Acessar o conteúdo principal

Saiba quem é a secretária de Estado francesa que causou polêmica na capa da Playboy em plena crise

"Na França, as mulheres são livres". Assim, Marlène Schiappa se defendeu diante de quem não gostou da ideia de ver a secretária de Estado da Economia Social e Solidária da França na capa da revista masculina Playboy que chega às bancas nesta quinta-feira (6). O fato gera muita polêmica no país, já conturbado pela pressão social das greves contra a reforma da Previdência. Entre críticas pelo exibicionismo e aplausos por sua coragem, a política do mesmo partido do presidente Emmanuel Macron está no centro dos debates.

A secretária de Estado da Economia Social e Solidária da França ilustra a capa da revista Playboy que chega às bancas nesta quinta-feira (6). Arquivo
A secretária de Estado da Economia Social e Solidária da França ilustra a capa da revista Playboy que chega às bancas nesta quinta-feira (6). Arquivo © LUDOVIC MARIN/AFP
Publicidade

Nas fotos divulgadas antes mesmo da publicação, Marlène Schiappa aparece com um vestido branco e o rosto voltado para o horizonte, no que muitos compararam com a figura da Marianne, símbolo da república francesa e que também aparece nas notas de Real. A bandeira da França foi colocada ao fundo e o título “Playboy” se destaca na capa nas cores nacionais: azul, branco e vermelho.

A França está "saindo dos trilhos", escreveu no Twitter Jean-Luc Mélenchon, político da esquerda radical que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais da França, em 2022, criticando a aparição de Schiappa na Playboy.

“Defender o direito das mulheres de dispor de seus corpos está em todo lugar e o tempo todo. Na França, as mulheres são livres. Com todo o respeito aos retrógrados e hipócritas”, reagiu Marlène Schiappa também em um tuíte. Em uma entrevista de 12 páginas na Playboy de abril, ela diz defender ideias que a acompanham desde o início da carreira na vida pública.

 

 

Schiappa recebeu apoio da colega Prisca Thévenot, porta-voz do partido Renascimento. "É importante abordar estes assuntos" numa revista que "não é conhecida por promover o tema dos direitos das mulheres e a sua relação com o corpo", afirmou a deputada.

Já a primeira-ministra, Élisabeth Borne, não achou apropriado. De acordo com fontes próximas à chefe de Governo, Borne telefonou para Marlène Schiappa declarando que a entrevista “não era adequada, especialmente neste período”.

"Não falo mal de Marlène Schiappa. Ela é uma mulher de caráter", afirmou, por sua vez, o ministro do Interior, Gérald Darmanin. Em uma participação no canal de televisão Cnews, no domingo (2) ele disse: "Ser uma mulher livre não é tão fácil".

Em uma biografia publicada na França, em fevereiro passado, quando era Secretária de Estado para a Igualdade entre Homens e Mulheres, Marlène Schiappa expôs vários ataques traumáticos de que já foi vítima. Ela confidenciou ao autor do texto ter sido vítima de tentativa de agressão sexual em duas ocasiões.

Em entrevista à televisão Europe 1, o diretor de redação da Playboy, Jean-Christophe Florentin, conta que foi necessário um trabalho de persuasão para que ela aceitasse posar. "Nós pensamos 'por que não tentar fazer uma reportagem tratando dos direitos das mulheres de uma forma sexy'", explicou o executivo da revista conhecida por fotos eróticas.

“Essa atitude faz parte da longa lista de transgressões midiáticas de Marlène Schiappa, mas também de uma tendência fundamental que vê a exibição do corpo como argumento feminista”, comenta o professor de comunicação política da Sciences Po, Philippe Moreau-Chevrolet, em entrevista à revista Le Point.

Biografia política

Filha de um historiador e de uma diretora de escola, Marlène Schiappa nasceu em 18 de novembro de 1982 em Paris. Ela estudou geografia na Sorbonne e mais tarde obteve um diploma em comunicação. Em 2001, se lançou na política ao se apresentar em uma lista como candidata às eleições regionais de Île de France. Mais tarde, ingressou numa agência de publicidade, onde trabalhou durante alguns anos. A partir daí embarcou no jornalismo, escrevendo para vários jornais e blogs.

Em 2008, ela se destacou com a criação do blog Mom Works, uma rede social para mães trabalhadoras. E a partir de então, lança diversas propostas em torno da igualdade entre homens e mulheres, bem como a melhoria do equilíbrio entre a vida profissional e privada. Em 2016, Schiappa tem uma breve passagem pelo gabinete de Laurence Rossignol, no Ministério dos Direitos da Mulher. Ao mesmo tempo, se juntou ao grupo de Emmanuel Macron para as eleições presidenciais.

Em maio de 2017, Marlène Schiappa foi nomeada secretária de Estado responsável pelas políticas em prol da igualdade entre homens e mulheres no governo do primeiro-ministro Édouard Phillipe. Em julho de 2020, foi nomeada ministra Delegada para a Cidadania, ao lado de Gérald Darmanin, no novo governo de Jean Castex. Em julho de 2022, se tornou nomeada Secretária de Estado da Economia Social e Solidária e Vida Associativa, já no governo de Élisabeth Borne.

Marléne Schiappa já se envolveu em outras polêmicas antes. Em 2021, quando era ministra delegada responsável pela cidadania, um vídeo  de uma reunião da política com influencers deu o que falar. Um vídeo, publicado por uma das participantes, mostra a política rindo em um ambiente descontraído, com dança e piadas, quando o assunto da reunião era a violência contra mulheres. O tom do encontro foi considerado inapropriado para o cargo e para o momento, em plena pandemia, quando nenhuma delas usava máscara.

Ainda é cedo para dizer se a “ousadia” da Secretária de Estado do governo Macron na capa da Playboy vai enfrentar consequências políticas. Mas o fato desvia um pouco a atenção da crítica pesada que o governo vem recebendo por causa da reforma Previdenciária.

Mãe de Marine Le Pen também já posou na Playboy

Não é a primeira vez que uma mulher sai do noticiário político para a capa da Playboy na França. Em junho de 1987, Pierrette Le Pen aparecia com um decote saliente na publicação masculina. A ex-esposa de Jean-Marie Le Pen, o fundador do partido Frente Nacional, posou para uma edição da revista sob o título: “Ela mostra tudo! “.

O fato deixaria uma marca profunda na família, em especial em sua filha, Marine Le Pen, hoje líder da extrema direita na França, que romperia relações familiares por quinze anos.

As fotos de Pierrette Le Pen seminua, com um aspirador de pó entre as pernas, ou de quatro, passando um pano no chão, são um dos grandes traumas do clã Le Pen. Próximos da família dizem que o ódio que Marine Le Pen nutriu pelo pai nasceu desse episódio, em que ela viu sua mãe nua, servida de bandeja aos leitores da Playboy, após desentendimentos com o então marido.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.