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Esportes

Paris 2024: ainda vale a pena acolher os Jogos Olímpicos?

A questão vem à tona na França a alguns dias da oficialização de Paris como a capital sede das Olimpíadas de 2024, na quarta-feira (13), em Lima, no Peru. Diante dos gastos exorbitantes e de um controverso legado, organizar essa dispendiosa competição ainda é vantajoso para as cidades? , perguntam-se os franceses.

Paris será anunciada como a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2024 na quarta-feira, 13 de setembro.
Paris será anunciada como a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2024 na quarta-feira, 13 de setembro. Dr
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A cada quatro anos, a história se repete. As cidades que recebem os Jogos Olímpicos extrapolam em bilhões os valores inicialmente previstos para organização do evento. Resultado: desde 1988, a média de endividamento das cidades é de 179% em relação ao orçamento inicial. Com o passar dos anos, os novos materiais, as novas tecnologias e os dispositivos de segurança custam cada vez mais caro aos cofres das sedes da competição.

O caso mais emblemático é o de Pequim, em 2008, cujo orçamento chegou a € 31 bilhões. No entanto, em termos econômicos, para os especialistas quem mais sofreu foi Atenas, em 2004. Economistas indicam que a crise na qual a Grécia está afundada até hoje começou durante a realização dos jogos.

Temendo dar sequência a essa onda que teve como última vítima o Rio de Janeiro, em 2016, a capital francesa se divide sobre o acolhimento do evento. “Jogos Olímpicos de Paris em 2024: oportunidade ou maldição econômica?” questiona a manchete do caderno de economia do jornal Le Monde desta segunda-feira (11).

Segundo o diário, os economistas estão extremamente céticos sobre os benefícios de acolher a competição. Entrevistado por Le Monde, o economista Alexandre Delaigue indica que desde 1984, nenhuma edição dos Jogos Olímpicos, tanto de verão como de inverno, foi rentável para os Estados. “Todos os comitês de organização das cidades-sede viram seu orçamento explodir”, ressalta o especialista.

Paris 2024 : orçamento passou de € 6,2 para € 6,8 bilhões

O orçamento da realização dos jogos na capital francesa, que inicialmente era de € 6,2 bilhões, mas já foi revisado duas vezes (€ 6,5 bilhões e, finalmente, € 6,8 bilhões) pode arruinar as finanças da capital francesa?

Para o presidente do think tank Sport & Démocratie e embaixador da Paris 2024, Sylvère-Henry Cissé, a possibilidade é inexistente. Em entrevista à RFI, ele explicou que apenas € 1,5 bilhão do orçamento das olimpíadas na capital francesa virá dos cofres públicos.

Segundo ele, este montante será utilizado para a construção da vila olímpica, do centro de mídia e da piscina para as competições aquáticas, em Saint-Denis, periferia de Paris. “Hoje temos uma cidade que tem 85% da infraestrutura pronta para a realização dos jogos”, garante.

Além disso, Cissé destaca que essas construções financiadas com o dinheiro público contribuirão para a melhora do cotidiano dos cidadãos e da cidade. “A metade das crianças com menos de 11 anos deste município não sabe nadar, então precisamos de uma piscina lá. Já a vila olímpica será adaptada para se tornar a casa de muitas pessoas que sofrem com a falta de locais para morar em Saint-Denis”, destaca.

Segundo o embaixador da 2024, todos os esforços se concentram na realização de jogos “duráveis e responsáveis” em Paris. “É uma obrigação deixar um legado para a população desfavorecida e respeitar o meio ambiente”, salienta.

Para ele, o sucesso dos Jogos de 2024 também é essencial para a continuidade da realização das olimpíadas. “Percebemos nesses últimos anos que há cada vez menos cidades que se candidatam para sediar as Olimpíadas. Por isso, o Comitê Olímpico Internacional (COI) pede que as cidades se engajem em projetos cujos gastos sejam controlados, que respeitem o meio ambiente e as populações. Paris 2024 está à altura dessas exigências”, diz.

Ciente dos gastos exorbitantes, Cissé acredita que, no futuro, o modelo das competições terá de ser revisado. “É preciso que o Comitê Olímpico Internacional trabalhe neste sentido, talvez criando candidaturas entre dois países, como já foi feito em competições de futebol, a exemplo da Copa do Mundo na Coreia do Sul e no Japão em 2002. Isso permitirá a divisão dos gastos dos eventos e criar laços entre os países”, avalia.

Movimentos contra os jogos

Todas as garantias ou futuros projetos do Comitê Olímpico Internacional não parecem acalmar os ânimos de quem é contra a realização da competição. Diversos grupos e personalidades políticas se opõem aos jogos na capital francesa.

Desde o começo deste ano, o coletivo Referendum Paris 2024 reúne assinaturas de parisienses que exigem ser consultados sobre sediar o evento. "Muitas questões giram em torno dos JO”, diz o coletivo em seu site, lembrando que “os gastos, o tempo e o foco nesta competição são tão grandes que antes de toda a implicação da cidade nos jogos, é preciso que toda a população esteja de acordo para organizá-los”.

Outro grupo, o “Não aos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris”, é mais incisivo. Na quarta-feira, dia em que o Comitê Olímpico Internacional atribuirá a sede da competição à capital francesa, o movimento realiza uma manifestação contra os jogos na Praça Léonard Bernstein, no 12° distrito de Paris, às 17h.

“Desde 1988, todos os Jogos Olímpicos arruinaram as cidades-sede”, indica o coletivo em seu site. Para o grupo, o evento “não será a festa do esporte, mas dos patrocinadores". “O COI vai tomar o controle total da cidade durante os Jogos”, protesta o movimento.

As manifestações contra o evento ganham coro na classe política.“A situação do povo e do meio ambiente na França precisa de mais atenção do que a realização dos Jogos Olímpicos em Paris”, declarou nesta manhã à rádio France Info o deputado Adrien Quatennens, do partido da esquerda radical França Insubmissa.

Segundo Quatennens, por onde os Jogos Olímpicos passam, “é o povo quem paga a conta”. “Um grande momento de união dos povos, ok, mas a que preço?”, reitera o deputado, pedindo que os franceses permaneçam vigilantes para que as olimpíadas não custem ainda mais caro do que o previsto para a França.

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