Caixas-pretas de avião derrubado na Rússia são localizadas

A Rússia anunciou nesta quinta-feira (25) ter encontrado as duas caixas-pretas do avião de transporte militar que Moscou acusa a Ucrânia de ter derrubado. Todos os 74 passageiros a bordo morreram, no que o governo russo considerou “um ato bárbaro de terrorismo”. A Ucrânia pede uma investigação internacional do caso. 

A Rússia afirma que um avião de transporte militar que transportava 65 prisioneiros de guerra ucranianos caiu em uma região russa próxima da Ucrânia. AP

Entre os mortos, estariam 65 prisioneiros de guerra ucranianos que eram transferidos para uma troca de presos, alega Moscou. Kiev não confirmou ter responsabilidade pelo acidente, nem a presença de prisioneiros ucranianos a bordo.

A Ucrânia quer uma investigação internacional da tragédia, disse o comissário ucraniano de direitos humanos, Dmytro Loubinets, nesta quinta-feira, acrescentando que enviaria uma carta às Nações Unidas e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

"Com base nas minhas informações, não posso dizer que houvesse realmente prisioneiros de guerra. Não vimos nenhum sinal de que houvesse um número tão grande de pessoas a bordo", acrescentou.

A aeronave, um Ilyushin II-76, caiu na quarta-feira perto da cidade russa de Belgorod, perto da fronteira com a Ucrânia. Os serviços especiais ucranianos anunciaram a abertura de uma investigação, "realizada de acordo com o artigo 438 do Código Penal da Ucrânia (violação das leis e práticas de guerra)”.

Conselho de Segurança se reúne

O Conselho de Segurança das Nações Unidas deverá se reunir no fim da tarde desta quinta-feira em Nova York, a pedido da Rússia, que procura estabelecer "as razões deste ato criminoso ucraniano", nas palavras usadas pelo ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov.

“O fato de os ucranianos terem matado os seus prisioneiros, os seus cidadãos, que deveriam estar em casa praticamente dentro de 24 horas, é obviamente um ato completamente monstruoso”, reagiu na quinta-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O Ministério da Defesa russo disse que o avião transportava 65 prisioneiros de guerra ucranianos, seis tripulantes russos e três soldados russos. Uma troca de prisioneiros aconteceria na tarde de quarta-feira em uma passagem de fronteira, acrescentou.

Segundo o ministério, a Ucrânia sabia que um avião de transporte com prisioneiros era esperado no aeroporto de Belgorod. Radares russos detectaram o lançamento de dois mísseis ucranianos no momento da queda, disse ele.

Zelensky acusa Rússia de 'brincar com a vida dos ucranianos'

Na sua mensagem de vídeo diária transmitida na noite de quarta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que eram necessárias informações adicionais para esclarecer a queda da aeronave. “É claro que os russos estão brincando com a vida dos prisioneiros ucranianos, com os sentimentos dos seus entes queridos e com as emoções da nossa sociedade”, comentou.

A inteligência militar ucraniana confirmou que iria ocorrer uma troca, mas acrescentou que não havia sido informada sobre como esses detidos seriam transferidos para o local da transação. Ao contrário de outros trocas anteriores, a Ucrânia não foi solicitada a garantir a segurança do espaço aéreo em torno de Belgorod, acrescentou ele.

“Com base nisso, pode ser que este seja um ato planejado e deliberado da Rússia para desestabilizar a Ucrânia e enfraquecer o apoio internacional ao nosso Estado”, disse um comunicado publicado no Telegram.

Aumento de pousos russos

O exército ucraniano sublinhou, sem confirmar ter abatido o Ilyushin, que continuaria a destruir aviões russos que transportavam mísseis destinados a atacar a Ucrânia, e disse ter notado um aumento no número de aviões de transporte militar pousando em Belgorod. A suspeita dos ucranianos é que esses pousos tenham relação com os recentes ataques com mísseis em Kharkiv e outras cidades do país.

“A Ucrânia tem o direito de se defender e destruir as capacidades de ataque aéreo dos agressores”, disse o comandante da Força Aérea, Mykola Oleshchuk.

A inteligência militar ucraniana também esclareceu que Kiev respeitou os termos da troca de prisioneiros planejada e transferiu prisioneiros russos para o local acordado.

“A aterrissagem de um avião de transporte numa zona de combate de 30 quilômetros não pode ser segura e deve, em qualquer caso, ser objeto de discussões entre as duas partes”, disse, acrescentando não ter informações confiáveis ​​sobre os passageiros das aeronaves.

Suposta lista de prisioneiros

A imprensa estatal russa, por sua vez, publicou uma lista de 65 nomes de soldados ucranianos capturados que afirma que estavam a bordo, com suas datas de nascimento. Segundo alguns meios de comunicação ucranianos, nesta lista aparecem nomes de prisioneiros que já foram trocados.

Mais de 8 mil ucranianos, incluindo mais de 1,6 mil civis, estão em cativeiro russo, segundo Kiev.

Um vídeo publicado em mensagens do Telegram pela conta Baza, ligada aos serviços de segurança russos, e autenticado pela agência Reuters, mostra um grande avião caindo no chão perto da vila de Yablonovo, na região de Belgorod, e explodindo em uma enorme bola de fogo.

Se o número de mortos for confirmado, seria o incidente mais mortal ocorrido dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Rússia desde o início da ofensiva lançada por Moscou na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Andrei Kartapolov, deputado russo e ex-general do exército russo, disse que o avião foi abatido com três mísseis projetados pelos Estados Unidos ou pela Alemanha e não foi escoltado por caças porque o voo havia sido negociado com a Ucrânia.

Com informações da Reuters e AFP