Saiba o que as ondas de corrupção no Brasil, no Chile e na Argentina têm em comum
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Uma onda de corrupção arrasa o Sul da América Latina. O Brasil e o Chile protagonizam crises políticas e éticas a partir de escândalos de corrupção, de financiamento ilícito da política e de tráfico de influência. No centro dos escândalos, potencializados por economias estagnadas, estão os governos de esquerda. A Argentina não é exceção.
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
No Chile, o grupo financeiro e imobiliário Penta faturou serviços inexistentes para financiar principalmente políticos da União Democrata Independente, um partido da direita. Com a mesma dinâmica, outra empresa, a Sociedade Química e Mineira do Chile (SQM) distribuiu fundos ilícitos a legisladores da Nova Maioria, a coalizão de esquerda, liderada pela presidente Michelle Bachelet.
A SQM pertence ao ex-genro do ditador Augusto Pinochet. Ou seja: uma empresa ligada ao poder de Pinochet financiava o poder de Bachelet. E ligadas a esse esquema da SQM, centenas de pessoas e sociedades vinculadas a políticos de todas as vertentes, legisladores, ex-ministros e candidatos à Presidência.
O filho da presidente chilena, Sebastián Dávalos Bachelet, também está sendo investigado por suposto tráfico de influência. Natalia Compagnon, nora da chefe de Estado, no dia seguinte à vitória de Bachelet nas urnas, em 2013, recebeu um crédito de US$ 10 milhões de dólares do Banco do Chile para comprar terrenos de uso agrário que posteriormente passaram a ter uso urbano, incrementando o seu valor. Nessa jogada, o casal ganhou US$ 2 milhões.
Além disso, Sebastián tinha sido nomeado pela mãe como diretor sócio-cultural da presidência e teria usado influências políticas e informação privilegiada.
Segundo o último relatório da Transparência Internacional de 2014, o Chile ficou em 21° lugar entre 175 países, se posicionando como o menos corrupto da América Latina.
Paralelos entre escândalos no Brasil e Chile
Os analistas diferenciam as crises no Brasil e no Chile pelo lado da magnitude - porque o volume de dinheiro envolvido no Brasil é absurdo -, e pelo lado da corrupção institucionalizada, algo que no Chile não se percebe.
No Chile, alguns destacam que o dinheiro teria servido apenas para financiar a política e não para o enriquecimento pessoal. Mas outros se perguntam se uma parte do montante desviado para financiar campanhas políticas ou partidos não foi parar no bolso de alguns também.
Mas é possível traçar alguns paralelos: os atuais escândalos são os maiores da história dos dois países. Ambas as crises tem fundamento em financiamento de campanha política e na promiscuidade entre empresários e poder. Tanto no Brasil como no Chile, reina a desconfiança no poder político e nas grandes empresas.
Ambas as presidentes, Dilma Rousseff e Michelle Bachelet, foram perseguidas pela ditadura e seus governos levantaram a bandeira da moral e da ética na política. As duas chefes de Estado atingiram o recorde mínimo de popularidade e convivem com a ameaça de mega manifestações populares.
Para finalizar, os dois países impulsionam reformas políticas para legislar sobre um aspecto deficiente em toda a América Latina: o financiamento da política.
Escândalos na Argentina
Na Argentina, o responsável pela administração de obras públicas Lázaro Báez é apontado como "testa-de-ferro" dos Kirchner. Ele é investigado por uma gigantesca operação de lavagem de dinheiro.
Báez virou empresário construtor no dia seguinte à chegada dos Kirchner ao poder em 2003. Ou seja: o caso argentino também envolve empreitera.
O empresário alugava a preços exorbitantes os quartos dos quatro hoteis que os Kirchner construíram desde 2003. Na realidade, os imóveis estavam sempre vazios, mas, na contabilidade, repletos. A suspeita é de que os pagamentos de Báez retornavam aos Kirchner num esquema de corrupção e de lavagem de dinheiro.
A corrupção faz parte do cenário de suspeitas sobre os Kirchner há anos. Somente entre 2003 e 2008, o patrimônio do casal aumentou quase 600%, baseado só no que eles declararam oficialmente.
Há 10 dias, através de manobras judiciais, a família Kirchner conseguiu remover da causa o juiz que estava a ponto de ter acesso às supostas provas desta recente operação de lavagem de dinheiro.
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