e vai até quinta-feira (21), seja afetada pelo luto e pelas mortes, em um intervalo de uma semana, de oito policiais, em Dallas e Baton Rouge. O tema deverá dominar todas as conversas no primeiros dia da convenção.

Obama e Trump trocam farpas

No domingo, Barack Obama mandou um recado duro a Trump, criticando a retórica dos que usam tragédias nacionais para “dividir ainda mais os americanos”. O presidente disse ser ainda mais grave o discurso do ódio durante as convenções nacionais dos partidos majoritários, quando a tensão entre os dois lados do país aumenta, especialmente em um contexto marcado pelos discursos xenófobos de Trump.

O bilionário reagiu dizendo que, atualmente, os Estados Unidos, por conta do que ele classifica como "falta de liderança de Obama", estão implodindo e que o país é uma cena de crime dividida ao meio. A mensagem que deve vir de Cleveland é a de que Trump e os republicanos são os candidatos da “ordem”, da “lei”, contra a "bagunça” e a “convulsão social” aturada pelos liberais. É uma linha de discurso que lembra a de Richard Nixon em 1968, um ano marcado pela violência, os assassinatos de Martin Luther King Jr. e de Robert Kennedy, e de gigantescos protestos contra a guerra do Vietnã.

Em 1968 a convenção democrata em Chicago foi marcada pelo enfrentamento de grupos esquerdistas com a polícia e se tornou um símbolo da convulsão social daqueles anos difíceis nos EUA. Há risco de protestos tomarem uma dimensão maior do que o esperado a partir de hoje em Cleveland e na semana que vem, com os democratas, na Filadélfia.

"Tornando a América Segura Novamente"

O tema de hoje para a convenção será, não por acaso, “Tornando a América Segura Novamente”, um trocadilho com o slogan da campanha Trump "Tornando a América Grande Uma Vez Mais”. No Partido Republicano, uma série de vozes importantes, entre elas a do ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, o principal orador desta segunda-feira, vem repetindo publicamente que há, neste momento, uma "guerra à polícia", alimentada por movimentos sociais como o Black Lives Matter. A receita dos republicanos que apoiam Trump é mais repressão e a reação nas ruas de Cleveland, uma cidade em que 52% da população se identifica como afro-americana, deve sim ser grande.

Cleveland está se preparando para a possibilidade de acirramento dos ânimos durante a festa republicana. O governador de Ohio, o moderado John Kasich, que disputou as primárias contra Trump e hoje o apoia, anunciou medidas de segurança que incluem o virtual isolamento do centro de Cleveland. Ele negou, no entanto, a proposta de proibir o uso de armas por cidadãos na área, dizendo não poder revogar o direito constitucional de ninguém.

Na manhã desta segunda-feira, a impressão é de que há mais policiais e agentes de segurança do que republicanos nas cercanias do estádio conhecido como “The Q”, onde a convenção acontece. Mais de 1.500 policiais foram destacados para a segurança do evento.

Evento será marcado por ausências de personalidades

A convenção será marcada não apenas pelos personagens destes quatro dias mas também pelas ausências notáveis. Nunca se viu um número tão grande de senadores, deputados, governadores e ex-candidatos à presidência fazendo questão de não ir a Cleveland. Um efeito dominó, que começou quando a realeza republicana, os Bush, anunciaram que não dariam sua benção a Trump, um candidato distante da cúpula do partido.

E o anúncio, neste fim de semana, de que o governador ultraconservador de Indiana, Mike Pence, será o candidato à vice-presidência de Trump, sinalizou de forma ainda mais nítida uma tentativa pelos simpatizantes de Trump de reinvenção do Partido Republicano, como uma agremiação menos arejada e mais afinada com o nacionalismo presente na Europa Ocidental. Com ou sem protestos, os próximos quatro dias em Cleveland irão dar uma ideia mais clara de que direita os EUA terão nos próximos anos.

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