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Avignon OFF mostra a difícil sobrevivência do teatro não subsidiado na França

O Festival de Avignon, que acontece até o final de julho no sul da França, reúne dois mundos das artes cênicas do país: o teatro subsidiado pelo Estado - que financia grande parte das megaproduções que figuram na programação oficial – e o teatro das pequenas trupes que batalham para sobreviver, o chamado Avignon OFF, que apresenta esse ano 1480 espetáculos. Mas, quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade.

A grande parada anuncia a abertura do Avignon Off, o circuito paralelo do Festival de Avignon, no sul da França, em cartaz até 30 de julho.
A grande parada anuncia a abertura do Avignon Off, o circuito paralelo do Festival de Avignon, no sul da França, em cartaz até 30 de julho. Reprodução Facebook
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Enviada especial a Avignon

O grande desfile, na quinta-feira à noite (6), das pequenas companhias de teatro do Festival Avignon OFF, deu a largada da maratona que começa na cidade até 30 de julho, com espetáculos de rua, centenas de atores e atrizes vestidos com seus figurinos, no corpo a corpo com o público, defendendo suas produções.

Uma imensa vitrine para o teatro

A partir dessa sexta-feira (7), a cidade medieval vira o maior mercado de teatro do mundo: as sessões começam às 9 horas da manhã e vão até altas horas da madrugada. Mas, para conseguir fazer parte dessa vitrine do teatro, alguns profissionais chegam até a trabalhar de graça.

A “batalha” no meio é rude e fora do palco nem sempre tudo é “glamour”. Jovens companhias reúnem suas economias para se apresentar em um dos 128 teatros da cidade, para onde convergem centenas de programadores franceses e estrangeiros. É aqui em Avignon que eles selecionam os espetáculos para organizar suas turnês do ano.

Jovens companhias reúnem suas economias para se apresentar em um dos 128 teatros da cidade, para onde convergem centenas de programadores franceses e estrangeiros.
Jovens companhias reúnem suas economias para se apresentar em um dos 128 teatros da cidade, para onde convergem centenas de programadores franceses e estrangeiros. RFI/Maria Emília Alencar

Segundo uma pesquisa realizada esse ano com 254 companhias independentes, apenas 2% recebem subsídios diretos do Estado francês. E organizar uma produção em Avignon não é nada barato: o orçamento médio para montar um espetáculo no circuito Avignon OFF é de € 24,5 mil (cerca de R$ 92 mil).

Novo sistema de ajuda às pequenas companhias

Com a redução do financiamento púbico ao teatro independente, a criação artística do setor fica às vezes em mãos de produtores que buscam espetáculos mais comerciais e com menor custo. Por isso, no programa desse ano há um número recorde do gênero “One Man Show” de humor (mais de 150), executados por apenas um comediante, sem cenários sofisticados.

Diante da redução crescente do financiamento público, o novo presidente da Associação Avignon Festival e Compagnies, Pierre Beffeyte, criou um esse ano um fundo de € 250 mil (cerca de R$ 930 mil) de apoio às pequenas trupes. 89 companhias foram beneficiadas com um máximo de € 4 mil (cerca de R$ 15 mil) para cada produção.

A medida visa melhorar a qualidade da programação do OFF, criado em 1966 em torno de uma filosofia libertária, pouco antes da revolução de maio de 68, mas que pouco a pouco foi dando espaço às produções mais comerciais por questões econômicas. Alguns exemplos típicos na programação desse ano, com títulos bem evocativos :“Volta ao mundo em 80 dias com uma loura” ou “Faça amor com um belga” não escondem uma vocação bem comercial.

Diversidade e “pérolas do OFF”

Apesar de todos os problemas, o Festival Avignon Off, se caracteriza pela grande diversidade teatral, que inclui também excelentes produções.
Apesar de todos os problemas, o Festival Avignon Off, se caracteriza pela grande diversidade teatral, que inclui também excelentes produções. RFI/Maria Emília Alencar

Apesar de todos os problemas, o Festival Avignon OFF, se caracteriza pela grande diversidade teatral, que inclui também excelentes produções. É verdade que nem sempre é fácil separar “o joio do trigo” mas alguns teatros de Avignon primam pela qualidade como o Thêatre de Halles que apresenta o grande ator francês Denis Lavant numa adaptação do romance de Beckett “Melhor Pior”, o Thêatre du Balcon que homenageia o grande compositor francês Erik Satie com um espetáculo musical bastante elogiado pela crítica, e o Theâtre du Chêne Noir, que apresenta a peça Migraaaants” do autor romeno, radicado na França, Matéi Visniec, um dos grandes dramaturgos contemporâneos, cujas peças já foram várias vezes adaptadas no Brasil.

Para muitos programadores que buscam criações inovadoras, o circuito paralelo do Festival de Avignon pode ser um viveiro de novidades e muitas chamadas “pérolas do OFF” já fizeram carreira internacional, como é o caso da companhia franco-brasileira Dos à Deux, fundada pelos brasileiros Artur Ribeiro e André Curti. Eles se consagraram durante o festival com o espetáculo que dá nome a esta companhia, que há mais de 20 anos produz teatro na França, agora com subvenções mais consistentes. Ribeiro e Curti, da Dos à Deux, ganharam em 2016 o Prêmio Shell na categoria Melhor Cenário, além do Cesgranrio 2016 de Melhor Cenário e Melhor Iluminação e Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Iluminação do Prêmio APTR - Associação dos Produtores de Teatro, no Brasil, onde mantém uma sede no bairro da Glória, no Rio de Janeiro.

O Festival vem aliás atraindo cada vez mais companhias estrangeiras, em sua maioria europeias. Esse ano, há uma presença marcante de companhias asiáticas: 14 da China, 5 de Taiwan,2 do Japão, 1 da Coreia e 1 de Hong Kong.

O Festival Avignon OFF vai até 30 de julho.

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