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O Mundo Agora

Plano de Trump para Israel-Palestina é receita para terrorismos, insurreições e guerras sem fim

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Donald Trump proclamou um plano para resolver o conflito Israel-Palestina. Mas pelo visto não resolveu nada. O presidente americano só negociou com o primeiro-ministro israelense Bibi Netanyahu, por cima das autoridades palestinas e até do establishment israelense.

Os EUA apoiam Israel em inúmeras reivindicações em seu plano de paz
Os EUA apoiam Israel em inúmeras reivindicações em seu plano de paz REUTERS/Ammar Awad
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Foi um “deal” entre duas personalidades que vão enfrentar eleições internas nos próximos meses e utilizam a velha pendenga para dar satisfação às suas bases eleitorais: os evangélicos fundamentalistas nos Estados Unidos e os colonos ultranacionalistas na Cisjordânia. Ninguém sabe ainda o que vai sair das urnas – já é a terceira tentativa de Netanyahu de obter uma maioria improvável no Parlamento. Mas o tiro diplomático pode muito bem sair pela culatra.

Em Israel, os primeiros a não compartilhar a euforia de Bibi, foram os serviços de inteligência e os comandantes de Tzahal (as forças armadas do país). O plano americano prevê – em contrapartida do reconhecimento de um Estado palestino – a anexação por Israel de toda a cidade de Jerusalém, das colônias judias na Cisjordânia e do vale do Jordão na fronteira com a Jordânia.

Trump decidiu passar por cima da legalidade internacional e de todas as resoluções da ONU – como já havia feito, aliás, com o reconhecimento unilateral da soberania israelense sobre as colinas do Golã na Síria. Mais grave é que o suposto “Estado” palestino se reduziria a pequenos enclaves sem continuidade geográfica e sem nenhuma fronteira com qualquer outro país. Totalmente desmilitarizado, ele não teria nenhum controle sobre sua segurança, interna e externa. Seriam pequenos confetes boiando num mar israelense.
Instabilidade na Cisjordânia contaminaria Oriente Médio.

Para militares, perspectivca é catastrófica

Para os militares e serviços de segurança de Israel a perspectiva é catastrófica. Sem a estreita cooperação com os serviços de inteligência da Autoridade palestina, Tzahal seria obrigada a posicionar milhares de homens na Cisjordânia para defender as colônias judias isoladas e manter a ordem, diretamente, nas cidades palestinas. O custo seria exorbitante. Além disso, um falso Estado, totalmente inviável, acabaria por destruir a já frágil representação política dos palestinos.

Sem perspectivas de soberania efetiva, as populações árabes da Cisjordânia poderiam perfeitamente reivindicar o estatuto de cidadãos da democracia israelense, com direitos civis e políticos. Na verdade, o plano Trump encoraja a constituição, a prazo, de um Estado israelense único, do Mediterrâneo ao rio Jordão. Uma ambição dos ultranacionalistas e ortodoxos em Israel, mas um pesadelo para o sonho sionista de um Estado judeu: um país onde os judeus acabariam sendo uma minoria frente às populações árabes que teriam os mesmos direitos.

No final das contas o plano Donald-Bibi aponta para dois desfechos catastróficos. Ou bem a transformação de Israel em um regime de apartheid autoritário reinando sobre uma colcha de retalhos feita de bantustões árabes. Ou então um Estado colonizador que expulsaria os milhões de palestinos para os países vizinhos, sobretudo a Jordânia. Nos dois casos é receita certa para terrorismos, insurreições e guerras sem fim.

Esse tipo de engrenagem político-militar não faz muito sentido para a segurança de Israel na região. Claro, Israel pode contar com reações mais do que moderadas dos principais governos árabes da região, mais preocupados com a ameaça do Irã xiita e dos terroristas islamistas. Boa parte desses governos não está a fim de por em perigo as discretas relações pragmáticas com o governo israelense, só para apoiar os palestinos.

Mas um dos melhores aliados de Israel o reino da Jordânia, já denunciou o plano Trump. Amam não está a fim de encarar a possível chegada de milhões de refugiados palestinos que tomariam conta do país, deslocando as populações beduínas locais e acabando com a monarquia Haxemita. Nem de ter que enfrentar violências contínuas na sua fronteira ocidental. Uma instabilidade geral na Cisjordânia contaminaria ainda mais um Oriente Médio cheio de barris de pólvora explodindo. O brinde de Donald a Bibi tem é cara de presente de grego.

 

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