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Transparência: Bélgica prefere atribuir mais mortes à Covid-19 do que ocultar tragédia em casas de repouso

A taxa de mortalidade por coronavírus na Bélgica, um país de 11,5 milhões de habitantes, é uma das mais elevadas da Europa. A razão desse fenômeno é a inclusão sistemática de mortes suspeitas no balanço oficial e a recusa do poder público local em ocultar o destino dramático dos idosos nas casas de repouso.

A primeira-ministra da Bélgica, Sophie Wilmès.
A primeira-ministra da Bélgica, Sophie Wilmès. DIRK WAEM / BELGA / AFP
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O número de óbitos registrados na epidemia de Covid-19 na Bélgica é expressivo: um saldo de 4.857 mortes vinculadas ao novo coronavírus, enquanto o Reino Unido e a França, seis vezes mais populosos, contabilizam cerca de 13.000 e 17.000 mortes, segundo os dados mais recentes. Considerando o número de mortes por milhão de habitantes, a Bélgica, com 419, supera seus vizinhos britânicos (190) e franceses (263), mas também a Espanha (409), entre os países mais afetados pela pandemia.

A exposição do país é tal que a primeira-ministra belga, Sophie Wilmès, teve que dar explicações na quarta-feira (15) à noite, após uma nova reunião de crise dedicada à pandemia. A Bélgica "escolheu a maior transparência na comunicação das mortes relacionadas à Covid-19", justificou a chefe de governo belga, que não descartou a possível inclusão "de números superestimados".

Na prática, as autoridades de saúde incluem em seus balanços as mortes em hospitais, mas também em casas de repouso, onde o vírus causa estragos, apesar da proibição de visitas. Além disso, nestes centros (cerca de 1.500 no país), a contagem é exaustiva, pois inclui mortes possivelmente ligadas ao vírus sem testes.

"Na Europa, nenhum país executa o balanço da mesma maneira. Fazemos isso com mais detalhes", disse a ministra da Saúde, Maggie De Block, à emissora de televisão LN24. De Block enfatizou que seu ministério estuda, juntamente com as diferentes regiões, uma maneira de recontagem, que permitiria à Bélgica se comparar com seus vizinhos, sem especificar a quais países se referia.

"Tragédia a portas fechadas"

A extensa contabilidade belga, alvo de críticas de alguns médicos por ocultar outros diagnósticos como hipertensão, diabetes ou doenças cardiovasculares, "é necessária", segundo o especialista Emmanuel André. Este porta-voz das autoridades de saúde e virologista estima que "considerar casos suspeitos é uma boa prática" para monitorar uma epidemia.

Até agora, as mortes por Covid-19 confirmadas por um teste positivo eram minoritárias em asilos, em torno de 5%. Mas, segundo o virologista, esse percentual aumentará nos próximos dias devido ao aumento dos testes de detecção, o que permitirá dimensionar melhor a presença do vírus.

Para o sociólogo Geoffrey Pleyers, "uma tragédia humana, social e ética" ocorre há um mês "a portas fechadas nos asilos", com autoridades focadas na capacidade dos hospitais de lidar com o novo coronavírus. "Quantas dessas mortes poderiam ter sido evitadas com cuidados hospitalares?", questiona o pesquisador belga em uma coluna publicada no jornal Le Soir.

Dada a magnitude do drama, o governo belga decidiu multiplicar seu esforço inicial de 20.000 testes em casas de repouso e facilitar 210.000, um fornecimento gradual iniciado na quarta-feira.

Mas "210.000 testes são insuficientes", lamenta Vincent Frédéricq, secretário-geral da Femarbel, a principal federação do setor na Bélgica francófona. Além de seus 160.000 residentes em todo o país, esses estabelecimentos têm cerca de 110.000 funcionários (pessoal de saúde, administrativo, etc.), que podem se tornar vetores do vírus, explica. "Na região de Bruxelas, 95% dos funcionários usam transporte público, metrô, bonde ou ônibus" para ir ao trabalho, lamenta Frédéricq.

Com informações da AFP

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