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Irã

Queda de avião no Irã tornou a situação no país “explosiva”, diz especialista

O governo do Irã anunciou, nesta terça-feira (14), as primeiras prisões realizadas no âmbito da investigação sobre a catástrofe do avião civil ucraniano abatido por engano no território iraniano. O caso provocou indignação e gerou protestos no país. Mas para um especialista na política iraniana ouvido pela RFI, a situação já vinha se deteriorando há anos e a tragédia apenas reforçou a falta de confiança da população nas autoridades locais.

O presidente iraniano Hassan Rohani disse que vai punir os culpados pela tragédia que matou 176 pessoas.
O presidente iraniano Hassan Rohani disse que vai punir os culpados pela tragédia que matou 176 pessoas. Official President website/Handout via REUTERS
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O presidente Hassan Rohani afirmou que seu país deve punir todos os responsáveis pela tragédia. "Para o nosso povo, é muito importante neste acidente que qualquer pessoa que tenha cometido uma falta ou negligência em qualquer nível" seja processada, disse em um discurso na televisão.   

O chefe de Estado considerou impossível "que apenas a pessoa que apertou o botão tenha culpa. Existem outras, e quero que isso seja explicado claramente ao povo". Para isso, Rohani pediu a formação de um "tribunal especial com juízes do alto escalão e dezenas de especialistas" e disse que "o mundo inteiro vai assistir" ao processo.

O líder iraniano também anunciou que pediu esclarecimentos sobre a demora das autoridades em revelar as verdadeiras causas da tragédia. "Eles devem explicar todo o processo para o povo", exigiu, acrescentando que "o mais importante, na minha opinião, é que nosso povo tenha certeza de que esse acidente não se repetirá".

A catástrofe que matou 176 pessoas em 8 de janeiro desencadeou uma onda de protestos nas ruas do país, com manifestantes gritando “morte ao ditador!” e pedindo a demissão dos responsáveis. Porém, o alvo das críticas não é apenas o presidente Rohani, mas também o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Além da Guarda Revolucionária (Pasdaran), uma entidade que não presta contas ao governo, e sim ao guia religioso, e que foi responsável pelo disparo do míssil que derrubou a aeronave.

Autoridades mentiram

“Houve um erro gravíssimo das autoridades iranianas, que mentiram. Então é normal que a população exija explicações”, comenta Thierry Coville, pesquisador no Instituto de Relações Internacionais (Iris), especialista sobre o Irã. No entanto, lembra o especialista, essa não é a primeira vez que a população vai às ruas para contestar o sistema em vigor. “A classe média urbana iraniana é moderna e quer a democracia e o Estado de direito. Ela o diz já há bastante tempo”, avalia, lembrando que desde 2009 algumas manifestações pontuais vêm sendo registradas.

“Até agora, essa classe média fazia algumas concessões, pois acreditava que ao votar em políticos mais moderados, o sistema se abriria mais. No entanto, com a crise econômica inédita que o país atravessa, e o fato de os moderados perderem espaço e os radicais dominarem o Irã, há um sentimento de ódio e frustração e todos esses antagonismos, que já existiam, começam a aparecer”, analisa.

Classe média mobilizada

Coville insiste que, ao contrário dos protestos anteriores, desta vez a mobilização não é apenas das camadas mais populares. Algumas manifestações, lembra o pesquisador, foram iniciadas nas próprias universidades de Teerã.

Segundo o pesquisador, “esse acidente foi um verdadeiro choque. E o interessante é que a situação se inflamou muito rapidamente. Isso quer dizer que a sociedade iraniana está em ebulição”, comenta o especialista. “A situação é explosiva e o governo entendeu que deve reagir para tentar reconquistar a confiança da população”.

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