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Tropas russas chegam ao Cazaquistão, enquanto manifestantes denunciam repressão a revolta social

As tropas russas chegaram nesta quinta-feira (6) ao Cazaquistão para ajudar o poder local a conter a onda de saques e a revolta popular que já deixou dezenas de mortos e centenas de feridos desde o último domingo (2). A mobilização começou em protesto contra a alta dos preços do gás e dos combustíveis, mas também é dirigida ao ex-presidente autoritário Nursultan Nazarbayev, que continua a exercer influência no novo governo. 

Homem passa em frente à sede da prefeitura de Almaty, que foi incendiada por manifestantes revoltados com os sucessivos aumentos dos preços do gás e dos combustíveis no Cazaquistão.
Homem passa em frente à sede da prefeitura de Almaty, que foi incendiada por manifestantes revoltados com os sucessivos aumentos dos preços do gás e dos combustíveis no Cazaquistão. REUTERS - PAVEL MIKHEYEV
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Os manifestantes cazaques denunciam a corrupção endêmica no país e a decepção com o atual presidente Kassym-Jomart Tokaievna, que acusou "grupos terroristas" formados no exterior de estarem por trás dos distúrbios. Esta "versão oficial" causa ainda mais revolta em uma parcela da população que sabe que o Cazaquistão é um dos principais produtores e exportadores mundiais de urânio e petróleo, mas a maioria de seus 19 milhões de habitantes não tira proveito dessa riqueza e sofre com energia cara e outras desigualdades. 

Nesta quinta-feira, após dois dias de saques a instalações públicas, delegacias de polícia, à prefeitura de Almaty, principal cidade do país, e à residência presidencial, Tokaievna fez concessões e estabeleceu um teto para os preços do gás e dos combustíveis, que ficará em vigor por seis meses. Na véspera, ele havia decretado estado de emergência, toque de recolher e iniciou uma 'operação antiterrorista" que resultou, segundo testemunhas, em dezenas de manifestantes mortos a tiros pela polícia. Tokaievna também demitiu o governo e nomeou um primeiro-ministro interino, mas essas ações não acalmaram a fúria dos manifestantes.

Em entrevista à RFI, Cyrille Bret, especialista em Rússia e Ásia Central, conferencista na universidade SciencesPo, avalia que apesar do aspecto inesperado dessa insurreição popular, o grau de violência visto nas manifestações é proporcional à violência política que se perpetua nas ex-repúblicas soviéticas. Ele cita uma situação semelhante no Cazaquistão, Usbequistão e Quirguistão. "São países não democráticos, que geram muita frustração nas pessoas. De tempos em tempos, a única forma que as pessoas encontram para extravasar essa frustração e suas aspirações democráticas é repetindo a mesma forma de violência política", disse o pesquisador.   

Disparos com munição real; dezenas de manifestantes mortos

Até o fim da tarde desta quinta-feira, disparos eram ouvidos no centro de Almaty. A polícia dispersou os participantes dos protestos com munição real. Em cinco dias de distúrbios violentos, o balanço de vítimas seria de 18 mortos entre as forças da ordem e manifestantes e 748 feridos, de acordo com informações de agências de imprensa russas, citando o Ministério do Interior do Cazaquistão. Um policial foi encontrado decapitado. Mas há informações de que dezenas de manifestantes morreram. Ao menos 2.298 pessoas foram presas. 

A mobilização social começou a se espalhar em várias províncias do Cazaquistão, maior país da Ásia Central, no domingo, até tomar conta de Almaty. Em Taldykourgan (sudeste), manifestantes derrubaram uma estátua do ex-presidente Nazarbaiev sob os gritos de "Fora velhote!", denunciando o legado de corrupção do ex-dirigente. Depois de reinar como um líder autoritário durante 30 anos, Nazarbayev deixou o poder em 2019. Mas, aos 81 anos, ele ainda é visto como o mentor do atual presidente Tokaievna. Surpreso pela extensão da revolta, o presidente cazaque pediu ajuda a Moscou.

A Rússia e seus aliados na Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) anunciaram nesta quinta o envio de uma "força coletiva de manutenção da paz" ao país. Composta por tropas russas, bielorrussas, armênias, tajiques e quirguizes, a missão deverá "proteger instalações estatais e militares" e as forças de segurança locais a estabilizar a situação e restaurar o Estado de Direito".

Segundo o cientista político Cyrille Bret, a Rússia dispõe dos meios militares para intervir nesses países e encerrar esse tipo de rebelião. "Mas os meios de influência política nas sociedades civis são locais, derivados dos regimes locais, e Moscou não tem poderes para reprimir as aspirações democráticas das populações desses países", estima o especialista francês. 

Apelo à calma da comunidade internacional

A França, o Reino Unido, os Estados Unidos, a ONU e a União Europeia se revezaram para expressar sua preocupação e exortar as partes a "se absterem da violência". Paris pediu "moderação", Londres, Washington e as Nações Unidas defenderam "uma solução pacífica" da crise, enquanto a UE considerou que o envio de forças russas era um lembrete de "situações a serem evitadas".

Com informações da AFP

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