Macron e Le Pen disputam votos de grevistas ameaçados pela deslocalização
A campanha do segundo turno endureceu nesta quarta-feira (26) com um verdadeiro duelo entre a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, e o centrista Emmanuel Macron. No espaço de algumas horas, ambos foram fazer campanha junto aos grevistas de uma fábrica em Amiens, no norte do país, ameaçada pela deslocalização.
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Se os funcionários da fábrica de eletrodomésticos Whirlpool de Amiens, no norte da França, precisavam divulgar a crise por que passam, esta quarta-feira (26) foi a grande oportunidade para denunciar a ameaça da fábrica em que trabalham se transferir para a Polônia. Na campanha eleitoral para o segundo turno, os dois candidatos foram ao encontro dos trabalhadores em greve. Marine Le Pen foi a primeira a fazer uma visita-surpresa, seguida por Emmanuel Macron, poucas horas depois.
Amiens é a cidade natal de Emmanuel Macron, que planejou encontrar alguns membros do sindicato no centro da cidade e depois dar uma coletiva de imprensa. Mas nessa corrida final para a presidência, a líder da extrema-direita passou uma rasteira no rival, indo encontrar diretamente os piqueteiros diante da fábrica, entre pneus queimados e cartazes. Depois que Marine fez selfies e promessas aos grevistas, Macron reagiu e decidiu ir também ao local, onde foi recebido com vaias e gritos de protestos. "Desde 2015 estamos pedindo para encontrá-lo e ele nunca respondeu. Agora é que vem aqui", reclamou um operário.
"Estou aqui com os trabalhadores", afirmou Le Pen, que se aproximou da multidão e posou para selfies, declarando que sua presença era uma mensagem para os funcionarios e para Macron. Depois de apresentar-se como defensora dos "operários e dos trabalhadores", da política antieuro e anti-imigração, ela lembrou mais uma vez que é a candidata "dos franceses que não querem perder seus empregos". As regiões norte e nordeste da França votaram em peso na candidata da Frente Nacional.
Já Macron teve um encontro mais tenso e ruidoso com os grevistas. Antigo alto executivo do setor bancário , ele denunciou "o uso político" do conflito social na fábrica por parte de Marine Le Pen, argumentando que o projeto da candidata "destruiria o poder aquisitivo", enquanto que ela defende o protecionismo para manter as empresas no país.
Entenda o conflito social da Whirlpool
A fábrica Whirlpool na França tem 286 assalariados e 250 empregados temporários que trabalham de forma quase permanente, além de uma centena de terceirizados. O emprego de todos está ameaçado.
No final de janeiro deste ano, o grupo, sediado nos Estados Unidos, anunciou a intenção de deslocalizar a produção para a Polônia e fechar a fábrica de secadoras de roupas em junho de 2018. O objetivo é claro: economizar na mão de obra e manter a competitividade.
A fábrica já teve três planos sociais, em 2002, 2005 e 2008. Para se ter uma ideia, no ano de 2002 cerca de 1.300 pessoas trabalhavam no local. Desde o anúncio do fechamento no ano que vem, os trabalhadores têm manifestado, pedido aos clientes para boicotarem a marca que, em 2016, teve um faturamento de US$900 milhões.
O governo aposta em uma eventual venda da empresa e haveria interesse por parte de cerca de 15 investidores franceses, mas nada foi concretizado até hoje e o clima de insegurança continua. Se a Whirlpool partir, vai ser um golpe duro para a região, bastante afetada pelo fechamento das fábricas de pneus Goodyear e Continental, e pelo desemprego.
Whirlpool no Brasil
O grupo de eletrodomésticos Whirlpool tem presença na América Latina e atua no Brasil com as marcas Brastemp, Consul e KitchenAid. Em 2016, em posse de 95% da companhia, o grupo fez uma oferta pública para adquirir a totalidade das ações em circulação de sua subsidiária brasileira e fechar o capital da empresa.
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