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França, o primeiro país a reconhecer a “majestade do Rei Pelé”

Mesmo a vitória do Brasil de 5 x 2 contra a França na semifinal da Copa do Mundo de 1958, na Suécia, adiando a chance dos “Bleus” de participarem de uma primeira final em um Mundial, parece não ter abalado em nada o carinho e a admiração dos franceses por Pelé, que cravou nada menos que 3 gols na partida. Mais que isso, o país de Zinédine Zidane foi o primeiro a reconhecer a majestade do craque e a chamá-lo de “Rei”, o que ficaria para sempre na memória do maior jogador de todos os tempos.

A legenda do futebol, Pelé, em Paris, 9 de março de 2014.
A legenda do futebol, Pelé, em Paris, 9 de março de 2014. AFP/Archives
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Andréia Gomes Durão, da RFI

Muitos outros lances marcam a história de amor entre Pelé e a França, primeiro país a se referir a ele como Rei, segundo o próprio Pelé disse em entrevista à RFI, em 2014.

"Desde o início da minha carreira eu tenho as grandes homenagens aqui (na França). Primeiro, foi depois da Copa do Mundo, que foi o apelido de Rei Pelé. Passado algum tempo, veio o 'Atleta do Século'. E Viva o Brasil, que o francês gosta tanto da gente. Então esse é o meu carinho pelo povo francês", afirmou.

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Pelé fala sobre sua relação com a França

Na França, jornalistas do diário esportivo L'Équipe se referiram a Pelé pela primeira vez como Atleta do Século, em 1981. Depois, vieram outras homenagens ao longo da carreira.

Pelé e o PSG

Em 1971, quando o atleta já somava três estrelas em seu uniforme da Seleção Brasileira, o então presidente do recém-fundado Paris Saint-Germain, Guy Crescent, ousou tentar "trazer outra Torre Eiffel para Paris", em suas próprias palavras, ao propor a contratação do craque para o time francês.

Em 22 de junho daquele ano, a possibilidade da transferência do jogador brasileiro era a grande manchete do esportivo L’Équipe: “Pelé em Paris por 9 milhões [de francos]? Possível!”. “O Brasil chocado”, continuava a capa do diário francês.

Apesar de uma primeira recusa de Pelé, o dirigente do PSG embarca para o Brasil anunciando para a imprensa local sua missão de contratar “o melhor jogador do mundo”, se beneficiando das dificuldades financeiras por que passava o Santos na época. A estrela do futebol era a certeza de ver novamente repletas as arquibancadas do Parque dos Príncipes.

O aval do clube paulista, que aceitaria ceder Pelé para a time parisiense durante a temporada de 1972-73, alimentaria ainda mais o sonho francês. Mas seria realmente apenas um sonho. Alegando questões pessoais, o Rei recusa a proposta de jogar no futebol europeu.

“Eu fui convidado para vir para Paris, para jogar aqui. Infelizmente eu tinha compromisso com o Santos, meu contrato não tinha terminado. E eu pretendo terminar minha carreira no Santos Futebol Clube, eu sempre joguei lá. Por isso foi difícil eu vir”, explicava o atleta do século em uma entrevista em Paris em dezembro de 1971.

Pelé, o rei coroado pelo futebol
Pelé, o eterno rei do futebol
Pelé, o eterno rei do futebol AP - Eraldo Peres

Tirar a poeira das chuteiras

Mas Pelé nunca deixou de encantar os franceses. Décadas depois, nomeado embaixador especial do Troféu de Campeão da Fifa, na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, o tricampeão faz escala em Paris durante sua volta por 60 países, e provoca os franceses para uma revanche em terras brasileiras.

“A maior emoção da minha vida começou aqui, quando os jornais franceses me chamaram de 'Rei Pelé'”, comentou uma vez a legenda do futebol.

Mais que desafiar os franceses para a final, em entrevista ao diário Aujourd'hui en France, Pelé afirma que continua sendo o melhor jogador de futebol de todos os tempos, isso enquanto nenhum outro jogador marcar 1.283 gols, ganhar três Copas do Mundo, além de outros títulos. Seria possível?

“É possível, se você contar o PlayStation”, respondeu com humor o francês Kylian Mbappé quando desafiado em uma entrevista na capital francesa, na ocasião em que os dois ídolos do futebol se encontraram pela primeira vez, em 2019.

Mas o desafio já havia se estabelecido bem antes, quando o maior jogador da história reagiu, também com muito humor, à excelente performance da estrela do futebol francês durante a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, quando a França levaria para casa o troféu de melhor do mundo pela segunda vez.

“Se o @KMbappe continuar a igualar os meus recordes assim, eu vou ter que tirar a poeira das minhas chuteiras novamente”, brincou no Twitter a legenda do futebol. Ao que o campeão do Mundial de 2018 respondeu sem hesitar: “O rei sempre será rei”, escreveu Mbappé na mesma rede social.

"Tenho uma história para escrever, isto é apenas o começo. Tenho a intenção de ir muito mais longe", declarou o jogador que contava 19 anos na ocasião, o segundo mais novo a marcar em uma final de Copa do Mundo, atrás apenas do Rei, que tinha apenas 17 anos na Copa de 1958.

"Orem pelo Rei"

Quando o mundo do futebol reunido no Catar rendia homenagens ao Rei, que já se encontrava hospitalizado durante esta Copa de 2022, o ídolo do futebol francês logo voltou a se pronunciar nas redes: “Orem pelo Rei”.

O encontro “mítico” entre os dois craques aconteceu pela primeira vez em Paris, promovido por uma marca de relógios. Emocionado ao lado do jogador considerado o melhor da história do futebol, Mbappé comentou sua admiração pelas qualidades técnicas do brasileiro, principalmente as finalizações, “o que mais me marcou”.

Pelé se referiu a Mbappé como um jogador veloz e destacou como sua maior característica a capacidade de se movimentar em campo com rapidez. Ele tem um “estilo latino, bem brasileiro, pena que não joga no Santos”, declarou o eterno camisa 10.

As comparações entre os dois jogadores já aconteciam durante a Copa da Rússia, mesmo antes da conquista do título pela seleção da França. A revista France Football dedicou sua capa a Pelé e Mbappé, a quem chamaram de “herdeiro” do trono, um “pequeno príncipe”. “Como Pelé há 60 anos, a audácia e o talento do jovem francês arrebataram o mundo”, afirma a manchete.

O Shakespeare do futebol

A admiração na França pela trajetória do Rei Pelé excedeu os gramados e chegou aos quadrinhos. Em 2016, o ídolo do futebol ganha uma biografia em história em quadrinhos pela editora francesa 21g: Le Roi Pelé – L’Homme et la Légende (Rei Pelé – O Homem e a Lenda), com roteiro do jornalista e escritor Eddy Simon e arte de Vincent Brescaglia.

A admiração dos franceses por Pelé não poderia deixar passar em branco as oito décadas vividas pelo Rei, completadas em 2020. "Pelé, os 80 anos de uma lenda que atravessa o tempo", destaca o Le Figaro em sua manchete, que faz uma retrospectiva da carreira do Rei, seus títulos e gols "solidamente cravados em nossas memórias". "Pelé, duas sílabas, é o passaporte de um cidadão do mundo", sintetiza o jornal.

O diário francês não poupa elogios e se refere ao Rei como "um tesouro que se manteve intacto ao longo dos anos, uma viagem nostálgica que uniu gerações". "De Zico a Maradona, de Rivelino a Platini, de Ronaldinho a Riquelme, de Zidane a Messi, a camisa 10 de Pelé permanece única até hoje", continua o artigo, que também exalta sua fidelidade ao Santos.

"Uma pantera, um felino, que pulava mais alto, que corria mais rápido que os outros, que chutava com os dois pés", acrescenta Eric Frosio, correspondente do jornal esportivo L'Équipe no Brasil.

"Pelé é para o futebol o que Shakespeare é para a língua inglesa: ele une tudo", bem definiu o jornal New York Times, em 1977, uma citação reproduzida na matéria do Le Figaro. "Até hoje, Pelé continua sendo um selo, uma ideia de jogo, tão preciosa quanto um antigo disco cuja canção embala os anos ou as primeiras linhas de um livro que nos trazem lembranças de um lugar, uma época, um ser querido", conclui o jornal francês.

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