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Papa/Panamá

“Igreja foi carcomida por epidemia de abusos sexuais”, diz vítima que tenta encontrar Francisco no Panamá

Dois costa-riquenhos que afirmam ter sofrido abusos sexuais por um sacerdote durante a adolescência desejam se encontrar com o papa Francisco durante sua visita ao Panamá para buscar apoio na tentativa de fazer justiça. Michael Rodríguez, de 38 anos, e Anthony Venegas, de 33, enviaram uma carta a Francisco para pedir a audiência. A RFI entrevistou Rodríguez, que falou sobre a carta e as expectativas sobre o encontro com Francisco.

Michael Rodríguez, especialista em equipamentos médicos, um dos dois costa-riquenhos que desejam se encontrar com o papa no Panamá, para contar sua experiência enquanto vítima de abuso sexual por um membro da Igreja Católica.
Michael Rodríguez, especialista em equipamentos médicos, um dos dois costa-riquenhos que desejam se encontrar com o papa no Panamá, para contar sua experiência enquanto vítima de abuso sexual por um membro da Igreja Católica. Ezequiel BECERRA / AFP
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“Na carta que enviamos, a intenção era poder ficar frente a ele e contar o que vivemos durante tantos anos, desde os abusos sexuais de que fomos vítimas. Queríamos transmitir nossas experiências e o que isso causou em nossas vidas”, disse Rodríguez durante entrevista à RFI.

“Queremos também apresentar provas contundentes sobre nosso caso. Estamos também trabalhando em um projeto de lei na Costa Rica para aumentar o prazo de prescrição de delitos sexuais em menores. Queríamos seu apoio para esse projeto”, afirmou.

“Ele está passando por um momento difícil na Igreja Católica. Parece-me que existem diversas forças lá dentro, que pressionam para manter essa cultura de encobrimento de décadas, mas o papa está querendo fazer algo diferente. Nós temos muita esperança que o papa Francisco tome decisões contundentes tanto com as pessoas que cometeram estes delitos, como com aquelas que os encobriram por décadas”, disse ainda o costa-riquenho.

Nova geração

Michael Rodríguez afirmou ainda que existem muitos sacerdotes jovens que “querem mudar e fazer as coisas de um jeito diferente”. “Uma boa notícia para o mundo seria dar oportunidade a eles de assumirem agendas nas altas cúpulas, que talvez já estejam muito acostumadas com o poder. Talvez eles possam mudar a igreja, que já está totalmente carcomida com esses delitos, que foram uma epidemia mundial”, disse à RFI.

Embora saibam que a missiva foi entregue, eles ainda não receberam resposta. “Ainda não recebemos uma resposta oficial do Papa, mas não perdemos a esperança de receber uma resposta positiva. Se esse encontro não acontecer no Panamá, também não perdemos a esperança de que possa acontecer em algum outro lugar”, afirmou o costa-riquenho.

"Este país precisa que Roma preste atenção nele", afirmou Venegas, técnico-dentista. "Precisamos que se deem conta de que não é só nos Estados Unidos e no Chile que essas coisas acontecem. Na Costa Rica e na América Central também, mas ninguém nos recebe", lamentou.

Abusos na adolescência

Ambos relataram ter sofrido abusos nas mãos do padre Mauricio Víquez quando ele era pastor de suas respectivas comunidades, e os dois adolescentes serviram como coroinhas na paróquia.

Eles relataram que os abusos começaram quando o padre tocou seus genitais, depois os masturbou ou fez sessões de masturbação mútuas ou mesmo em grupo, envolvendo outros menores. Rodriguez viveu essa situação entre 13 e 17 anos, até que o padre Víquez foi removido de sua comunidade em Tres Ríos, a leste de San José, e transferido para Patarrá (sul), onde vivia Venegas, então com 14 anos.

Com a ajuda de um vizinho que tomou conhecimento dos fatos, Venegas levou suas reclamações em 2003 para a cúria metropolitana. Quem recebeu sua queixa foi o padre José Rafael Quirós, atual arcebispo de San José. Depois dessa denúncia, Víquez foi removido de sua posição em Patarrá, mas continuou dentro da igreja. Anthony Venegas afirma que os protocolos canônicos de denúncia não foram aplicados.

"Eles nos prometeram anonimato e proteção, mas nada disso foi cumprido", disse ele. Rodriguez não se atreveu a apresentar uma queixa ou falar sobre os abusos sofridos até o ano passado, quando ele apresentou formalmente sua queixa canônica formal contra Víquez. Desde então, ele e Venegas se tornaram as faces visíveis da luta para fazer justiça às vítimas de abuso sexual nas mãos de padres na Costa Rica.

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