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Zika/Pesquisa

Comprovada cientificamente ligação do vírus zika com a microcefalia

Um estudo publicado nesta sexta-feira (4) pela revista americana Cell Stem Cell comprova cientificamente pela primeira vez a ligação do vírus zika com a microcefalia. Segundo as pesquisas feitas em laboratórios, os cientistas descobriram como o zika ataca e destrói as células cerebrais humanas em desenvolvimento.

Mosquito Aedes aegypti é o transmissor do zika vírus.
Mosquito Aedes aegypti é o transmissor do zika vírus. Marvin Recinos/AFP
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Até então, a relação de causa e efeito

não havia sido comprovada cientificamente

. O vírus, no entanto, era suspeito de estar na origem de centenas de casos de microcefalia, principalmente no Brasil. A má-formação cerebral, grave e irreversível, é caracterizada por um tamanho anormal do cérebro e do crânio dos recém-nascidos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê uma propagação "explosiva" dos casos de zika vírus no continente americano, com uma estimativa de 3 a 4 milhões de contaminações este ano. O Brasil, país mais atingido pela epidemia, já contabiliza mais de um 1,5 milhão de casos desde 2015. Desde outubro, 583 casos de microcefalia já foram identificados, ou seja, quatro vezes mais do que a média anual histórica.

Os pesquisadores trabalharam com células-tronco humanas cultivadas in vitro. Eles determinaram como o vírus infecta de maneira seletiva as células-tronco que formam o córtex cerebral e as impedem de se dividir normalmente para formar células novas. Com isso, elas acabam sendo destruídas.

"Os estudos feitos sobre os fetos e os recém-nascidos atingidos pela microcefalia nas regiões infectadas pelo vírus zika deixaram evidentes as anomalias no córtex e o vírus também foi identificado nos tecidos fetais", afirmou em um comunicado Guo-li Ming, professor de neurologia do Instituto de Engenharia celular da Universidade John Hopkins, do estado de Maryland, e co-autor do estudo.

Método de pesquisa

Para realizar os experimentos, os cientistas expuseram três tipos de células ao vírus zika. As primeiras, chamadas de células neuronais progenitoras, são essenciais para o desenvolvimento do córtex cerebral dos fetos. Os efeitos provocados pelo vírus zika nestas células, que ao se diferenciarem se transformam em neurônios, correspondem aos defeitos observados no cérebro de quem tem microcefalia, constataram os pesquisadores.

Os outros dois tipos de células usadas no experimento e expostas ao vírus zika são células-tronco e neurônios.

O vírus zika atacou as células neuronais progenitoras humanas e, três dias depois, 90% delas estavam infectadas e um terço delas acabaram destruídas. Algumas células infectadas também foram usadas pelo zika para se reproduzirem. Além disso, os genes que normalmente se mobilizam para combater os agentes virais invasores não funcionaram, o que é incomum, segundo os cientistas. No entanto, os outros dois tipos de células usadas (células-tronco e neurônios) foram "poupadas" pelo vírus zika.

"Os resultados mostram de maneira muito clara que o zika pode infectar diretamente células neuronais progenitoras in vitro com uma grande eficiência", concluiu o estudo.

"Agora que sabemos como as células neuronais que formam o córtex cerebral são vulneráveis ao zika, elas podem ser usadas para um diagnóstico mais rápido da doença e criar novas terapias potenciais", destacou Hongjun Song, pesquisador do Instituto de Engenharia Celular e também co-autor do estudo.

Fora do feto, o vírus zika, transmitido principalmente pela picada do mosquito Aedes Aegypti, não representa nenhum risco. No pior dos casos, provoca sintomas de gripe ou resfriado, e muitas vezes, passa desapercebido. Casos recentes sugerem que também pode haver contaminação por via sexual.

Na sexta-feira, cientistas da Colômbia informaram ter registrado o primeiro caso de microcefalia ligado ao vírus zika, segundo a revista britânica Nature.
 

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