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Crise / Oriente Médio

Sudão e Bahrein rompem relações diplomáticas com Irã

O reino do Bahrein e o Sudão romperam nesta segunda-feira (4) as relações diplomáticas com o Irã, menos de 24 horas depois da Arábia Saudita ter anunciado a mesma medida, informou a agência oficial de notícias BNA. Os Emirados Árabes Unidos chamaram o embaixador iraniano para consultas, sinalizando um esfriamento das relações com Teerã. 

Manifestante exibe retrato do xeque Al-Nimr banhado de sangue durante protesto no Bahrein, em 2 de janeiro de 2016.
Manifestante exibe retrato do xeque Al-Nimr banhado de sangue durante protesto no Bahrein, em 2 de janeiro de 2016. REUTERS/Hamad I Mohammed
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O Bahrein, que mantém relações estreitas com a Arábia Saudita, ordenou a todos os diplomatas iranianos que abandonem o reino "em 48 horas". A crise diplomática entre os países sunitas do Golfo e o Irã, maior país xiita da região, foi provocada pela execução do clérigo xiita Nimr Baqer al-Nimr, no último sábado (2), na Arábia Saudita.

Crítico feroz da monarquia sunita, o xeque Nimr foi condenado à morte por "terrorismo antiárabe". A execução gerou uma onda de revolta nos países que abrigam a minoria xiita no Oriente Médio. No Irã, maior potência xiita da região, representações diplomáticas sauditas foram incendiadas.

As relações entre Arábia Saudita e Irã passam por constantes altos e baixos desde a revolução iraniana de 1979, que acabou com a monarquia do xá e instaurou a República Islâmica.

Em um novo episódio de tensão, um grupo não identificado abriu fogo no domingo à noite contra a polícia saudita na cidade natal do líder xiita, onde uma pessoa morreu, informou a imprensa oficial.

Irã acusa Arábia Saudita de alimentar tensão regional

O Irã acusou nesta segunda-feira (4) a Arábia Saudita de agravar as tensões e os confrontos na região. "A Arábia Saudita baseia sua existência na continuidade das tensões e dos enfrentamentos, e tenta resolver seus problemas internos exportando-os ao exterior", disse Hossein Jaber Ansari, porta-voz da diplomacia iraniana. O Irã afirmou que o rompimento das relações diplomáticas decidida pela Arábia Saudita não vai apagar o "erro estratégico" da execução do clérigo xiita saudita Al-Nimr.

O ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, deu 48 horas aos funcionários da representação diplomática iraniana para abandonar o país.Os ataques contra as sedes diplomáticas sauditas são "uma violação flagrante das convenções internacionais", disse o chanceler.

Jaber Ansari replicou, afirmando que o Irã "respeita seus compromissos para proteger as representações diplomáticas, manter sua segurança e a de seus diplomatas".

Irmão de clérigo morto quer o corpo de volta

O irmão de Nimr condenou os ataques contra as sedes diplomáticas sauditas e criticou o fato de o clérigo ter sido enterrado em um cemitério desconhecido. "Rejeitamos e condenamos o ataque contra as embaixadas e consulados do reino no Irã", escreveu Mohammed al-Nimr em uma mensagem em árabe no Twitter. Também pediu que o corpo do "mártir" seja rapidamente entregue à família para um funeral em Awamiya, sua cidade natal no leste da Arábia Saudita.

O vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, criticou o erro estratégico de Riad.
"A Arábia Saudita não poderá provocar o esquecimento do grande erro de ter executado um líder religioso xiita", disse Abdollahian.

De acordo com Abdollahian, a Arábia Saudita "prejudicou os interesses de seu próprio povo e das populações muçulmanas da região com o complô para provocar a queda do preço do petróleo". Teerã considera que Riad teve um papel primordial na queda do preço do petróleo ao manter a produção em um nível muito elevado. As cotações do petróleo estavam elevadas nesta segunda-feira após a decisão saudita de romper relações com o Irã.

Manifestações xiitas

A execução de Nimr Baqer al-Nimr ao lado de outras 46 pessoas, em sua maioria condenadas por "terrorismo", provocou manifestações violentas na comunidade xiita de vários países do Oriente Médio, incluindo Irã, Iraque, Bahrein e Líbano.

No Iraque, atentados a bomba visaram duas mesquitas sunitas no centro do país. O líder xiita radical iraquiano Moqtada Sadr convocou novas manifestações em todo o país. Um religioso sunita também foi abatido por homens armados na cidade de Iskandariy.

A corrente xiita é minoritária no mundo muçulmano, reunindo apenas 10% de seguidores. No Golfo Pérsico, os xiitas estão presentes no Irã, Iraque, Bahrein, Arábia Saudita e Kuait. Comunidades xiitas também são encontradas no Líbano, Iêmen, Síria, Paquistão e Afeganistão. 

Arábia Saudita e Irã: histórico de rivalidade

As relações entre o Irã e a Arábia Saudita foram interrompidas durante quatro anos, entre 1987 e 1991, depois de confrontos violentos entre peregrinos iranianos e sauditas em Meca em 1987.

As duas potências regionais também se enfrentam pelas crises na Síria, Iraque e Iêmen, com trocas de acusações sobre ambições expansionistas.

Em setembro do ano passado, a morte de pelo menos 2.236 peregrinos, incluindo 464 iranianos, em Mina, perto de Meca, aumentou a tensão entre Riad e Teerã.

Rússia oferece mediação na crise

Depois da execução do clérigo xiita, e das manifestações no Irã, o governo dos Estados Unidos pediu às autoridades do Oriente Médio a adoção de medidas para apaziguar a situação.

Antes do rompimento das relações entre os dois países, os governos dos Estados Unidos, França, e Alemanha, assim como a União Europeia e a ONU já haviam manifestado preocupação com o aumento da tensão em uma região afetada por conflitos e guerras.

Nesta segunda-feira, a Rússia (4) se ofereceu como intermediária na disputa entre Arábia Saudita e Irã. "A Rússia está disposta a atuar como intermediária entre Riad e Teerã", disse uma fonte do ministério das Relações Exteriores, sem entrar em detalhes sobre o papel que poderia ser desempenhado por Moscou.

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