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Cinema: “Napoleão nunca deixa ninguém indiferente”, diz historiador sobre filme controverso de Ridley Scott

Com estreia mundial nesta quarta-feira (22), o filme do diretor britânico Ridley Scott sobre Napoleão Bonaparte, estrelado por Joaquin Phoenix no papel principal, vem gerando burburinho entre historiadores franceses e aguçando a ira da imprensa francesa desde sua pré-estreia para jornalistas e convidados no dia 14 de novembro. 

Joaquin Phoenix no papel de Napoleão no filme de Ridley Scott, que teve estreia na França nesta quarta-feira, 22 de novembro de 2023.
Joaquin Phoenix no papel de Napoleão no filme de Ridley Scott, que teve estreia na França nesta quarta-feira, 22 de novembro de 2023. AP
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A equipe editorial do jornal Le Point, se diz “dividida” pelo filme “controverso sobre a monarca” francês. Uma coluna de opinião do vespertino Le Monde acusa Scott, que “não teve medo de fazer com que os dois lados da discussão falem a mesma língua (o inglês)”, o que é julgado como “perturbador” pela publicação.

A lista de críticas negativas é imensa, o jornal Le Figaro debochou do filme em seu editorial, enquanto revistas francesas o classificaram como “desajeitado” ou “antinatural”, entre outras características.  

Para o canal BBC, Ridley Scott parece não se importar com os críticos franceses e sim com a bilheteria. "Os franceses não gostam nem de si mesmos. O público para quem mostrei em Paris adorou", retruca o britânico. 

O fascínio por Napoleão 

Em entrevista à RFI, o historiador especialista em Napoleão e diretor de patrimônio na cidade de Rueil-Malmaison, na região parisiense, David Chanteranne, defende a visão artística da obra cinematográfica, para ele, não é surpresa que um personagem icônico como Napoleão Bonaparte gere opiniões inflamadas, sejam positivas ou negativas. 

“Esse filme naturalmente despertará paixões porque Napoleão nunca deixa ninguém indiferente, ele fascina e onde há fascínio, há inevitavelmente repulsa e interesse. É exatamente o trabalho do historiador decifrar e contar a história, mas o cineasta deve ter a vontade de criar e ser um artista. E é exatamente isso que Ridley Scott faz nesse filme”, opina o especialista. 

 

Ao contrário da maioria dos jornais franceses, David Chanteranne opta por ver o lado bom do longa-metragem. Ele considera que o filme “nos dá as chaves para entender Napoleão e conhecê-lo de perto. Esse é o espírito dos filmes históricos”.  

Chanteranne acrescenta que “mesmo que haja ótimos elementos de reconstrução histórica das batalhas em particular, tentamos, por meio desse filme, pelo roteirista, o próprio Ridley Scott, e com as atuações dos atores Vanessa Kirby e Joaquin Phoenix, descobrir quem Napoleão realmente era além de todos os elementos que conhecíamos sobre ele”, afirma. 

A história de Napoleão 

O legado napoleônico perdura e é confirmado neste longa hollywoodiano, mais de dois séculos depois do fim de seu Império. O monarca é considerado um dos maiores comandantes militares da história e suas estratégias estudadas em escolas militares de todo o mundo, sendo apontado como um dos líderes mais célebres e controversos da humanidade. 

Napoleão Bonaparte dominou grande parte da Europa em uma ascensão meteórica de poder e conquistas, mas perdeu tudo 11 anos após sua coroação, na batalha de Waterloo em 1815, “um lado extraordinário de uma tragédia grega”, indica o historiador. 

"Napoleão tem um lado universal, ele é tanto o herdeiro do Antigo Regime, porque veio dele por meio das escolas militares reais, como também porque é filho do Iluminismo de Voltaire e Rousseau, e faz parte da Revolução Francesa, sendo esta, em última análise, aquela que completará a obra”, elucida.  

O estudioso diz que o fato de a obra mostrar falhas, erros, e também sucessos de Napoleão, "expondo todos seus aspectos", deixa o líder mais acessível ao público.

Napoleão fora da Europa 

Segundo David Chanteranne, foram feitos 700 filmes sobre Napoleão desde a criação do cinematógrafo por Lumière. “Nos Estados Unidos, na Itália, na Rússia e até mesmo na Ásia, isso mostra que todos estão tentando se apossar de Napoleão porque ele é, eu diria com uma palavra inglesa, um ‘self-made man’”, em referência à expressão que define pessoas que se tornaram bem-sucedidas e ricas por meio de seus próprios esforços. 

“Bem, ainda se fala dele na América do Sul, na Ásia e na África também, porque ele é um personagem que já foi contado em todos os seus aspectos. De fato, um livro (sobre ele) foi escrito todos os dias desde sua morte. Portanto, está claro que as pessoas em todo o mundo estão tentando decifrar o mistério de Napoleão”, conclui o especialista. 

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