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"Para que serve a ONU?", pergunta Volodymyr Zelensky no Conselho de Segurança

Em discurso por videoconferência ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), reunido nesta terça-feira (5), em Nova York, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pressionou os demais países a agirem para conter as “atrocidades” cometidas pelo “maior criminoso do planeta”, disse ele, em referência ao russo Vladimir Putin. “Para que serve a ONU se não for para garantir a paz?”, perguntou Zelensky diante dos representantes dos países que formam a ONU.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky se dirige ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) por vídeoconferência. Em 5 de abril de 2022, na cidade de Nova York.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky se dirige ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) por vídeoconferência. Em 5 de abril de 2022, na cidade de Nova York. © Spencer Platt/Getty Images/AFP
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O líder ucraniano acusou a ONU de ter “fechado os olhos diante dos oito anos de guerra no Donbass e da invasão da Crimeia, em 2014, mas hoje não poderá mais fazer que não vê”.

O discurso de Zelensky ocorreu no 41º dia da agressão russa à Ucrânia, após a forte reação despertada em todo o mundo pelas imagens de abusos contra civis cometidos em Bucha, cidade libertada pelo Exército russo, na Ucrânia, onde foram descobertas valas comuns cheias de corpos, alguns com sinais de tortura e mutilações.

“A Rússia semeia seu discurso de raiva e mata civis para deixar nosso país vazio, desabitado, destruído”, disse, destacando que todos haviam visto “as fossas comuns e a profunda desolação causada por uma política sistêmica de propaganda de Estado”, completou Zelensky.

O presidente ucraniano lamentou que a Rússia se utilize da “ameaça de desabastecimento de produtos alimentícios e da pressão sobre os mercados mundiais” para seguir com seus planos de guerra.

Após o discurso de Zelensky, o embaixador russo nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya, classificou o discurso como "inumeráveis mentiras contra o Exército e soldados russos".

Onde está o Conselho de Segurança da ONU?

“Onde está o Conselho de Segurança da ONU?”, perguntou o presidente ucraniano. “Onde está a paz em nome da qual essa instituição foi criada?”, questionou lembrando que a ONU foi idealizada para “assumir a função de parar a agressão e restabelecer a paz, mesmo que pela força”, completou.

“O que foi feito depois do massacre de Bucha?”, perguntou, acrescentando que outras cidades já liberadas, ou que ainda serão, foram vítimas do mesmo tipo deliberado de violência. Durante a sessão, foram mostradas imagens gravadas nas ruas da cidade ucraniana.

“Quero lembrar o artigo 1 do estatuto da ONU, com o objetivo principal de apoiar a paz e conseguir o seu restabelecimento”, disse o presidente, cobrando que os membros fundadores da organização cumpram o estatuto que criaram.

“Os piores crimes de guerra desde o fim da Segunda Guerra Mundial estão sendo cometidos”, observou, relatando que “cidades ucranianas são alvo de artilharia pesada, com objetivo de dar fim em massa a civis, de forma deliberada, premeditada”, acrescentou, citando o bloqueio de corredores humanitários, explosões de conjuntos residenciais e mesmo de abrigos onde a população estava escondida, com o objetivo “de exterminar o maior número possível de civis”.  

Versões mentirosas

Volodymyr Zelensky disse já conhecer “perfeitamente o que dirão os representantes russos”, pois eles já fizeram isso antes, com “uma atitude de desinformação e muitas versões mentirosas”, mas “a verdade precisa vir à tona”, disse.

“Estou convencido de que todo país membro da ONU tem que agir. É do interesse de todos responsabilizar este que pensa estar impune e que pode ser o maior criminoso do planeta”, acusou, acrescentando que “a Rússia invadiu a Ucrânia para tomar as riquezas” do país.

“Eles roubam por onde passam, lojas e até brincos de mulheres mortas”, afirmou. "Com sua atitude, a ONU autoriza a propagação da morte”, enquanto deveria fazer de tudo para proteger a segurança e a paz, disse.

“Vocês estão prontos para que, amanhã, percebam que o tempo do direito internacional passou?”, questionou o presidente, pedindo aos países para tirar da Rússia o seu direito de veto como membro do Conselho de Segurança.  

“A tirania deve parar de existir”, apelou, dizendo que isso somente aconteceria “com uma resposta rápida e forte”, capaz de “mudar o mundo e acabar com a guerra aos ucranianos”.

Responsáveis no tribunal

O presidente incitou os membros da ONU a “encontrarem os responsáveis e delimitarem a cadeia de comando das ações", para que “cada um que deu uma ordem criminosa seja levado ao tribunal”, como aconteceu em Nurenberg, em referência a uma série de julgamentos militares  contra membros da Alemanha nazista organizados pelos Aliados depois da Segunda Guerra Mundial. 

“Uma nova ordem internacional pode ser estabelecida”, propôs. “Do que fizermos hoje depende o que deixaremos às gerações futuras”, alertou. “Não podemos depender da ambição ou privilégios pessoais”, concluiu Volodymyr Zelensky, lembrando que a Ucrânia nunca se privou de participar de ações da ONU, “sem olhar quem estava em perigo, em nome de um mundo seguro”.

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