Otan: “Adesão da Suécia causa problema à Turquia”, diz pesquisador após sinal verde para a Finlândia
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deu sinal verde nesta sexta-feira (17) à entrada da Finlândia na Otan, submetendo ao parlamento turco a ratificação do pedido de adesão do país nórdico, decisão imediatamente saudada pela Aliança Atlântica. "Decidimos iniciar o processo de adesão da Finlândia à Otan em nosso parlamento", declarou Erdogan após uma reunião em Ancara com o presidente finlandês, Sauli Niinistö.
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Por Anne Andlauer, correspondente da RFI em Istambul
O anúncio do presidente turco abre um pouco mais o caminho para a entrada da Finlândia na Aliança, uma vez que sua candidatura já foi aprovada por 28 dos seus 30 Estados-membros.
A Hungria também deve ratificar os pedidos de adesão finlandês e sueco, apresentados em conjunto no ano passado após a invasão da Ucrânia pela Rússia, e que requerem aprovação unânime. O Parlamento húngaro votará sobre a adesão finlandesa em 27 de março, anunciou o porta-voz do governo também nesta sexta-feira.
Erdogan bloqueava desde maio de 2022 a entrada na Aliança Atlântica do país nórdico e, mais ainda, do seu vizinho sueco. A Turquia acusa Estocolmo de passividade em face aos "terroristas" curdos que se refugiaram na Suécia, exigindo extradições que não foram atendidas.
O presidente turco enfatizou a importância do respeito aos compromissos constantes do memorando assinado em junho de 2022 em Madrid. O texto exigia que a Finlândia – e também a Suécia – cooperasse mais com a Turquia em sua luta contra o “terrorismo”.
Terrorismo
“Ao assinar este memorando tripartido, afirmamos a necessidade de eliminar as legítimas preocupações de segurança da Turquia. No último período, vimos que a Finlândia deu passos sinceros e concretos para cumprir seus compromissos. Dado o progresso feito, decidi iniciar o processo de ratificação do protocolo de adesão da Finlândia à Otan”, justificou Erdogan.
Mas o chefe de Estado turco, que continua a impedir a candidatura sueca, reconheceu as "medidas concretas" tomadas por Helsinque nos últimos meses. "Espero que [a ratificação] ocorra antes das eleições", disse Erdogan durante uma coletiva de imprensa com seu colega finlandês.
As eleições presidenciais e legislativas da Turquia estão marcadas para 14 de maio, mas o parlamento turco deve suspender seus trabalhos cerca de um mês antes da votação. "Esperamos que o parlamento [turco] tenha tempo", afirmou o presidente finlandês, descrevendo o processo como "muito importante para a Finlândia".
A Finlândia, sujeita à neutralidade forçada por Moscou após seu conflito com a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial, compartilha a maior fronteira europeia (1.340 km) com a Rússia, atrás apenas da Ucrânia. Niinistö, no entanto, julgou que "a candidatura da Finlândia não está completa sem a da Suécia".
Sinal importante
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que "recebeu" o anúncio de Erdogan, revelou que "o mais importante é que a Finlândia e a Suécia rapidamente se tornem membros plenos da Otan, e não que venham a aderir exatamente ao mesmo tempo".
❝I welcome today’s decision by Türkiye to move ahead with the ratification of Finland’s membership in NATO. This will strengthen Finland’s security, it will strengthen Sweden’s security, and it will strengthen NATO’s security.❞
— NATO (@NATO) March 17, 2023
— Secretary General @jensstoltenberg
O Ministério das Relações Exteriores da França, em comunicado à imprensa, descreveu os anúncios de Ancara e Budapeste como um “sinal importante”. Paris "espera" que a Turquia e a Hungria "também prossigam sem demora" para a ratificação do protocolo de adesão da Suécia à Otan, continuou o texto.
A situação é mais delicada para a Suécia, que ainda enfrenta objeções de Ancara. "Não houve nenhuma ação positiva tomada pela Suécia em relação à lista de terroristas", lamentou Erdogan na sexta-feira, referindo-se a mais de 120 pedidos de extradição feitos por Ancara, em particular membros suspeitos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão).
O ministro das Relações Exteriores da Suécia, Tobias Billström, lamentou pouco depois que seu país ainda estivesse esperando o sinal verde da Turquia, acrescentando, no entanto, que a Suécia estava "preparada" para que a Finlândia o recebesse antes dela.
Segurança
Entre os dispositivos que Ancara poderia usar para influenciar sua posição está o acesso da Turquia a armamentos. “É sobretudo a adesão da Suécia que causa problema à Turquia (...) Um dos principais pontos que preocupa Ancara neste momento é o fato de não poder renovar sua frota aérea de combate”, estima Jean Marcou, professor da Sciences-Po de Grenoble e pesquisador associado do Instituto Francês de Estudos de Anatólia, em Istambul.
Os Estados Unidos "saudaram" a ratificação anunciada pela Turquia da adesão da Finlândia, e também "encorajaram" o país a ratificar "rapidamente" a da Suécia, de acordo com o conselheiro de Segurança da Casa Branca, Jake Sullivan.
A queima de um Alcorão por um extremista na capital sueca em janeiro levou à suspensão das negociações entre Ancara, Helsinque e Estocolmo. O presidente turco deu a entender que a Turquia estava pronta para ratificar a adesão da Finlândia separadamente, embora os dois países inicialmente quisessem avançar "de mãos dadas".
Na terça-feira (14), o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, reconheceu que a probabilidade de seu vizinho ingressar na Otan antes da Suécia "aumentou" ultimamente. Kristersson, no entanto, continua esperançoso de concluir a entrada de seu país na Aliança antes da próxima cúpula da Otan marcada para julho em Vilnius, capital da Lituânia.
(Com informações da AFP)
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