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Itália/ eleições

Crise dos partidos leva populismos ao foco das eleições italianas

A Itália vai às urnas neste domingo (4) para as eleições legislativas que vão definir o próximo governo do país, em um cenário de desilusão com a classe política que alçou as propostas populistas ao foco da campanha eleitoral. Os institutos de pesquisa têm dificuldades em antecipar o resultado da votação, que pode resultar no retorno da direita ao poder ou até em um governo eurocético, ou seja, contrário à União Europeia. Ao que tudo indica, a coalizão de centro-esquerda que está no cargo deve desmoronar.

Força Iália, ressuscita Silvio Berlusconi e apoia realização de referendo sobre a autonomia da região da Lombardia.
Força Iália, ressuscita Silvio Berlusconi e apoia realização de referendo sobre a autonomia da região da Lombardia. REUTERS/Alessandro Garofalo
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As maiores incertezas são quanto aos pesos eleitorais da coligação de direita e do populista Movimento 5 Estrelas. Os conservadores, formados pelo partido Força Itália – que ressuscitou o líder Silvio Berlusconi – e o partido de extrema-direita Liga (ex-Liga Norte) despontam na frente nas pesquisas de intenções de votos, com 37%. Porém, o resultado é insuficiente para formar um governo.

Já o Movimento 5 Estrelas, que não tem tendência política bem definida, é o que deve reunir a maior votação enquanto partido isolado, com estimados 28% das urnas. A ausência de maioria no Parlamento poderia resultar em uma coligação improvável entre o partido e a Liga, igualmente populista, eurocética e, sobretudo, contrária à imigração.

O filósofo italiano Gianfranco Ferraro, pesquisador da Universidade Nova de Lisboa, analisa que as decepções dos italianos com os últimos governos, obedientes às ordens de Bruxelas sem implementar políticas redistributivas que amparassem os cidadãos, levaram à ascensão das ideias populistas. Ele considera que o país vive o momento político mais fraco dos últimos 20 anos. “O que se vê é a falta completa de qualquer perspectiva de futuro, qualquer visão econômica, política, geoestratégica, em um Mediterrâneo atravessado por tensões que vão da Síria ao norte da África”, afirma. “A Itália sempre atuou num papel central, com uma visão crucial na Europa. Agora, essa grande falta e visão da classe política é algo assustador.”

Extrema-direita se reposiciona

O descontentamento da população também posicionou a extrema-direita como um dos players dessa eleição. “Ainda não sabemos se a coligação de direita não vai conseguir ganhar a maioria. Não se sabe nem qual dos dois teria mais votos e daria as cartas em um eventual governo: se Matteo Salvini, da Liga, ou Berlusconi – que teria de ser representado por um aliado, já que ele está inelegível”, observa Goffredo Adinolfi, cientista político do Instituto Universitário de Lisboa. “Berlusconi tem uma força política muito menor do que em 2001, quando tinha 25% dos votos. Nas pesquisas atuais, ele aparece com entre 13% e 15%. A força dele foi dissipada pela ascensão da Liga, que neste período passou de 5% para 13% ou 15%”, explica.  

Ferraro vê esse cenário com preocupação. “O problema é que não é simplesmente uma coligação de centro-direita, como na época de Berlusconi: populista, conservador, mas moderado. Agora, é uma coligação de direita onde a Liga tem um poder maior e um peso eleitoral maior. É perigoso porque desloca o cenário político italiano bem mais à direita do que era até agora”, destaca. O filósofo lembra que, pela primeira vez nas eleições pós-guerra, haverá partidos declaradamente neofascistas concorrendo, o CasaPound e o Força Nova.

Desilusões

Nesse contexto, Ferraro lamenta que um tema secundário, como a imigração, tenha se tornado central no debate– ao mesmo tempo em que as propostas para áreas cruciais, como economia, são rasas. “O problema da Itália não é a imigração”, ressalta.  

“Para muitas pessoas, nos últimos 20 anos, a democracia não honrou suas promessas, não garantiu um futuro tranquilo para os cidadãos e, a cada ano que passa, o futuro lhes aparece mais sombrio. Temos visto uma diminuição das reformas, o trabalho é cada vez mais precário e em troca de salários inferiores”, comenta Adinolfi. “Os cidadãos começaram a procurar soluções em outras vias além dos partidos mainstream. São partidos capazes de captar a desconfiança.”

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