Acessar o conteúdo principal

Papa Francisco toma decisão rara e demite bispo conservador dos EUA por criticar o papado

Em uma rara decisão, o Papa Francisco demitiu o bispo americano Joseph Strickland, um proeminente conservador que foi removido de seu posto depois de criticar repetidamente o papado, anunciou o Vaticano no sábado (11).

O papa Francisco demitiu, no sábado (11), o bispo estadunidense Joseph Strickland, que é altamente crítico ao papado atual.
O papa Francisco demitiu, no sábado (11), o bispo estadunidense Joseph Strickland, que é altamente crítico ao papado atual. via REUTERS - VATICAN MEDIA
Publicidade

"O Santo Padre destituiu Joseph E. Strickland do governo pastoral da diocese de Tyler (Estados Unidos)", anunciou o Vaticano em um comunicado à imprensa, algumas semanas depois que Francisco enviou dois bispos americanos para a diocese de Strickland no Texas em junho.

O bispo de Austin, Joe Vasquez, foi nomeado novo administrador apostólico da diocese, continuou o comunicado, sem dar mais detalhes.

De acordo com os comentaristas de assuntos do Vaticano, é extremamente raro que um bispo seja diretamente destituído de suas responsabilidades, em vez de ser incentivado ou convocado a renunciar.

Em um post publicado em seu site em setembro, o bispo Strickland respondeu aos rumores de que o Vaticano o estava incentivando a renunciar. "Não posso renunciar como bispo de Tyler, pois isso seria equivalente a abandonar o rebanho sob meus cuidados", escreveu ele.

"Também afirmei que respeitarei a autoridade do papa Francisco se ele me remover como bispo de Tyler", adicionou.

Strickland ainda não fez nenhum comentário imediato sobre sua demissão, que foi anunciada no sábado, enquanto ele ainda estava nos EUA. Em seu blog, em setembro, ele escreveu: "Eu amo Jesus Cristo e a Igreja Católica que ele estabeleceu". E continuou, "Meu único desejo é falar sua verdade e viver a vontade de Deus da melhor forma possível".

Uma atitude reacionária

O Vaticano não especificou o que desencadeou a visita apostólica deste verão (inverno no hemisfério sul) ou a que conclusões ela chegou.

O bispo Strickland, nomeado pelo antigo Papa Bento 16 em 2012, foi um dos críticos mais proeminentes do Papa Francisco.

O papa argentino de 86 anos tem procurado tornar a Igreja mais compassiva e aberta a diferentes pontos de vista. Mas ele enfrentou uma oposição feroz de seus críticos, especialmente nos Estados Unidos, que o acusaram de causar confusão e desrespeitar as crenças fundamentais dos católicos.

Em uma mensagem publicada no início deste ano no X (antigo Twitter), o Strickland acusou Francisco de "minar o depósito da fé". Muitos de seus críticos acusam Francisco de não ser suficientemente firme na questão do aborto e de ser muito compreensivo com homossexuais e divorciados.

Em uma reunião de jesuítas em Lisboa, Francisco deplorou a "atitude altamente reacionária" de alguns católicos nos EUA. Ele disse que olhar para o passado "é inútil e (devemos) entender que há uma evolução apropriada na maneira de entender as questões de fé e moral".

A decisão de demitir o bispo Strickland também foi anunciada pela Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, em uma declaração tão concisa quanto a do Vaticano.  

Diocese de Tyler tem mais de 120 mil católicos em uma população total de mais de 1,4 milhão, de acordo com a conferência. Por sua vez, a diocese publicou uma declaração em seu site confirmando o anúncio do Vaticano, acrescentando: "Nosso trabalho como Igreja Católica no nordeste do Texas continua".

Visão progressiva e inclusiva de Francisco é mal vista por conservadores 

Recentemente, em outubro, 21 novos cardeais foram ordenados por Francisco. Papa Francisco também tomou atitudes raras nessa ordenação, na qual cinco cardeais foram latino-americanos, três argentinos, um colombiano e um venezuelano. Houve também nomeação de um cardeal da Malásia e outro do Sudão do Sul, países que nunca tiveram um cardeal antes no Vaticano. Há também uma dimensão política nesta ordenação com a inclusão de um cardeal de Hong Kong.

Ainda em outubro, na 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos da Igreja Católica, o papa Francisco ficou em alta ao abrir pela primeira vez na história o voto feminino em um sínodo. Ato que recebeu elogios de alas mais progressistas da Igreja, mas, por outro lado, inúmeras críticas dos conservadores. 

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.