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Brasil/Agricultura/Eleição

"Bolsonaro ouviu nossas necessidades", dizem representantes do agronegócio

Jair Bolsonaro, candidato do PSL à presidência do Brasil, avança para o segundo turno como favorito, contando com apoios importantes, como o dos empresários do agronegócio. Para os representantes do setor, que se aliaram oficialmente ao presidenciável antes mesmo do primeiro turno, Bolsonaro seria a melhor opção para defender os interesses econômicos do grupo, além de protegê-los de ações do MST, classificado com um “movimento de bandidos”.

Os empresários brasileiros do agronegócio apoiaram Bolsonaro em troca de uma "Estado mais enxuto"
Os empresários brasileiros do agronegócio apoiaram Bolsonaro em troca de uma "Estado mais enxuto" YASUYOSHI CHIBA / AFP
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Enviado especial ao Brasil

Durante toda a corrida eleitoral brasileira, tem se falado muito do “lobby BBB”, sigla usada para os grupos evangélicos (Bíblia), os defensores de uma linha dura em termos de segurança (Bala) e os agricultores e pecuaristas (Boi), que demonstram um apoio mais ou menos velado a alguns candidatos. No caso dos empresários do agronegócio, já bastante representado no Congresso, a ambiguidade desapareceu antes mesmo do primeiro turno, quando Jair Bolsonaro recebeu, no dia 2 de outubro, a visita da deputada Tereza Cristina (DEM-MS). A representante, que dirige a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), grupo que reúne 261 deputados federais e senadores de vários partidos, trazia uma carta na qual exprimia apoio oficial o candidato do PSL.

De acordo com o documento assinado pela FPA, a polarização sentida no primeiro turno e a possibilidade mais do que plausível de um duelo entre Bolsonaro e Fernando Haddad no segundo foi o estopim da decisão no início do mês. Na carta, os signatários afirmam unir suas forças para “evitar que candidatos ligados a esquemas de corrupção e ao aprofundamento da crise econômica brasileira retornem ao comando do nosso país”.

O documento era um recado direto ao Partido dos Trabalhadores (PT), apresentado pelos empresários do setor como o principal responsável pelas dificuldades do agronegócio brasileiro. “O governo do PT saqueou o país e nós queremos acabar com isso”, afirma Normando Corra, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso. A entidade, conhecida como Sistema Famato, representa alguns dos mais importantes players do setor, em um estado que reúne o principal rebanho bovino do país e um dos maiores do mundo.

Seu representante vê na eleição do candidato da extrema direita a solução para uma melhoria do setor, em oposição à ação do partido de Haddad durante os governos Lula e Dilma. “Desde o começo, Bolsonaro tem ouvido nossas necessidades e nos atendido. O que não acontece com o PT, que é um partido socialista que quer igualar pela miséria, e não pela distribuição de riquezas”, defende.

Setor quer um Estado mais enxuto

Mesmo tom do lado de Francisco Manzi, diretor técnico da Acrimat, a Associação dos Criadores de Mato Grosso, que representa os pecuaristas. Segundo ele,“o PT teve a sua chance de poder efetuar as medidas necessárias para que estivéssemos em uma situação melhor. Hoje temos quase 14 milhões de desempregados. Sabemos que há uma conjuntura internacional, mas é por causa das políticas de governo”, critica. “Então nos atrai um Estado mais enxuto que privatize o máximo, com exceção das funções que são exclusivamente de Estado, como juízes, polícia ou fiscais, que devem ser órgãos públicos. Nos agrada mais o posicionamento de quem quer ter um Estado menor”, afirma Manzi, que reconhece essas característica em Jair Bolsonaro.

Além da rejeição ao PT e da sede de privatização, outra questão motiva os agricultores: a luta contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. “O MST já invadiu áreas produtivas e de pesquisas e destruiu tudo. Isso não é um movimento social, e sim um movimento que prima pela ilegalidade. A função deles é pura baderna e tomada de poder”, se irrita Normando Corra. Questionado sobre as declarações de Bolsonaro, que teria comparado as invasões do MST a ações terroristas, o representante do Sistema Famato concorda. “É um movimento de bandidos e isso é ato de terrorista, coisa que o PT defende”.

Agronegócio ajudará a escolher ministro

Com esse apoio explícito, os agricultores terão em troca, em caso de vitória do candidato do PSL, uma influência de peso nas negociações e até na escolha do próximo ministro da Agricultura. No dia 16 de agosto, a deputada federal Tereza Cristina confirmou que Bolsonaro solicitou à bancada ruralista a indicação de “dois ou três nomes” para dirigir a pasta.

Entre os candidatos mais cogitados estão Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR), que chamou a atenção recentemente por declarações controversas. Além de defender a contestada fusão dos ministérios da Agricultura com Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente, ele já mencionou a possibilidade de desmatamento legal da Amazônia e questionou a pertinência do Acordo do Clima de Paris, que seria, segundo ele, um risco para a soberania nacional.

“Ele simboliza um ruralismo ultrapassado”, alerta Maureen dos Santos, representante da Fundação Heinrich Böll Brasil, que coordenou, junto com a Fundação Rosa Luxemburgo, o Atlas do Agronegócio. Para ela, essa visão da agricultura vai na contramão do que se pratica no resto do mundo. “O documento apresentado pelo FPA a Bolsonaro propõe mudanças de demarcação de terras indígenas e de assentamentos de reforma agrária. Existe um negacionismo em várias frentes, como os direitos socioambientais ou a própria existência das mudanças climáticas. São questões que a gente pensava que no Brasil já era um debate terminado”, explica.

Além disso, a especialista chama a atenção para o impacto dessas medidas no próprio setor. “Tem uma dimensão econômica que pode ser muito desfavorável para o Brasil, em especial em relação a países da Europa, que são mais avançados com algumas legislações. Podemos, por exemplo, criar problemas para barreiras comerciais e retaliações se a gente colocar a Amazônia em risco.” Para ela, questionar os avanços em termos de defesa ambiental é um perigo para todos. “Eles estão pensando muito no imediatismo, com uma conquista de terra e o crescimento do setor, mas pensando pouco no futuro a médio prazo”. 

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