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Artista brasileiro Gustavo Speridião expõe instalação militante em Paris

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O artista plástico carioca Gustavo Speridião expõe uma instalação militante em Paris. Em entrevista à RFI, ele conta como mistura arte e política e analisa a posição dos artistas no Brasil no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.

O artista Gustavo Speridião reivindica uma arte militante e panfletária.
O artista Gustavo Speridião reivindica uma arte militante e panfletária. Divulgação
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Speridião ocupa um andar inteiro na galeria Filles du Calvaire, em Paris, com paineis, faixas e pinturas. A exposição "Chroniques du Trouble" (Crônicas da Desordem, em tradução livre) traz mensagens de ordem para a mobilização. Frases como "Não temer o mundo! Mudá-lo", podem ser lidas em uma das paredes.

"Meu objetivo com a produção era mostrar um pouco de poética política. São trabalhos panfletários mesmo, que falam sobre os problemas atuais, o caos e a desordem que a gente anda vivendo, principalmente no Brasil, com um governo de extrema direita", explica.

Seu trabalho, e não só nesta exposição, é politicamente engajado. De que maneira o momento atual da política brasileira te inspirou?

Na entrada da exposição, tem uma faixa que também é uma tela em que está pintado “Maldita burguesia”. Na frente tem um filme passando em uma tela, encostada em uma vitrine. O filme chama “Movimento” e [mostra] dez anos de manifestações que eu andei gravando em vários lugares do mundo. É uma questão bem direta que quase não passa pela poética, mas passa pela tinta. É identificar o inimigo e os meios clássicos de lutar contra ele: o povo na rua mesmo, paralisando e fazendo greve.

A pintura vai neste caminho de ser uma pintura deste momento cru da luta de classes, e, ao mesmo tempo, identificar a poética deste momento.

A exposição tem painéis, colagens e pinturas. Em um destes painéis é possível ler a frase “Nunca uma classe dominante abdicou voluntária e pacificamente do poder”. Você acha que dá para misturar política e poesia?

Acho que dá. O embate que a gente tem, e que é um conceito pronto, diz que a arte verdadeira não fala de política, e a poética verdadeira não aborda as questões políticas de maneira direta. Eu acho que temos que inverter isso e colocar slogans de luta de classes, como uma frase de León Trotsky que está em um cartaz de metrô da exposição do Da Vinci no [Museu do] Louvre, que eu peguei para passar essa mensagem de 500 anos. Ou seja, há muito tempo a luta de classes está aí e não é pela via pacífica que a gente vai conseguir nenhuma conquista.

Escrever um panfleto e determinar, como se faz no modernismo há mais de cem anos, que aquele panfleto pintado é uma pintura, é uma poesia, é um mecanismo muito interessante que a arte tem. A poética mora exatamente aí.

Como foi ser artista no Brasil em 2019?

Acho que foi a pior coisa que alguém que trabalha com arte poderia ter vivenciado nas últimas décadas. Só não se compara com a ditadura civil-militar.

O que começou com um ataque de verba, fechamento de Ministério [da Cultura], termina o ano com um atentado de coquetel molotov à sede de um grupo humorista [Porta dos Fundos].

O governo, mais do que outras categorias, está atacando os artistas e a arte, porque ela é muito importante para a libertação, para a emancipação da mente humana da escravização do capitalismo. Eles atacam diretamente a produção cultural como primeiro meio de tentar iniciar um projeto de dominação e de ditadura.

Foi um ano muito duro e a nossa resposta vai ter que ser à altura do que a gente sofreu de ataque em 2019. A gente vai ter que se organizar em diversas frentes de ataque a esse governo. Esse governo é o que teve de pior na história brasileira de destruição da cultura.

Quais são os projetos para 2020 ?

Vou fazer uma exposição em uma galeria chamada Mendes Wood. O nome da exposição é “Construção”, o curador é Renato Silva, que tem uma pegada bem política. É uma exposição coletiva ao lado de grandes artistas.

Mas o nosso projeto principal é lutar contra esse governo de todas as formas possíveis, através de poesia, de manifestação, de greve.

Colagens e pinturas do brasileiro Gustavo Speridião tomaram um dos andares da galeria parisiense Les Filles du Calvaire
Colagens e pinturas do brasileiro Gustavo Speridião tomaram um dos andares da galeria parisiense Les Filles du Calvaire Divulgação/Gustavo Speridião

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