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Relatório encomendado pelo governo francês propõe a proibição do uso de telas por menores de 3 anos

Um relatório sobre o uso de telas por crianças, que será apresentado ao presidente francês Emmanuel Macron nesta terça-feira (30), recomenda a proibição total desses dispositivos eletrônicos para crianças menores de três anos. O documento visa a orientar os pais e não a impor restrições por lei, explicou um dos autores do estudo.

A superexposição das crianças às telas: relatório do governo francês aborda os riscos para o futuro da sociedade. Imagem ilustrativa.
A superexposição das crianças às telas: relatório do governo francês aborda os riscos para o futuro da sociedade. Imagem ilustrativa. AP - Paul White
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“Não colocaremos um policial na frente de cada casa”, disse a psiquiatra, especialista em adições, Amine Benyamina em entrevista à rádio RTL. Ela copresidiu, com o neurologista Servane Mouton, a comissão de trabalho responsável pela elaboração desse relatório, solicitado em janeiro pelo chefe de Estado.

Macron receberá as conclusões do estudo nesta terça-feira. As principais recomendações foram detalhadas na imprensa na noite de segunda-feira (29). O estudo alerta sobre “a realidade da hiperconexão vivida pelas crianças” e “as consequências para a saúde, o desenvolvimento e futuro” dos menores, mas também para o futuro “da nossa sociedade, da nossa civilização”.

A comissão explica que ficou “chocada” com “as estratégias para captar a atenção das crianças”. “Surgiu um consenso muito claro sobre os efeitos negativos, diretos e indiretos, das telas”, em particular sobre “o sono, o sedentarismo – que promove a obesidade – ou mesmo a miopia”, descreve o relatório

Especialistas apontam as redes sociais como “fator de risco” para depressão ou ansiedade em casos de “vulnerabilidade pré-existente”.

Além disso, “o nível de exposição das crianças” a conteúdos pornográficos e violentos “parece alarmante”, escrevem. Devemos “limitar ao máximo” a utilização de telefones celulares e televisões nas maternidades, propõe ainda a comissão, que gostaria que os computadores e TVs fossem proibidos nas creches e escolas maternais.

Os especialistas apontam que “as telas não são a causa das perturbações do neurodesenvolvimento”, mas apelam à “vigilância” para “evitar a amplificação dos sintomas”.

Em discurso à nação em janeiro, o presidente Emmanuel Macron citou temas como saúde e educação. O líder francês falou da responsabilidade dos pais em limitar o uso desses dispositivos eletrônicos por crianças e adolescentes com foco na melhor formação e integração social.

“Todo mundo vê que as crianças e adolescentes passam cada vez mais tempo diante das telas de telefones e computadores. Além disso, eu vejo as pesquisas que mostram os impactos disso. Muitos jovens só se informam pelas telas, o que dá espaço a fake news, um perigo para a democracia e o risco do surgimento de uma geração de complotistas”, disse. 

Celulares proibidos até 11 anos

No relatório apresentado nesta terça-feira, os especialistas propõem uma proibição total de telas para crianças com menos de três anos e um acesso extremamente limitado até aos seis anos de idade. Os especialistas também recomendam proibir todos os celulares antes dos 11 anos e usar a internet apenas a partir dos 13 anos.

Porém, os pais “não devem entrar em pânico”, advertiu Benyamina, explicando que esse relatório constitui sobretudo “uma forma de guia”.

“Não é algo que (precisa) ser imposto”, continuou ela. “O presidente com toda a força que puder reunir, ou todos os presidentes do mundo, não poderão legislar nos lares,” observou.

Segundo a psiquiatra, a ideia é primeiro oferecer aos pais uma ferramenta de discussão com os filhos. “Você tem uma estrutura na qual talvez possa negociar com seus filhos, dizendo ‘há pessoas que pensam, pessoas que conhecem o assunto e defendem esse tipo de coisa’”, disse Benyamina.

A autora garantiu que o relatório tem grande rigor científico, mas admite que a discussão sobre telas para as crianças está longe de ser objeto de consenso entre os pesquisadores. “Consultamos e examinamos a literatura e cada vez que não estava muito claro, propusemos as coisas com cautela”, insistiu. “A tela pode ser uma ferramenta, mas não uma finalidade, é isso que estamos tentando apontar”, concluiu a psiquiatra francesa.

(Com AFP)

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